Conjuntura: Preços baixos da commodity podem barrar crescimento da cultura em regiões não tradicionais
O norte de Minas, em conjunto com os Vales do Jequitinhonha e do Mucuri, ainda representam uma ínfima parte da produção de café no Estado - em torno de 37 mil hectares, ante um total de 1,037 milhão em 2013, e uma produção de apenas 726 mil sacas, contra uma safra estadual de 26,158 milhões, de acordo com a secretaria estadual de Agricultura. Mas a região atraiu nos últimos anos investimentos e pesquisas para obter materiais de cultivo mais adaptados às condições locais.
Mas, apesar dos recentes aportes, como o do grupo Montesanto Tavares, que desde 2011 adquiriu 2 mil hectares em Capelinha e Angelândia, no Vale do Jequitinhonha, os atuais preços baixos da commodity deverão inibir novos projetos na região, avalia Sérgio Meirelles Filho, do Café Aranãs. Embora os cafeicultores da região não estejam abandonando a atividade, diante também da falta de opções - a região não tem vocação para grãos -, observa Meirelles.
O produtor tem 122 hectares com café em produção em Capelinha. Este ano, a colheita rendeu aproximadamente duas mil sacas. A produtividade média na região, conforme ele, é de 32 sacas por hectares, enquanto suas áreas no Sul de Minas rendem de 27 a 28 sacas por hectare. O solo é considerado mais fértil do que no sul mineiro.
Meirelles conta que o cultivo do grão na região começou na década de 1970, com produtores de outros Estados e do sul de Minas Gerais fugindo das geadas. Foi o caso de seu pai, que fincou os pés no vale no início dos anos 1980. O perfil do cafeicultor do local é de médio porte, com uma média de 100 hectares.
O cafeicultor participa de experimentos de variedades de café com a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), que incluem cultivares exóticas com atributos de sabor, pois aposta na produção de cafés especiais, inclusive do produto industrializado. Meirelles também mantém uma torrefação pequena.
Os experimentos da Epamig com o café na região foram implantados há cerca de cinco anos. Algumas cultivares - desenvolvidas pelo programa de melhoramento genético da instituição com a colaboração de diversas entidades, como a Embrapa, que formam o Consórcio do Café - se adaptaram bem às condições naturais da região. É o caso da Catiguá MG2, recomendada para a produção de cafés especiais.
Uma outra variedade, a Aranã, está em fase de registro junto ao Ministério da Agricultura, afirma César Botelho, pesquisador da Epamig. Na sua avaliação, o Vale do Jequitinhonha já conta com produtores tecnificados.
Em outra localidade próxima ao Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas, o cafeicultor Edmundo Coutinho Aguiar se juntou a outros produtores do grão que atuavam em Patrocínio, no Cerrado Mineiro, e em 2000 iniciou um projeto de produção de café em Pirapora.
O projeto foi desenhado para ter dois mil hectares com o grão. Atualmente, são 600 hectares, sendo 500 em produção com média de rendimento de 50 sacas por hectare. A primeira colheita, por sua vez, rende até 80 sacas por hectare. O projeto, 100% irrigado, foi em sua maior parte financiado pelo Banco do Nordeste, com custo de implementação de cerca de US$ 12 mil por hectare.
Mesmo com a volatilidade do mercado de café e dos preços baixos atuais, Aguiar diz que os planos são aumentar em mais 400 hectares a área - e chegar a 1 mil hectares -, mas a expansão vai depender da disponibilidade de crédito dos bancos. "O projeto está se pagando, temos um custo bastante competitivo e qualidade boa do café", afirma. O custo de produção, fora os encargos financeiros, é de cerca de R$ 200 por saca, com a vantagem de as lavouras já começarem a produzir a partir de dois anos e meio, conta Aguiar.
Apesar dos planos de aumentar a produção de café, o produtor confirma que a expansão na região vem em ritmo menor do que se imaginava inicialmente. Já na opinião de João Ricardo Albanez, superintendente de Política e Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura de Minas, as regiões não tradicionais de cultivo em Minas, como o Vale do Jequitinhonha, apresentam grande risco climático e não representam grande potencial de expansão.
Valor Econômico - 25/10/2013 - Agronegócios - Página B19
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