Polêmica remoída, a experimentação animal sempre desperta contendas acirradas. Atos recentes de grupos que defendem os direitos dos animais trouxeram o debate novamente à tona.
Henrique Kugler
Henrique Kugler
Se as regras forem seguidas à risca, cientistas devem se esforçar ao máximo para que animais não sofram – ou sofram o menos possível – durante experimentos científicos
Qualquer ser humano com os miolos no lugar é avesso à ideia de maltratar um animal – seja ele qual for. E cientistas, ao que tudo indica, são seres humanos. Logo, eles próprios devem repudiar atos causadores de sofrimento a seres inocentes e indefesos.
Nos últimos dias, no entanto, o uso de animais em pesquisas científicas voltou a ser fortemente repudiado por grupos defensores dos direitos dos bichos. Acirrados debates acerca desse polêmico tema pululam na esfera pública.
Onde estará o ponto de equilíbrio que norteará os valores éticos e morais de nosso desenvolvimento científico?
Mas cuidado: um falso maniqueísmo tem sido propalado por contendores desavisados e desinformados. Alega-se que, de um lado, existem cientistas perversos – que, em seus jalecos brancos impessoais ofuscados pela sedução do progresso científico, seriam insensíveis ao sofrimento da bicharada. E, no extremo oposto, estariam militantes inoportunos – estereótipos de bicho-grilo e defensores de causas perdidas, vegetarianos ou não, que prezam por uma ética universal sem se dar conta de que as próprias vacinas que tomaram quando bebês foram testadas em bichinhos fofos que hoje defendem e querem libertar.
Não é raro toparmos com esse tipo de generalização falha. Mas tanto cientistas concordam que o sofrimento animal deve ser evitado ao máximo; quanto militantes e afins entendem o fato de que a ciência, além de prezar pela ética, muitas vezes depende desses experimentos para seguir em frente.
A questão é: onde estará o ponto de equilíbrio que norteará os valores éticos e morais de nosso desenvolvimento científico?
Ponderações
Fato é que laboratórios precisam seguir rigorosas normas para que, em todas as fases das pesquisas, seja garantido o bem-estar dos bichos. E, sempre que possível, pesquisadores buscam métodos alternativos para evitar o uso de animais. Por exemplo: eles podem utilizar culturas de células, tecidos e mesmo programas de computador para simular os processos biológicos que querem estudar. “Somente em último caso recorre-se ao uso de animais”, diz Faria Neto. “E, quando isso acontece, eles devem ser muito bem tratados.”
“Se algum procedimento mais delicado for necessário, eles deverão estar sob efeito de anestésicos ou analgésicos”, conta o médico da Fiocruz. “É preciso evitar qualquer tipo de sofrimento desnecessário.”
Nem éticos, nem hipócritas
É desgastante lembrar que novos tratamentos, remédios e curas dependem em grande parte de trâmites que envolvem experimentação animal. Igualmente enfadonho é dizer que certos valores éticos e morais são inquebrantáveis e imprescindíveis para a dignidade da condição humana. Somados esses dois fatores, estão lançadas as bases de um infindável debate.
Faria Neto: “Nos últimos vinte anos, houve diminuição significativa do uso de animais em experimentos científicos”
Para muitos, a questão não é 'se' devemos ou não parar de utilizar animais em experimentação. E sim 'quando' e 'como' esse passo será dado. “Nos últimos vinte anos, temos avançado muito nessa questão; houve diminuição significativa do uso de animais em experimentos científicos”, conta o pesquisador da Fiocruz. A tendência, segundo ele, é usarmos cada vez menos animais nas pesquisas.
Faria Neto destaca ainda a necessidade de diferenciar a pesquisa médica daquela que visa ao desenvolvimento de novos cosméticos. E pondera: “Antes de usarmos um animal, devemos sempre nos perguntar qual é a real relevância daquela pesquisa para a sociedade.”
Henrique Kugler
Ciência Hoje On-line
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