Para testar a motivação real da compra, verifique se alguma
escola particular gasta milhões de reais para adquirir a
Veja, a Folha ou o Estado.
A internet está agitada por conta de uma compra de alguns milhares de assinaturas da Veja, da Folha e do Estadão pelo governo do Estado de São Paulo.
É dinheiro público, extraído do orçamento da educação. As publicações supostamente vão ser lidas pelos alunos das escolas públicas de São Paulo, e isso os ajudará em sua formação.
Isso mitigaria, pelo menos em parte, o problema de a compra haver sido feita sem licitação.
Mas não é exatamente isso.
O que ocorreu é a chamada ação entre amigos, em que as partes – empresas jornalísticas e políticos - trocam favores usando o dinheiro do contribuinte.
É uma prática velha, e que graças à internet vai sendo cada vez mais exposta aos brasileiros.
Vivi, na editora Globo, uma situação exemplar.
Era 2007, e eu acabara de ser contratado para ser diretor editorial das revistas da Globo.
A principal delas, a Época, era singularmente gentil com um governador da região norte.
Esse governador, fiquei sabendo depois, comprava grandes lotes de livros da Globo, o que vinha ajudando substancialmente a editora a dar lucros.
Demos, na revista, uma denúncia contra ele. Instalou-se uma confusão. Ele foi a São Paulo para falar comigo e com o então diretor geral da editora, Juan Ocerin.
A conversa não poderia ter sido pior. Ele foi grosseiro, e eu disse que não admitia que uma visita falasse naquele tom ali, numa sala ao lado da redação da Época.
Ele saiu da sala com uma ameaça. “Vou conversar com o João Roberto”. João Roberto era e é João Roberto Marinho, o filho do meio de Roberto Marinho, aquele que é o editor de fato das Organizações Globo.
Não sei se falou.
Antes de ir embora, ele se avistou com o diretor de publicidade da editora, que era seu interlocutor nas negociações de compras de lotes de livros.
Nova confusão. Desta vez, o resultado foi uma conversa a três: Ocerin, eu e o diretor de publicidade.
Em alguns minutos, depois de palavras ríspidas, eu disse ao diretor de publicidade que jamais voltaria a falar com ele.
E de fato não voltei.
Foi contratado um novo diretor de publicidade, e ele me disse que várias vezes Ocerin se queixou dele por não ter o acesso mágico àquele governador para que aportasse dinheiro na editora em momentos de seca.
O que se fazia na editora Globo é uma coisa parecida com a compra de lotes de publicações por Alckmin.
Ninguém fala, mas está entendido que o governo espera alguma simpatia na cobertura editorial.
Do ponto de vista estritamente lógico, alguém consegue imaginar jovens estudantes lendo a Veja, a Folha ou o Estadão, para apreciar os artigos de Dora Kramer, Maílson da Nóbrega e Pondé?
É uma geração digital, divorciada por completo da mídia impressa.
Para testar a motivação real da compra, verifique se alguma escola particular gasta milhões de reais para adquirir a Veja, a Folha ou o Estado.
É, repito, uma ação entre amigos.
Mas quem paga a conta é o contribuinte.
É dinheiro público, extraído do orçamento da educação. As publicações supostamente vão ser lidas pelos alunos das escolas públicas de São Paulo, e isso os ajudará em sua formação.
Isso mitigaria, pelo menos em parte, o problema de a compra haver sido feita sem licitação.
Mas não é exatamente isso.
O que ocorreu é a chamada ação entre amigos, em que as partes – empresas jornalísticas e políticos - trocam favores usando o dinheiro do contribuinte.
É uma prática velha, e que graças à internet vai sendo cada vez mais exposta aos brasileiros.
Vivi, na editora Globo, uma situação exemplar.
Era 2007, e eu acabara de ser contratado para ser diretor editorial das revistas da Globo.
A principal delas, a Época, era singularmente gentil com um governador da região norte.
Esse governador, fiquei sabendo depois, comprava grandes lotes de livros da Globo, o que vinha ajudando substancialmente a editora a dar lucros.
Demos, na revista, uma denúncia contra ele. Instalou-se uma confusão. Ele foi a São Paulo para falar comigo e com o então diretor geral da editora, Juan Ocerin.
A conversa não poderia ter sido pior. Ele foi grosseiro, e eu disse que não admitia que uma visita falasse naquele tom ali, numa sala ao lado da redação da Época.
Ele saiu da sala com uma ameaça. “Vou conversar com o João Roberto”. João Roberto era e é João Roberto Marinho, o filho do meio de Roberto Marinho, aquele que é o editor de fato das Organizações Globo.
Não sei se falou.
Antes de ir embora, ele se avistou com o diretor de publicidade da editora, que era seu interlocutor nas negociações de compras de lotes de livros.
Nova confusão. Desta vez, o resultado foi uma conversa a três: Ocerin, eu e o diretor de publicidade.
Em alguns minutos, depois de palavras ríspidas, eu disse ao diretor de publicidade que jamais voltaria a falar com ele.
E de fato não voltei.
Foi contratado um novo diretor de publicidade, e ele me disse que várias vezes Ocerin se queixou dele por não ter o acesso mágico àquele governador para que aportasse dinheiro na editora em momentos de seca.
O que se fazia na editora Globo é uma coisa parecida com a compra de lotes de publicações por Alckmin.
Ninguém fala, mas está entendido que o governo espera alguma simpatia na cobertura editorial.
Do ponto de vista estritamente lógico, alguém consegue imaginar jovens estudantes lendo a Veja, a Folha ou o Estadão, para apreciar os artigos de Dora Kramer, Maílson da Nóbrega e Pondé?
É uma geração digital, divorciada por completo da mídia impressa.
Para testar a motivação real da compra, verifique se alguma escola particular gasta milhões de reais para adquirir a Veja, a Folha ou o Estado.
É, repito, uma ação entre amigos.
Mas quem paga a conta é o contribuinte.
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