ESCRITO POR RÁDIO LIVRE USP |
SEGUNDA, 23 DE JUNHO DE 2014 |
Em uma sociedade cuja matriz estrutural da Comunicação é o latifúndio eletromagnético, mentiras são legitimadas e verdades escondidas, conforme os interesses da classe empresarial detentora dos veículos de comunicação. Um grupelho ínfimo, que se escora no nebuloso esquema de concessões
públicas, corporativismo e lobby pauta diariamente quais serão as ideias difundidas e quais serão as opiniões ou realidades omitidas no noticiário de grife.
As relações de cooperação entre o empresariado não são novidade no Brasil. Não é comum a divulgação de informações sobre os processos, dívidas, falências, calotes, conchavos em que a família Frias (Folha de S. Paulo), a família Marinho (Globo), a família Saad (Band), a família Abravanel (SBT), ou a família Macedo (IURD/RECORD) estão envolvidas. Isso pra falar apenas de São Paulo.
Por que não é de conhecimento geral, por exemplo, o fato de a Rede Globo estar sofrendo investigação da Polícia Federal por conta da sonegação de mais de 1 BILHÃO de REAIS ao fisco, dinheiro transferido a contas bancárias abertas nas Ilhas Virgens Britânicas por uma empresa laranja, responsável pela compra dos direitos de transmissão da Copa da FIFA de 2002.
Não são poucos os casos de pessoas e grupos que monopolizam ao mesmo tempo meios de televisão, rádio, jornais, portais de internet, entre outros, criando a falsa sensação de uma variedade de fontes e vozes, mas que apenas repercutem e ecoam as mesmas “verdades editoriais” criadas às escuras nas salas de reunião regadas a dinheiro e hipocrisia.
Será irreal supor a existência de uma cooperação de classe entre empresários do transporte e da comunicação? Basta lembrarmos da cobertura absolutamente oportunista e tendenciosa praticada pelos veículos empresariais de comunicação sobre as greves dos motoristas e cobradores de
ônibus e, posteriormente, dos metroviários de São Paulo. De acordo com a perspectiva destas emissoras, o desvio de milhões de reais no metrô e na CPTM, o preço e as condições dos serviços oferecidos não causam prejuízo a ninguém. Já as reivindicações de trabalhadores(as) são sempre
repercutidas como sabotagem criminosa. De onde viria um discurso tão orquestrado e afinado senão da mesma teia de interesses patronais?
Comunicação e Transporte são exatamente os dois setores de atuação do poder público em que este menos se faz presente e transparente. O caso da tarifa zero é gritante: exigir que o transporte seja tratado como direito, e não como negócio, é alucinação? Cobrar responsabilidade social daqueles que lucram com uma necessidade da população trabalhadora é delinquência?
Pressionar o Estado para que faça valer o direito constitucional de ir e vir, mesmo para aqueles que não têm R$3,00 no bolso, é um delírio juvenil? As poucas, mas poderosas vozes dos donos da mídia transformam a gratuidade no transporte coletivo em um “privilégio” impensável.
Estamos na rua, pois, acreditamos que os mais ricos devem contribuir para ajudar a financiar um transporte gratuito e de qualidade para a população que precisa de ônibus, metrô e trem.
Estamos na rua, pois, acreditamos que o monopólio da Comunicação também deve ser cobrado e combatido, pois assim como a luta pela tarifa zero representa democratização do direito de ir e vir, a luta contra o monopólio da mídia empresarial representa democratização do direito à informação e à liberdade de expressão!
A Rádio Livre da USP faz parte do projeto Copa 412, coletivo de mídias reunidos pela Revista Vaidapé pra produção de conteúdo independente durante a Copa do Mundo 2014.
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terça-feira, 24 de junho de 2014
Por que a mídia não quer tarifa zero?
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