segunda-feira, 30 de junho de 2014

CENTRO DE CAFÉ ALCIDES CARVALHO



A história do Centro de Café "Alcides Carvalho" confunde-se com a própria história do Instituto Agronômico, fundado em 27 de junho de 1887 para assistir tecnicamente ao desenvolvimento da cafeicultura nacional.
Em 1923 foi criada a Seção de Café, cujas atribuições relacionavam-se aos estudos de aspectos fitotécnicos da cultura. Poucos anos depois, em 1929, com a criação da Seção de Genética, tiveram início os trabalhos de genética e melhoramento do cafeeiro, sob a orientação do Dr. Carlos Arnaldo Krug. Em 1932 foi estabelecido um amplo programa de pesquisas com o cafeeiro envolvendo várias áreas. Pesquisadores renomados participaram ativamente dos trabalhos de pesquisa com o cafeeiro na equipe liderada por Alcides Carvalho depois de 1935 e, colaboraram de forma efetiva para o desenvolvimento econômico e social do país. Na década de 90, a antiga Seção de Café e parte da Seção de Genética foram reunidas, dando origem ao Centro de Café e Plantas Tropicais do IAC, que passou, em 2001, a se chamar Centro de Análise e Pesquisa Tecnológica do Agronegócio do Café "Alcides Carvalho".

O cafeeiro foi introduzido no Brasil em 1727 tendo chegado a São Paulo pelo Vale do Paraíba e atingido a região de Campinas em 1810. De início, o cafeeiro teve características de uma cultura nômade graças ao desconhecimento da necessidade da reposição de nutrientes e de métodos de conservação de solo. Assim, o cultivo do café migrou constantemente à procura de novas terras, ricas em matéria orgânica e produtivas, que se tornavam esgotadas logo nos primeiros anos de exploração. A produção, entretanto aumentava de modo surpreendente, principalmente pela adaptação das plantas às condições de solo e clima e também pelo constante aumento da área plantada. O Estado de São Paulo tornou-se o centro da economia do país. Em 1887, foi criada, por solicitação geral dos produtores do estado, a Estação Imperial de Campinas, que posteriormente viria se chamar Instituto Agronômico de Campinas - IAC.
Na década de 1920 o IAC já recomendava aos cafeicultores a adubação do solo mediante o emprego de farinha de peixe, de escórias de alto forno e de pequenas quantidades de salitre do Chile. Além disso, recomendava técnicas para o preparo do solo, para o controle de pragas e doenças e também para processamento pós-colheita do café. Do IAC obtinham-se orientações para a melhor condução da secagem em terreiros e armazenamento em tulhas de madeira, e também para o beneficiamento, preparando o café beneficiado para a exportação, livre de impurezas, com uniformidade e sabor. Na década de 1930, iniciou-se a experimentação com delineamentos estatísticos, com aplicação de maiores quantidades de fertilizantes, afastando a adubação do empirismo.
No início dos anos 50, o IAC realizou os primeiros estudos sobre a adequação dos cafeeiros às diversas condições climáticas, incluindo a microclimatologia, relacionada a conceitos e métodos de defesa contra geadas. Hoje, o IAC conta com um acervo de informações meteorológicas de mais de cem anos. A contribuição do instituto nessa área contempla o zoneamento climático para a cafeicultura no estado de São Paulo, modelos agrometeorológicos para a previsão de safra, estudos do efeito do clima na fisiologia dos frutos, bem como estudos de ações mitigadoras do efeito do aquecimento global sobre a cafeicultura.
Na década de 1960 intensificaram-se as análises químicas do solo e de folhas dos cafeeiros, permitindo melhor entendimento da produção, e adequação das quantidades de fertilizantes recomendadas. Nessa época, IAC passou a dar maior ênfase também à correção da acidez do solo pela aplicação do calcário.
Em 1958 um experimento realizado em "solo de cerrado" em Batatais, cujos resultados foram publicados em 1976, mostrou a possibilidade do cultivo do café em solos pobres mediante a aplicação de calcário e fertilizante químicos. O experimento foi alvo de incontáveis excursões de interessados, de todas as regiões do país, que nos anos seguintes iniciaram o plantio de café nos "solos de cerrado" da região de Franca, e, posteriormente, ocuparam com sucesso outras áreas tidas como improdutivas das regiões de Minas Gerais e outros Estados vizinhos.
O desenvolvimento da cultura do café em áreas de cerrado, com topografia tipicamente plana, incentivou o desenvolvimento da mecanização da colheita, com sensivelmente redução do custo de produção. Os primeiros estudos com colhedeira mecânica foram realizados pelo IAC, que na década de 1970 importou e adaptou para a colheita de café uma colhedeira mecânica de cerejas. Posteriormente, o projeto foi transferido à iniciativa privada.
Projetos de pesquisas biológicas tiveram início na década de 1930. Até então, os cafezais de São Paulo eram formados com sementes derivadas de cultivares importadas, sem nenhuma seleção específica, a não ser aquela feita pelos próprios agricultores, que consistia na seleção de plantas dos talhões mais produtivos da propriedade. A semeação direta, que, então, se fazia com 30 a 40 sementes por cova, naturalmente permitia a seleção das mudas mais vigorosas, mais sadias e de mais rápido desenvolvimento. Nessa época, objetivando melhor conhecimento dos aspectos biológicos básicos do cafeeiro, iniciaram-se os estudos sobre a taxonomia e evolução das cultivares e espécies de Coffea, sobre a estrutura das inflorescências e das flores, bem como sobre a biologia floral. Naquela época iniciaram-se também as análises de mutações somáticas, citológicas e genéticas. Os conhecimentos adquiridos nessas áreas têm sido desde então aplicados ao melhoramento das principais cultivares de C. arabica, na síntese de novas estruturas genéticas e no aproveitamento de espécies selvagens de Coffea para fins de melhoramento. Em todos os casos tem-se em vista a obtenção de progênies ou linhagens com boas características agronômicas, aliadas a elevadas produções, e com produto de boa qualidade. Todas essas pesquisas requerem tempo e investimento, mas são imprescindíveis para o progresso da cafeicultura.
Esse extenso programa de genética e melhoramento do cafeeiro que vem sendo desenvolvido no Instituto Agronômico de Campinas desde 1932, até o presente momento gerou um grande número de cultivares que vêm sendo lançadas e recomendadas para o plantio nas mais diversas regiões cafeeiras do estado de São Paulo e do Brasil. Estima-se que 90% dos mais de 4 bilhões de cafeeiros arábicos do Brasil, sejam provenientes de cultivares desenvolvidos pelo IAC. E alguns são a base da cafeicultura de outros países, muito embora não sejam mais plantados em escala comercial no Brasil. Esse é o caso dos cafés Caturra Vermelho IAC 477 e do Caturra Amarelo IAC 476, que foram selecionados no IAC a partir de 1937. Várias outras cultivares de café com origem no IAC, apesar de atualmente não serem mais recomendados, tiveram importância marcante na história da cafeicultura nacional.
Da cultivar Típica, introduzida no país em 1727, às atuais cultivares de porte mais compacto e resistentes a moléstias, um ganho de 240% de produtividade foi acumulado pelo contínuo processo de seleção.
O lançamento das cultivares Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo de porte baixo, rústicas e de alta produtividade pelo IAC no início da década de 70, modificou sistemas de produção e permitiu a utilização de novas áreas para a cafeicultura. As duas cultivares aumentaram a lucratividade e também viabilizaram o cultivo de café em regiões outrora improdutivas, como a enorme área de cerrado, não só em São Paulo como também no Triângulo Mineiro. Nesse aspecto, as cultivares Mundo Novo, disponibilizada a partir de 1952, e Acaiá, lançada em 1968, também merecem destaque.
O lançamento, em 1992, das cultivares de porte alto e resistentes à ferrugem, Icatu Vermelho, Icatu Amarelo e Icatu Precoce, representou considerável economia para os produtores e sensível redução dos riscos relacionados à poluição ambiental e à saúde dos agricultores e consumidores. O mesmo se aplica às cultivares Obatã e Tupi, de porte baixo e com resistência a Hemileia vastatrix, indicadas, a partir de 2000 para plantios adensados, superadensados, adensados mecanizáveis ou em renque. No mesmo ano foi lançada a cultivar Ouro Verde, de porte baixo mas suscetível à ferrugem. Estas três cultivares têm sido bastante importantes para a cafeicultura moderna, tanto para pequenos produtores, que praticam a cafeicultura familiar, como para grandes empresários.

Nenhum comentário:

Postar um comentário