RBS

Cláudio Galeazzi foi contratado pela família Sirotsky
para salvar a Rede Brasil-Sul de Comunicação da
crise; em 2012, o caixa do jornal sofreu uma abrupta
queda de publicidade, com uma margem de redução
de até 50%; o comando da RBS se assustou porque
é a divisão de oito jornais impressos que dá o caixa
para sustentar o resto da empresa; em agosto,
Eduardo Meltzer enviou uma carta a seus
funcionários anunciando 130 demissões;
leia no relato de Luiz Claudio Cunha
para salvar a Rede Brasil-Sul de Comunicação da
crise; em 2012, o caixa do jornal sofreu uma abrupta
queda de publicidade, com uma margem de redução
de até 50%; o comando da RBS se assustou porque
é a divisão de oito jornais impressos que dá o caixa
para sustentar o resto da empresa; em agosto,
Eduardo Meltzer enviou uma carta a seus
funcionários anunciando 130 demissões;
leia no relato de Luiz Claudio Cunha
13 DE SETEMBRO DE 2014 ÀS 10:26
Luiz Claudio Cunha, especial para o Jornal Já
Está identificado, com nome, sobrenome e endereço, o espírito que há meses assombra com cortes e demissões a RBS, o maior grupo de mídia do sul do país, a 27ª empresa no ranking das 100 maiores do Rio Grande do Sul.
Não é nenhum dos jovens executivos barbudos da família Sirotsky que fundou e comanda a Rede Brasil-Sul de Comunicação desde 1957. O artífice que modela a nova RBS é Cláudio Galeazzi — um senhor de 74 anos e sorriso rasgado, cara limpa e cabelos quase brancos,
1m84 e 92 kg de um corpo massudo modelado pelo exercício
disciplinado do halterofilismo —, reconhecido nos principais círculos
econômicos do Rio e São Paulo, respeitado entre os grandes
empresários brasileiros e disputado por empresas em crise que
o veneram como o temido Galeazzi Mãos de Tesoura.
1m84 e 92 kg de um corpo massudo modelado pelo exercício
disciplinado do halterofilismo —, reconhecido nos principais círculos
econômicos do Rio e São Paulo, respeitado entre os grandes
empresários brasileiros e disputado por empresas em crise que
o veneram como o temido Galeazzi Mãos de Tesoura.
Com mais de 150 projetos de salvação empresarial no portfolio da
consultoria Galeazzi & Associados que fundou em São Paulo, em 1995
Cláudio teve passagens triunfais (para os patrões) e traumáticas
(para os empregados) no comando temporário de gigantes como
os grupos Pão de Açúcar, Vulcabrás/Azaleia, Lojas Americanas,
Artex, Cicrisa, Vila Romana, entre outros. Na coronha de seu
revólver de serial killer de empregos, na conta sinistra da
revista Época Negócios, estão registradas até janeiro de 2008
mais de 20 mil demissões — o triplo dos 6,5 mil funcionários hoje sobressaltados da RBS.
consultoria Galeazzi & Associados que fundou em São Paulo, em 1995
Cláudio teve passagens triunfais (para os patrões) e traumáticas
(para os empregados) no comando temporário de gigantes como
os grupos Pão de Açúcar, Vulcabrás/Azaleia, Lojas Americanas,
Artex, Cicrisa, Vila Romana, entre outros. Na coronha de seu
revólver de serial killer de empregos, na conta sinistra da
revista Época Negócios, estão registradas até janeiro de 2008
mais de 20 mil demissões — o triplo dos 6,5 mil funcionários hoje sobressaltados da RBS.
Cláudio Eugênio Stiller Galeazzi não ganhou fama pela ficção de
Holywood, mas pelos cortantes resultados de eficiência gerencial,
redução de custos e otimização de lucros que o tornaram uma
lenda da vida real das empresas estressadas por balanços
avermelhados e deslizamentos de receita. Era inevitável que
Galeazzi e a RBS acabassem, um dia, se encontrando.
Holywood, mas pelos cortantes resultados de eficiência gerencial,
redução de custos e otimização de lucros que o tornaram uma
lenda da vida real das empresas estressadas por balanços
avermelhados e deslizamentos de receita. Era inevitável que
Galeazzi e a RBS acabassem, um dia, se encontrando.
Essa convergência começou a se desenhar em 2011,
quando acendeu a luz vermelha no comando da família
Sirotsky. Estudos internos e sigilosos realizados por um
executivo do grupo em Santa Catarina, Marcos Barbosa,
indicaram que o jornal Zero Hora, nau-capitânea da frota
da RBS, sofreria um grave abalo estrutural nas receitas a
partir de 2018, açoitado pelas ondas cruzadas da queda
de anunciantes, fuga de leitores e custos crescentes do
papel, tudo isso potencializado no mar tormentoso da internet.
quando acendeu a luz vermelha no comando da família
Sirotsky. Estudos internos e sigilosos realizados por um
executivo do grupo em Santa Catarina, Marcos Barbosa,
indicaram que o jornal Zero Hora, nau-capitânea da frota
da RBS, sofreria um grave abalo estrutural nas receitas a
partir de 2018, açoitado pelas ondas cruzadas da queda
de anunciantes, fuga de leitores e custos crescentes do
papel, tudo isso potencializado no mar tormentoso da internet.
A CARTA-BOMBA
Essa tragédia anunciada acabou se antecipando em seis anos.
Em 2012, o caixa do jornal sofreu uma abrupta queda de
publicidade, com uma margem de redução de até 50%. O
comando da RBS se assustou porque é a divisão de oito
jornais impressos que dá o caixa para sustentar o resto
da empresa. O solavanco, desconhecido até para o público
interno da empresa, habituada às notícias sucessivas de
auto-louvação sobre sua pujança e modernidade, veio no
momento crítico de troca de descendência no poder.
Em 2012, o caixa do jornal sofreu uma abrupta queda de
publicidade, com uma margem de redução de até 50%. O
comando da RBS se assustou porque é a divisão de oito
jornais impressos que dá o caixa para sustentar o resto
da empresa. O solavanco, desconhecido até para o público
interno da empresa, habituada às notícias sucessivas de
auto-louvação sobre sua pujança e modernidade, veio no
momento crítico de troca de descendência no poder.
Em 2012 aconteceu a transição da segunda para a terceira
geração dos Sirotsky. Nelson, filho do patriarca Maurício Sirotsky
Sobrinho (1925-1986), passou o comando executivo da RBS
para o sobrinho de 40 anos, Eduardo Sirotsky Melzer, o Duda,
filho de sua irmã Suzana, a primogênita de Maurício. Na cadeira
de presidente-executivo, o inexperiente Duda enfrentaria
emoções nunca antes vividas pelo avô e pelo tio, seus
antecessores no cargo.
geração dos Sirotsky. Nelson, filho do patriarca Maurício Sirotsky
Sobrinho (1925-1986), passou o comando executivo da RBS
para o sobrinho de 40 anos, Eduardo Sirotsky Melzer, o Duda,
filho de sua irmã Suzana, a primogênita de Maurício. Na cadeira
de presidente-executivo, o inexperiente Duda enfrentaria
emoções nunca antes vividas pelo avô e pelo tio, seus
antecessores no cargo.
As receitas continuaram piorando no início de 2013 e o susto
virou preocupação. Em julho daquele ano, consolidada a ideia
de contratar uma consultoria externa para reorientar a RBS,
começou a ser sussurrado ali um nome sonoro e desconhecido
até pelos altos executivos da casa: um certo Cláudio Galeazzi.
Os primeiros encontros reservados dele com Nelson e Duda
Sirotsky aconteceram na sede da consultoria, que ocupa o sétimo
andar de um
prédio na avenida Engenheiro Luis Carlos Berrini, endereço
nobre de alguns
executivos e empresas mais destacados em São Paulo.
virou preocupação. Em julho daquele ano, consolidada a ideia
de contratar uma consultoria externa para reorientar a RBS,
começou a ser sussurrado ali um nome sonoro e desconhecido
até pelos altos executivos da casa: um certo Cláudio Galeazzi.
Os primeiros encontros reservados dele com Nelson e Duda
Sirotsky aconteceram na sede da consultoria, que ocupa o sétimo
andar de um
prédio na avenida Engenheiro Luis Carlos Berrini, endereço
nobre de alguns
executivos e empresas mais destacados em São Paulo.
Ali, o trio selou a parceria, remunerada por uma taxa de sucesso
sobre os resultados obtidos. Discreto, o consultor não foi visto
uma única vez na sede da RBS em Porto Alegre, mas ficou clara
sua entrada na vida do grupo. Sem aparecer, sem circular pelo
QG dos Sirotsky no sul, Galeazzi despachou para lá um grupo
pequeno de assessores para fazer o raio-X e agir sobre os
problemas que rondam a empresa. Pelo que se sabe do contrato,
a equipe de Galeazzi vai assombrar os corredores da RBS até
meados de 2015.
sobre os resultados obtidos. Discreto, o consultor não foi visto
uma única vez na sede da RBS em Porto Alegre, mas ficou clara
sua entrada na vida do grupo. Sem aparecer, sem circular pelo
QG dos Sirotsky no sul, Galeazzi despachou para lá um grupo
pequeno de assessores para fazer o raio-X e agir sobre os
problemas que rondam a empresa. Pelo que se sabe do contrato,
a equipe de Galeazzi vai assombrar os corredores da RBS até
meados de 2015.
A lâmina fria de Galeazzi Mãos de Tesoura mostrou publicamente
o seu fio agudo numa segunda-feira, 4 de agosto passado, pela
voz do próprio Duda Sirotsky, em uma das mais desastradas
operações de Relações Públicas na história empresarial brasileira.
Ele falou aos funcionários numa vídeoconferência e, no mesmo dia,
reafirmou o que disse numa carta de duas páginas que pode ser
como uma autêntica ‘carta-bomba’ — pela sangria na plateia, pelo
estrondo na opinião pública e pelas feias cicatrizes na face da RBS
como uma empresa moderna, pujante, vencedora, imune a
e ao amadorismo no ofício da comunicação.
o seu fio agudo numa segunda-feira, 4 de agosto passado, pela
voz do próprio Duda Sirotsky, em uma das mais desastradas
operações de Relações Públicas na história empresarial brasileira.
Ele falou aos funcionários numa vídeoconferência e, no mesmo dia,
reafirmou o que disse numa carta de duas páginas que pode ser
como uma autêntica ‘carta-bomba’ — pela sangria na plateia, pelo
estrondo na opinião pública e pelas feias cicatrizes na face da RBS
como uma empresa moderna, pujante, vencedora, imune a
e ao amadorismo no ofício da comunicação.
Nas 102 linhas confusas de sua ‘carta-bomba’, Duda fala
cruamente em demissões, nega uma crise financeira, anuncia a
quebra de paradigmas e conclama seus assustados ‘caros colegas’
— como diz no início de sua bombástica missiva — a imitar a RBS
e a apostar no borbulhante mundo dos etílicos. Escreve Duda:
cruamente em demissões, nega uma crise financeira, anuncia a
quebra de paradigmas e conclama seus assustados ‘caros colegas’
— como diz no início de sua bombástica missiva — a imitar a RBS
e a apostar no borbulhante mundo dos etílicos. Escreve Duda:
Ampliamos a operação da Wine, que já é a maior empresa de
vinhos online do mundo, tanto que estamos agora preparando
entrada no mercado internacional. E muitos de vocês que já
são sócios da Wine agora poderão também ser da Have a Nice
Beer, o maior clube online de cervejas da América Latina, que
está vindo para o Grupo.
vinhos online do mundo, tanto que estamos agora preparando
entrada no mercado internacional. E muitos de vocês que já
são sócios da Wine agora poderão também ser da Have a Nice
Beer, o maior clube online de cervejas da América Latina, que
está vindo para o Grupo.
Tudo isso em um texto que, apesar de sua catatonia, trai as novas
prioridades do maior grupo de comunicação do sul do País. A palavra
‘jornalismo’ tem uma única citação, assim como ‘leitor’, enquanto fala
três vezes em ‘digital’, duas em wine e outras três em ‘vinho’,
‘cerveja’ e beer. O trecho mais espantoso é o sétimo parágrafo,
onde Duda, com a inclemência dos profetas, anuncia o apocalipse:
prioridades do maior grupo de comunicação do sul do País. A palavra
‘jornalismo’ tem uma única citação, assim como ‘leitor’, enquanto fala
três vezes em ‘digital’, duas em wine e outras três em ‘vinho’,
‘cerveja’ e beer. O trecho mais espantoso é o sétimo parágrafo,
onde Duda, com a inclemência dos profetas, anuncia o apocalipse:
Teremos uma semana intensa pela frente, pois na quarta-feira
faremos cerca de 130 demissões, de um universo de 6 mil pessoas,
com o objetivo de buscar produtividade e maior eficiência.
São cortes que precisam acontecer, principalmente na operação
dos jornais. Não estou de forma alguma insensível ao impacto que
demissões geram na vida das pessoas e da própria empresa, porém
acredito que tanto os profissionais quanto as empresas precisam
repensar o modo como atuam.
faremos cerca de 130 demissões, de um universo de 6 mil pessoas,
com o objetivo de buscar produtividade e maior eficiência.
São cortes que precisam acontecer, principalmente na operação
dos jornais. Não estou de forma alguma insensível ao impacto que
demissões geram na vida das pessoas e da própria empresa, porém
acredito que tanto os profissionais quanto as empresas precisam
repensar o modo como atuam.
O MARINHO DO SUL
Traduzindo. Duda antecipou na segunda-feira, 4, as demissões que
só nomearia na quarta-feira, 6, ignorando o velho brocardo do sábio
florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527): “Quando fizer o bem, faça-o
aos poucos. Quando for praticar o mal, faça-o de uma vez só”.
O estabanado anúncio do principal executivo da RBS impôs durante
48 horas um clima de aflição sobre uma comunidade de 6,5 mil
funcionários, angustiados pela desinformação sobre os nomes dos
130 iminentes demitidos.
só nomearia na quarta-feira, 6, ignorando o velho brocardo do sábio
florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527): “Quando fizer o bem, faça-o
aos poucos. Quando for praticar o mal, faça-o de uma vez só”.
O estabanado anúncio do principal executivo da RBS impôs durante
48 horas um clima de aflição sobre uma comunidade de 6,5 mil
funcionários, angustiados pela desinformação sobre os nomes dos
130 iminentes demitidos.
O grau de angústia poderia ser imaginado em Brasília se a presidente
Dilma Rousseff reunisse seus 39 ministros na segunda-feira para
anunciar que, dois dias depois, 10 ou 15 deles seriam demitidos,
sem anunciar ainda seus nomes. O espectro de crueldade que
dominaria a Esplanada dos Ministérios, com certeza, pode ser
comparado ao que vislumbraram os ‘caros colegas’ de Duda,
que a revista Forbes coroou como “o Marinho do Sul”.
Dilma Rousseff reunisse seus 39 ministros na segunda-feira para
anunciar que, dois dias depois, 10 ou 15 deles seriam demitidos,
sem anunciar ainda seus nomes. O espectro de crueldade que
dominaria a Esplanada dos Ministérios, com certeza, pode ser
comparado ao que vislumbraram os ‘caros colegas’ de Duda,
que a revista Forbes coroou como “o Marinho do Sul”.
A ligação do clã Sirotsky com o clã Marinho está no DNA do grupo
e explica seu sucesso. A TV Gaúcha — a primeira das 18 emissoras
da RBS que hoje compõem a maior afiliada da Rede Globo no
Brasil — foi inaugurada em Porto Alegre num dia quente de
dezembro de 1962, quando o avô de Duda, Maurício Sirotsky,
recebeu em festa o presidente João Goulart e o governador
Leonel Brizola. No início, a parceria da Gaúcha era com a pequena
TV Excelsior, até que Maurício deu em 1967 o pulo do gato, fazendo
então o realinhamento empresarial mais saudável de sua vitoriosa
carreira.
e explica seu sucesso. A TV Gaúcha — a primeira das 18 emissoras
da RBS que hoje compõem a maior afiliada da Rede Globo no
Brasil — foi inaugurada em Porto Alegre num dia quente de
dezembro de 1962, quando o avô de Duda, Maurício Sirotsky,
recebeu em festa o presidente João Goulart e o governador
Leonel Brizola. No início, a parceria da Gaúcha era com a pequena
TV Excelsior, até que Maurício deu em 1967 o pulo do gato, fazendo
então o realinhamento empresarial mais saudável de sua vitoriosa
carreira.
Maurício sintonizou sua emissora com os novos tempos da ditadura
instaurada três anos antes e se alinhou aos generais que derrubaram
o mesmo Jango que suava em bicas no estúdio da sua TV Gaúcha
naquele tórrido verão porto-alegrense. A nova e refrescante parceria
de Maurício passou a ser com Roberto Marinho, que um ano após
o golpe de 1964 fundou a TV Globo, embrião do império global que
nasceu e prosperou à sombra frondosa dos generais. Marinho arrastou
para o alto a RBS, sua nova parceira sulista (leia mais).
instaurada três anos antes e se alinhou aos generais que derrubaram
o mesmo Jango que suava em bicas no estúdio da sua TV Gaúcha
naquele tórrido verão porto-alegrense. A nova e refrescante parceria
de Maurício passou a ser com Roberto Marinho, que um ano após
o golpe de 1964 fundou a TV Globo, embrião do império global que
nasceu e prosperou à sombra frondosa dos generais. Marinho arrastou
para o alto a RBS, sua nova parceira sulista (leia mais).
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