quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Há menos editoras, menos livrarias e vendem-se menos livros em Portugal



Estudo encomendado pela APEL demonstra a queda que o mercado 
livreiro tem sofrido em Portugal. APEL espera que a mudança se possa fazer.
Em 2004 existiam 694 livrarias e em 2012 já só se registavam 562 JOSÉ SARMENTO MATOS
Estas são as principais conclusões de um estudo encomendado
 pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) ao 
ISCTE-IUL, depois de no ano passado várias livrarias
 independentes terem acusado redes livreiras como a FNAC e a
 Bertrand de violarem a lei do preço fixo do livro. As conclusões 
não são propriamente uma novidade mas para o presidente da 
APEL vêm dar força à necessidade de uma mudança no
 mercado livreiro, que precisa de ser dinamizado.
Em 2004 existiam 694 livrarias (empresas com actividade
 principal de comércio a retalho de livros) e o volume de negócios destas era de 140,1 milhões de euros. Em 2012, já só se registavam 562
 livrarias com um volume de negócio de 126,2 milhões de euros, de acordo com os números divulgados nesta segunda-feira no estudo
 Comércio Livreiro em Portugal – Estado da Arte na segunda
 década do século XXI, levado a cabo pelo Centro de
 Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE com a
 coordenação de José Soares das Neves. Esta quebra,
 lê-se no estudo, acentua-se essencialmente a partir de 2008.
Nas editoras, o estudo nota também um decréscimo na
 actividade e a partir de 2008 “as empresas dissolvidas são
 por norma mais do que as empresas constituídas”. Ainda no 
que diz respeito às empresas com actividade principal de edição de livros, lê-se no documento que “o volume de negócios regista depois de
 2008 – ano que constitui um pico sem paralelo na edição, com
 404 milhões de euros – uma queda contínua que atinge em 
2012 um valor (356 milhões de euros) abaixo do patamar 
registado em 2007 (em torno dos 360 milhões de euros)”.
Com isto, sofre também a oferta de novos títulos em suporte
 papel, que tende a diminuir até 2012 sem que “seja 
compensada pela edição de e-books”. No entanto, é de realçar
 que os “indicadores disponíveis para 2013 mostram alguns 
sinais de recuperação a nível da oferta”.
José Soares das Neves destaca a forma como este estudo 
ajudou a identificar os problemas que afectam o sector, 
entre os quais destaca a “crise aguda gravíssima que afectou o 
tecido cultural português” e por consequência o mercado 
livreiro. Mas garante: “O comércio livreiro não está morto”. 
“Tem de haver agora uma articulação entre a produção de 
informação [o estudo] e as medidas a tomar. Não se esperam 
soluções nem imediatas nem fáceis”, diz o investigador, que 
entrevistou ao longo dos últimos meses vários livreiros para 
melhor entender a situação portuguesa. “Procurámos dar apontamentos que possam ser úteis para que a reflexão agora seja informada”, continua.
Sem apontar qualquer medida, mas esperando que o estudo 
indique o caminho futuro a seguir, Rui Beja, que também 
participou nesta investigação, defende a tomada de uma

 posição forte "para que o livro se mantenha como elemento essencial". "Em geral, as pessoas que ouvimos sentem uma necessidade de se organizarem, de trabalharem em conjunto, 
além de sentirem que a própria APEL podia ir mais longe."
João Alvim, presidente da APEL, diz que a associação sozinha
 "nunca poderá fazer nada". “Este estudo traz a evidência das 
dificuldades do sector, já não há forma de fugir a esta evidência”, diz Alvim, que encomendou o estudo depois de ano passado vários 
livreiros se terem manifestado, queixando-se de concorrência
 desleal por parte de grandes superfícies como a FNAC e a 
Bertrand. “Vai permitir-nos chegar mais longe, foram 
detectadas as fragilidades e por isso agora temos de começar a pensar em conjunto como agir”, acrescenta Alvim, que conta entregar em breve estas conclusões ao secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier. “Fica claro que é preciso uma dinamização do mercado, vivemos num mundo em mudança. Apelo agora aos livreiros para que cooperem entre si, tenham ideias e juntem sinergias. A mudança tem de partir de nós.”
Além das livrarias, o estudo analisa ainda a venda de livros 
em grandes superfícies, concluindo que esta registou em 
2009 um pico, com 229 milhões de euros de facturação, 
verificando-se a partir desse ano uma quebra, com a facturação,
 em 2012, a situar-se nos 203 milhões de euros. De acordo com
 os dados, a tendência de diminuição é mais vincada nas
 grandes superfícies não alimentares como a FNAC, do que 
nas alimentares (híper e supermercados).
O estudo nota que a generalização de estratégias 
concorrenciais, como cartões de desconto e promoções,
 muito usados nestas grandes superfícies, são "susceptíveis de
 gerar disfuncionalidades no mercado", afectando sobretudo as
 livrarias independentes, como estas se tinham queixado. João 
Alvim pede a clarificação da Lei do Preço Fixo: “Existem
 variadíssimas posturas perante a mesma lei”. “A lei não 
pode estar dependente de interpretações pessoais, tem de ser
 igual para todos, é importante então que se aprecie esta
 situação”, acrescenta o presidente, lamentando ainda a falta
 de regulação no sector, nomeadamente no que diz respeito 
à pirataria. “Todos sabemos que se fotocopiam livros inteiros 
todos os dias e ninguém faz nada. Há livrarias especializadas
 que estão a fechar por causa disso”, aponta. “É preciso 
uma mudança.”
E este estudo, que conta ainda com o trabalho de Jorge 
Alves dos Santos e Jorge Augusto dos Santos, pode ser o 
pontapé de saída, acredita João Alvim. “A modernização 
do sector tem ser feita em conjunto, defende o presidente, 
garantindo que ao estudo seguir-se-ão vários encontros 
para discutir ideias.
Sobre os resultados, João Alvim não se mostra surpreendido. 
“Isto baliza-nos a situação e sabemos coisas que não sabíamos
 antes mas não nos podemos dizer surpreendidos, são 
evidentes os sinais da quebra no mercado.”

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