sábado, 21 de julho de 2012

Alemanha vira destino dos desempregados da Europa

Alemanha vira destino dos desempregados da Europa

Em Schwabisch Hall, com 180 mil habitantes, apenas 3% da população está desempregada e 2,5 mil postos de trabalho não conseguem ser preenchidos

15 de julho de 2012 | 3h 10
Jamil Chade, de O Estado de S.Paulo
Diante da escassez de mão de obra em sua região, a cidade alemã de Schwabisch Hall decidiu lançar uma campanha para atrair trabalhadores de países afetados pela crise na Europa. Mas nunca imaginou que o resultado seria uma inundação de currículos chegando à prefeitura e candidatos tomando a decisão de viajar mais de mil quilômetros para entregar em mãos suas fichas para disputar um posto de trabalho.
O que ocorreu na cidade próxima à Stuttgart é apenas um espelho de um novo fenômeno europeu. Ilha de estabilidade dentro de uma Europa em convulsão, a Alemanha se transformou num país refúgio. Milhões de europeus sem emprego se mudaram para as cidades alemãs, enquanto bilhões de euros entraram nos cofres do país em busca de segurança.
A Alemanha vive um momento de praticamente pleno emprego, com apenas 5,6% da população sem trabalho e com a previsão de que, em algumas regiões, a taxa fique abaixo de 5% ao final do ano. O número se contrasta com os 24% de desempregados na Espanha, 20% na Grécia e 16% em Portugal. Diante da queda da taxa de natalidade, o resultado tem sido a falta de mão de obra em vários setores. As estimativas são de que o país não consegue preencher vagas oferecidas para engenheiros e que, mesmo com a imigração, existe um déficit de 30 mil engenheiros na Alemanha.
Segundo o Escritório Federal de Estatística da Alemanha, o país viveu em 2011 a maior queda no número de nascimentos. Em todo o ano, foram apenas 663 mil partos, 2,2% menos que em 2010. A taxa é ainda a mais baixa desde 1946, quando o fim da Segunda Guerra Mundial abriu uma nova fase na sociedade alemã. O número é ainda metade dos nascimentos registrados em 1964, no auge do 'baby-boom' europeu, e nunca a diferença entre mortes e nascimentos foi tão elevada.
Segundo a Destatis - a agência de estatísticas - a população de 82 milhões de habitantes apenas não encolheu graças à chegada de 279 mil imigrantes, o maior número em mais de dez anos. O resultado foi um crescimento líquido de 100 mil pessoas no ano na população alemã, algo que a indústria comemora.
Algo similar já havia ocorrido após a Segunda Guerra Mundial, quando milhares de portugueses e espanhóis deixaram seus países empobrecidos para ajudar a reconstruir a Alemanha. Dessa vez, o fluxo tem assustado algumas cidades. Em Schwabisch Hall, com 180 mil habitantes, apenas 3% da população está desempregada e 2,5 mil postos de trabalho não conseguem ser preenchidos.
Em março, bastou uma matéria de um jornal português sobre a campanha para que a prefeitura local recebesse, em quatro dias, mais de 18 mil currículos de portugueses, buscando trabalho. A prefeitura também foi obrigada a fretar um avião entre Madri e Stuttgart para levar 100 engenheiros espanhóis para a última fase de testes. No início do ano, vários deles já estavam trabalhando.
Empresas alemãs, desesperadas por trabalhadores, estão contratando ainda os serviços da agência Adecco para recrutar imigrantes especializados. A Adecco foi justamente buscar na Espanha cerca de 50 engenheiros, oferecendo aulas de alemão e posições em empresas de ponta no novo "El Dorado", a Alemanha. Martin Friedrich, gerente da escola de idiomas Academia Suarez, conta que empresas alemãs o tem procurado para fechar acordos para dar aulas de alemão a espanhóis, gregos e portugueses. "As empresas estão dispostas a pagar pelas aulas. O que querem são trabalhadores", disse.
No centro de Frankfurt, sua escola que se dedicava principalmente ao ensino do espanhol, foi obrigada a abrir cursos de alemão. Ao abrir vagas para professores, outra surpresa: passaram a receber pedidos de trabalho de professores no interior da Espanha. "A crise é muito profunda lá e as pessoas estão desesperadas", comentou.
O padre brasileiro André Bergmann também conta que tem visto um incremento substancial do número de portugueses que vem até ele em busca de conselhos e orientação para se mudar para a Alemanha. O padre comanda a Comissão Católica de Língua Portuguesa em Frankfurt. "Aqui não há uma crise", admitiu.
No hospital universitário da cidade, a direção médica decidiu contratar 30 enfermeiras portuguesas, diante da falta de pessoas especializadas.
Sem esses estrangeiros, a Alemanha já prevê que poderá ter sérios gargalos para sua economia na próxima década. Até 2060, o país poderia ter 12 milhões de pessoas a menos. Para Steffen Kröhnert, do Instituto de Berlim para População e Desenvolvimento, em 2050, a Alemanha poderá sofrer uma redução de 30% de sua mão de obra./ J.C.


Nenhum comentário:

Postar um comentário