Assassinato seletivo: isso serve para provocar a guerra
O jornalista Caio Blinder defendeu, em um programa de TV, o “assassinato” de cientistas que
participam do “programa de enriquecimento de urânio do Estado Terrorista iraniano”.
Argumentou que é “preciso matar gente agora” para evitar mais mortes do futuro. Cerca de
1.300 estudantes universitários iranianos pediram para mudar as suas áreas de estudo para
o campo das ciências nucleares após o assassinato. Veja só Sr Blinder! Será preciso eliminar
esses estudantes também porque um dia eles serão cúmplices do projeto nuclear iraniano!
Reginaldo Nasser (*)
Esta circulando pelos blogs e redes sociais trecho de um programa de TV paga [Manhattan
Conection, ver vídeo acima] em que um dos comentaristas, Sr. Caio Blinder, apóia o “assassinato”
de cientistas que participam do “programa de enriquecimento de urânio do Estado Terrorista
iraniano”. Argumenta que é “preciso matar gente agora” para evitar mais mortes do futuro, além do
que, acrescenta, “você intimida outros cientistas”.
O tema já foi intensamente debatido nos EUA, em 2007, quando o professor de direito Glenn
Reynolds criticou o presidente Bush por não fazer o suficiente para parar o programa nuclear
iraniano (vejam só Bush acusado de ser soft demais!) e, em seguida, defendeu que os EUA
deveriam assassinar líderes religiosos e cientistas nucleares iranianos com o objetivo de intimidar o
governo do Irã. Portanto, se nos EUA a justificativa para esse tipo de crime não é algo incomum, no
Brasil - salvo engano meu- é a primeira vez que aparece publicamente nos meios de comunicação e
por isso julgo necessário tecer algumas considerações.
No dia 11 de janeiro de 2012, Ahmadi Roshan, engenheiro químico da usina de enriquecimento de
urânio de Natanz, foi assassinado nas ruas de Teerã após explosão de uma bomba em seu carro. É
mais um de uma série de acontecimentos similares. Em dezembro de 2011, sete pessoas morreram
em uma explosão em Yazd. Em 28 de novembro, uma bomba explodiu nas instalações nucleares em
Isfahan. Em 12 de novembro, 17 pessoas foram mortas por uma explosão perto de Teerã.. Em 29
de novembro de 2010, o cientista Shahriari foi morto da mesma forma como Roshan, com uma
bomba plantada em seu carro. Em todos os casos as autoridades dos EUA e de Israel negaram
veementemente qualquer envolvimento.
Mas qual é o problema? De forma declarada ou encoberta tanto EUA, como Israel, sempre adotaram
a tática do assassinato seletivo. Desde 11 de setembro, o governo dos EUA tem realizado operações
similares (“assassinatos seletivos”) mesmo fora dos campos de batalha do Afeganistão e do Iraque,
como no Iêmen, Paquistão, Somália, Síria e possivelmente em outros lugares, causando a morte de
mais de 2 mil supostos terroristas e de incontáveis vitimas civis. A justificativa está fundamentada
numa autorização legal, aprovada na Câmara e no Senado, atribuindo ao Presidente o poder para
adotar as medidas que julgue necessárias para impedir ou prevenir atos de terrorismo internacional
contra os Estados Unidos.
É importante notar que até pouco tempo atrás a justificativa para assassinar civis pressupunha a “Revoluções no Mundo Árabe e Islâmico: Regimes Políticos, Síria e Irã - 2012
2
participação direta desses nas hostilidades. Quando se diz que um assassinato seletivo é
"necessário" entende-se que matar era a única maneira de evitar um ataque iminente. Mas no caso
dos cientistas é praticamente impossível afirmar que matá-los era necessário para impedir o Irã de
lançar um ataque nuclear iminente contra Israel ou qualquer outro país. A não ser que haja uma
nova doutrina em formação: “assassinato seletivo preventivo”.
Voltando ao porta-voz brasileiro dos fundamentalistas norte-americanos, o Sr. Blinder, que é uma
pessoa bem informada, sabe que além da quantidade e qualidade de urânio ou plutônio, a produção
de armas nucleares também requer os meios para levá-las ao seu destino (mísseis e ogivas).
Portanto, é um projeto que envolve grande quantidade de cientistas, engenheiros e operadores.
Levando à extremidade lógica o argumento dos fundamentalistas, será preciso assassinar mais
algumas centenas ou mesmo milhares de pessoas. Claro, com o nobre objetivo de evitar mais
mortes! Aliás, 90% das mortes de norte-americanos no mundo ocorrem devido à utilização de
armas e munições produzidas no próprio EUA.
Portanto, somos tentados a concluir que os responsáveis pela indústria bélica (armas leves) nos EUA
deveriam ser assassinados, pois evitaria a morte de milhares de norte-americanos? A ser levada a
sério essa proposta (assassinato de cientistas), não é improvável que os congressos científicos
internacionais acabem se convertendo em um verdadeiro festival de tiroteios e bombas. Aliás, o
suposto efeito da intimidação, pressuposto dessas ações, está gerando um efeito oposto. Cerca de
1.300 estudantes universitários iranianos pediram para mudar as suas áreas de estudo para o
campo das ciências nucleares após o assassinato. Veja só Sr Blinder! Será preciso eliminar esses
estudantes também porque um dia eles serão cúmplices do projeto nuclear iraniano!
Dentro da mesma linha de raciocínio o proprietário do Atlanta Jewish Times, Andrew Adler, pediu
desculpas na semana passada depois de sugerir que o assassinato do presidente Obama era uma
opção que deveria ser considerada pelo governo israelense, conforme relatado pelo Huffington Post.
De acordo com Adler, Israel tem apenas três opções disponíveis para se manter seguro: 1. atacar
Hezbollah e o Hamas, 2. destruir as instalações nucleares do Irã; 3. assassinar Obama!
Estranhamente o “assassinato seletivo” ocorreu três dias após a afirmação do secretario de Defesa
dos EUA de que era improvável que os iranianos estivessem tentando desenvolver uma arma
nuclear e no momento em que governo iraniano reiniciava as negociações com o grupo (P5 +1) para
autorizar a realização de uma visita de delegados da Agência Internacional de Energia Atômica em
seu pais.
Fica claro que o objetivo do assassinato dos cientistas é provocar uma forte
Nenhum comentário:
Postar um comentário