sexta-feira, 31 de maio de 2013

31 de Maio: Dia Mundial Sem Tabaco] Por uma sociedade saudável


 

Carlos Ayala Ramírez
Adital
Tradução: ADITAL

A cada dia 31 de maio, celebra-se o Dia Mundial Sem Tabaco dedicado a ressaltar os riscos do consumo do tabaco para a saúde e promover políticas eficazes para reduzi-lo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma das principais promotoras dessa celebração, anualmente, a epidemia do tabagismo mata quase 6 milhões de pessoas no mundo, das quais mais de 600 mil não fumam, mas morrem ao respirar a fumaça alheia. Em El Salvador, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, a cada ano falecem aproximadamente 5 mil pessoas devido ao tabaco; um número similar aos causados pela delinquência das gangues e o crime organizado em seus momentos mais críticos.
Estima-se que 11% dos salvadorenhos são fumantes ativos; porém, não há estatísticas sobre a quantidade de pessoas atingidas pela fumaça de cigarro. Em 2012, o sistema de vigilância sanitária do Ministério da Saúde informou que os custos com atenção ambulatorial para a população de 1 a 9 anos de idade devido a enfermidades relacionadas ao consumo e exposição ao tabaco ultrapassaram os 39 milhões de dólares, sendo a atenção de consultas por infecções agudas das vias respiratórias a que consumiu mais recursos (mais de 36 milhões de dólares).
Em âmbito global, o tema escolhido em 2013, como ideia força, é a proibição da publicidade, a promoção e o patrocínio do tabaco. Nesse sentido, a OMS propõe aumentar os esforços locais, nacionais e internacionais para contrapor as estratégias dessa indústria destinadas a esquivar-se dessa proibição. A experiência mostra que a proscrição completa da publicidade reduz o número de pessoas que adquirem ou mantêm hábitos de fumar. Como se sabe, a publicidade cumpre pelo menos três funções básicas: informar, orientar e persuadir. As duas primeiras são um serviço real para o potencial comprador; porém, com a terceira, que costuma ser a função predominante, surge um problema ético: pode cair na manipulação do consumidor. Hoje em dia, a publicidade não é um sistema de informação; mas, de sedução. Não é uma publicidade que se centre em informar sobre as características do produto; mas, na personalidade e nas debilidades do consumidor.
Portanto, a proibição de publicidade explícita encontra maneiras sutis de evasão. Por exemplo, nos Estados Unidos, em uma série da TV patrocinada por cigarros Camel, os autores tinham instruções rigorosas: somente os personagens positivos podiam fumar; os personagens antipáticos ou os vilões/vilãs não podiam; os cigarros deviam ser fumados de maneira relaxada, não compulsivamente; tinham que eliminar os letreiros de proibição de fumar. Ou seja, mediante os mecanismos de identificação e projeção, se propiciava a indução de condutas e valores favoráveis ao consumo do tabaco.
No entanto, para a OMS, o problema não se reduz somente à publicidade e ao consumo do tabaco. De maneira geral, fala-se de que o estilo de vida promovido na sociedade atual não favorece a saúde. Entre as principais doenças que atualmente causam a morte, a maioria tem sua origem no estilo de vida fomentado pela publicidade. Daí que, recentemente, a Assembleia Mundial da Saúde aprovou um Plano de Prevenção e Controle das Enfermidades não Transmissíveis, como as doenças derivadas do consumo do tabaco e do álcool; a obesidade, responsáveis pó 60% das mortes no mundo (69% na América Latina).
No texto menciona-se a necessidade de que os governos promovam a redução da ingestão excessiva de álcool, o incremento do consumo de frutas e hortaliças para 400 gramas diários (cinco peças) e o aumento da atividade física (diminuição da prevalência da inatividade em 10%). Da mesma forma, o plano promove uma menor ingestão de sal (redução de 30%) e de ácidos graxos saturados; e a diminuição do consumo de tabaco (30%). Também se refere à publicidade dirigida aos menores e pede que seja "reduzido o impacto nas crianças por conta da promoção de alimentos e bebidas não alcoólicas ricos em gorduras saturadas, ácidos graxos, açúcares livres e sal”.
Em nossa perspectiva, a eficácia desse plano depende não só da vontade dos governos; mas, também, da prática de uma ética da publicidade e de uma ética cidadã do consumo. A primeira implicaria veracidade na publicidade (esta não deve enganar deliberadamente, nem implícita ou explicitamente; nem por omissão); respeito à dignidade da pessoa (evitar técnicas que manipulem e explorem a debilidade humana); e compromisso com a responsabilidade social, isto é, regulamentar a publicidade que reduz o progresso humano à aquisição de bens materiais e cultiva um estilo de vida opulento, prejudicial tanto para os indivíduos quanto para as sociedades.
A ética cidadã do consumo, por seu lado, propõe um consumo libertador, justo e corresponsável. Libertador porque temos que estar conscientes de quais são as motivações do consumo; temos que fazer uso do poder do consumidor e não simplesmente o que os outros (os publicitários) dizem que façamos. Consumo junto porque se há produtos que são necessários, estes têm que ser universalizáveis, ou seja, accessíveis a todos. E, finalmente, consumo corresponsável, que significa articular as associações e instituições da sociedade civil e política para lutar pelo consumo justo e libertador. Em outras palavras, temos que conhecer e distinguir bem entre consumo, consumismo e ‘consumerismo’.
O consumo vem determinado pela ação de obter produtos ou serviços para a satisfação das necessidades básicas. O consumismo inclui um componente irreflexivo, cuja dinâmica central está constituída pela obtenção de bens de consumo supérfluos. E o ‘consumerismo’ é a organização dos cidadãos para a defesa de seus direitos ante as injustiças cometidas no/pelo mercado. Em suma, nesse âmbito da saúde, tanto a ética da publicidade quanto a ética cidadã do consumo, buscam promover uma forma de viver individual e social. E uma sociedade é saudável na medida em que responde às necessidades fundamentais da pessoa e favorece o desenvolvimento de suas potencialidades.

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