Os dados contraditórios emitidos do front econômico não deixam margem a ilusões.
Há sinais de retomada do investimento industrial no Brasil. Mas ainda insuficientes para definir um novo ciclo.
Dos EUA surgem evidencias de um ânimo maior dos consumidores.
Mas os dados do desemprego –que pode estar na faixa dos 11% e não 7%, computadas as desistências— desautorizam o otimismo ingênuo.
Pode levar uma década para o mercado de trabalho da maior economia da terra retomar o nível pré-crise.
O jogo de gato e rato dos ajustes pontuais entre juros, câmbio e inflação continua a ocupar espaços generosos na agenda capturada pela narrativa conservadora.
Interessa ao conservadorismo afunilar o debate do crescimento nesse ralo das esperanças nacionais.
Nada mais conveniente do que cicatrizar o fracasso do ciclo tucano com o insistente previsão de outro, por ora amplamente desautorizado pelos resultados.
Dessa gororoba midiática não sai um centímetro de chão firme para sustentar o passo seguinte da economia e da sociedade.
O economicismo ortodoxo não tem nada a oferecer ao país a não ser regressividade social e renúncia estratégica.
Os dados parecem endossa-lo.
O impulso externo das commodities perdeu fôlego.
A demanda chinesa, que soprou a vela do comércio mundial nos últimos dez anos, navega em zona de calmaria.
A oficina do mundo pode muito pouco num cenário de contração global das importações.
O comércio mundial deve crescer menos este ano do que no anterior.
Um dos principais destinos dos embarques asiático e mundial, a Europa agoniza sob as turquesas da ortodoxia.
Já morto, o Estado do Bem Estar Social está sendo picado, salgado e pendurado nas praças públicas de Madrid, Lisboa, Paris etc.
O que se propõe em troca?
Uma taxa de desemprego que é o dobro do recorde histórico anterior à crise.
Até quando vai a tragédia europeia?
Francisco Louçã, dirigente socialista português (leia a entrevista a Marco Aurélio Weissheimer; nesta pág) enxerga um segundo round da crise, a aprofundar o colapso das economias centrais, com efeitos globais desagregadores.
E adverte: ‘A esquerda precisa afrontar o capital financeiro’.
James Galbraith (leia a entrevista imperdível nesta pág) reclama um plano urgente de estabilidade social, que injete recursos públicos no orçamento das famílias pobres e dos desempregados.
O Brasil até agora soube manejar a travessia da desordem neoliberal, deslocando o dínamo de sua economia para o mercado interno de massas criado na última década.
A emergência de um Brasil até então anônimo e represado pela miséria dificulta o ardil conservador.
Qual seja, importar a crise mundial –o nome fantasia dessa baldeação é ‘reformas de mercado’-- para usa-la como o aguilhão da agenda de arrocho e desregulação econômica, derrotada nas urnas em 2002, 2006 e 2010.
Desenvolvimento é instabilidade e não calmaria, como quer o interesse dominante de qualquer época, adepto da paz salazarista dos cemitérios.
O xis da questão é adicionar produtividade ao sistema econômico e direcioná-la às prioridades definidas pela correlação de forças da sociedade.
O Brasil enfrenta as adversidades intrínsecas aos avanços e recuos contabilizados nessa trajetória.
O câmbio defasado por décadas de juros siderais (responsáveis pelo ingresso maciço de capitais especulativos) acionou uma mutação regressiva no seu sistema produtivo.
E justamente quando a demanda popular mudou de patamar para se tornar massiva e hegemônica.
A perda de até US$ 20 bi em exportações de bens primários, por conta da retração nos preços das commodities, aguçou a percepção de um desequilíbrio de natureza estruturante na balança comercial de produtos manufaturados.
O déficit nessa área deve somar cerca de US$ 60 bilhões este ano. Foi de US$ 9 bi, em 2007. E ficou em US$ 36 bi no ano passado.
A manufatura importada invadiu todas as instâncias da vida brasileira.
Calcula-se em 25% o peso das importações no atendimento da demanda nacional.
O invisível é mais grave do que o evidente estampado nas etiquetas ‘made in China’.
A corrosão do parque industrial está inscrita no miolo dos produtos.
Peças, componentes, circuitos deixam de ser fabricados localmente. Leia-se: empregos de qualidade; investimentos; receitas fiscais; conhecimento técnico são transferidos para o exterior.
Engordam a economia dos países fornecedores.
Galpões industriais metamorfosearam-se em oficinas de montagem, de onde o insumo importado sai com etiqueta nacional.
Ajustar o câmbio de modo a torna-lo competitivo, e assim reverter o desinvestimento em novo ciclo de expansão fabril, tem um custo.
Encarecer a fatia do consumo abastecida do exterior equivale a arrochar um pedaço do poder de compra popular.
Não se trata de contabilidade, mas de decisão política. O que se ganha em troca? Quais as garantias (estabilidade no emprego, por exemplo)?
O contágio dos demais preços pelo estirão cambial, numa quadra em que o mercado externo talvez não retribua com incrementos equivalentes nas exportações, recomenda cautela.
A margem de manobra da política econômica estreitou-se.
Em dúvida, caminhe devagar, é a bússola do governo.
O país tem sua ‘terra à vista’. E precisa segurar o timão com firmeza para não se perder na travessia.
O pré-sal encerra peso objetivo para ser o impulso industrializante demarcador de um novo ciclo do desenvolvimento.
As reservas do pré-sal estão cercadas por um marco regulador cujas condicionalidades, independente da participação estrangeira, transferem o impulso tecnológico e as encomendas da exploração para dentro do país.
Guardadas as devidas proporções, isso pode significar para o Brasil aquilo que o orçamento da Defesa e o da Nasa representam para economia norte-americana, em termos de inovação e fôlego expansivo.
Há, porém, o oceano de crise mundial no meio do caminho.
E ele pode esticar o calendário da travessia até o final da década.
Mais que nunca, a macroeconomia será tutelada pela economia política.
As grandes escolhas do desenvolvimento recaem sobre os ombros da democracia brasileira.
Lideranças do PT, como o presidente do partido, Rui Falcão, a exemplo do governador Tarso Genro (leia suas manifestações na Carta Maior), advertem para a necessidade de se fortalecer o arsenal da sociedade, de modo a assegurar sua participação nesse escrutínio.
Duas reformas são inadiáveis: a reforma política e a regulação da mídia.
Ambas convergem para um mesmo objetivo: ampliar o discernimento social das variáveis em jogo; e transferir o timão da travessia ao sujeito histórico que tem mais a perder se ela fracassar.
Os 30 milhões de brasileiros que saíram da miséria e os 40 milhões que ascenderam na pirâmide da renda desde 2003.
Esse é o ciclo que se avizinha.
Há sinais de retomada do investimento industrial no Brasil. Mas ainda insuficientes para definir um novo ciclo.
Dos EUA surgem evidencias de um ânimo maior dos consumidores.
Mas os dados do desemprego –que pode estar na faixa dos 11% e não 7%, computadas as desistências— desautorizam o otimismo ingênuo.
Pode levar uma década para o mercado de trabalho da maior economia da terra retomar o nível pré-crise.
O jogo de gato e rato dos ajustes pontuais entre juros, câmbio e inflação continua a ocupar espaços generosos na agenda capturada pela narrativa conservadora.
Interessa ao conservadorismo afunilar o debate do crescimento nesse ralo das esperanças nacionais.
Nada mais conveniente do que cicatrizar o fracasso do ciclo tucano com o insistente previsão de outro, por ora amplamente desautorizado pelos resultados.
Dessa gororoba midiática não sai um centímetro de chão firme para sustentar o passo seguinte da economia e da sociedade.
O economicismo ortodoxo não tem nada a oferecer ao país a não ser regressividade social e renúncia estratégica.
Os dados parecem endossa-lo.
O impulso externo das commodities perdeu fôlego.
A demanda chinesa, que soprou a vela do comércio mundial nos últimos dez anos, navega em zona de calmaria.
A oficina do mundo pode muito pouco num cenário de contração global das importações.
O comércio mundial deve crescer menos este ano do que no anterior.
Um dos principais destinos dos embarques asiático e mundial, a Europa agoniza sob as turquesas da ortodoxia.
Já morto, o Estado do Bem Estar Social está sendo picado, salgado e pendurado nas praças públicas de Madrid, Lisboa, Paris etc.
O que se propõe em troca?
Uma taxa de desemprego que é o dobro do recorde histórico anterior à crise.
Até quando vai a tragédia europeia?
Francisco Louçã, dirigente socialista português (leia a entrevista a Marco Aurélio Weissheimer; nesta pág) enxerga um segundo round da crise, a aprofundar o colapso das economias centrais, com efeitos globais desagregadores.
E adverte: ‘A esquerda precisa afrontar o capital financeiro’.
James Galbraith (leia a entrevista imperdível nesta pág) reclama um plano urgente de estabilidade social, que injete recursos públicos no orçamento das famílias pobres e dos desempregados.
O Brasil até agora soube manejar a travessia da desordem neoliberal, deslocando o dínamo de sua economia para o mercado interno de massas criado na última década.
A emergência de um Brasil até então anônimo e represado pela miséria dificulta o ardil conservador.
Qual seja, importar a crise mundial –o nome fantasia dessa baldeação é ‘reformas de mercado’-- para usa-la como o aguilhão da agenda de arrocho e desregulação econômica, derrotada nas urnas em 2002, 2006 e 2010.
Desenvolvimento é instabilidade e não calmaria, como quer o interesse dominante de qualquer época, adepto da paz salazarista dos cemitérios.
O xis da questão é adicionar produtividade ao sistema econômico e direcioná-la às prioridades definidas pela correlação de forças da sociedade.
O Brasil enfrenta as adversidades intrínsecas aos avanços e recuos contabilizados nessa trajetória.
O câmbio defasado por décadas de juros siderais (responsáveis pelo ingresso maciço de capitais especulativos) acionou uma mutação regressiva no seu sistema produtivo.
E justamente quando a demanda popular mudou de patamar para se tornar massiva e hegemônica.
A perda de até US$ 20 bi em exportações de bens primários, por conta da retração nos preços das commodities, aguçou a percepção de um desequilíbrio de natureza estruturante na balança comercial de produtos manufaturados.
O déficit nessa área deve somar cerca de US$ 60 bilhões este ano. Foi de US$ 9 bi, em 2007. E ficou em US$ 36 bi no ano passado.
A manufatura importada invadiu todas as instâncias da vida brasileira.
Calcula-se em 25% o peso das importações no atendimento da demanda nacional.
O invisível é mais grave do que o evidente estampado nas etiquetas ‘made in China’.
A corrosão do parque industrial está inscrita no miolo dos produtos.
Peças, componentes, circuitos deixam de ser fabricados localmente. Leia-se: empregos de qualidade; investimentos; receitas fiscais; conhecimento técnico são transferidos para o exterior.
Engordam a economia dos países fornecedores.
Galpões industriais metamorfosearam-se em oficinas de montagem, de onde o insumo importado sai com etiqueta nacional.
Ajustar o câmbio de modo a torna-lo competitivo, e assim reverter o desinvestimento em novo ciclo de expansão fabril, tem um custo.
Encarecer a fatia do consumo abastecida do exterior equivale a arrochar um pedaço do poder de compra popular.
Não se trata de contabilidade, mas de decisão política. O que se ganha em troca? Quais as garantias (estabilidade no emprego, por exemplo)?
O contágio dos demais preços pelo estirão cambial, numa quadra em que o mercado externo talvez não retribua com incrementos equivalentes nas exportações, recomenda cautela.
A margem de manobra da política econômica estreitou-se.
Em dúvida, caminhe devagar, é a bússola do governo.
O país tem sua ‘terra à vista’. E precisa segurar o timão com firmeza para não se perder na travessia.
O pré-sal encerra peso objetivo para ser o impulso industrializante demarcador de um novo ciclo do desenvolvimento.
As reservas do pré-sal estão cercadas por um marco regulador cujas condicionalidades, independente da participação estrangeira, transferem o impulso tecnológico e as encomendas da exploração para dentro do país.
Guardadas as devidas proporções, isso pode significar para o Brasil aquilo que o orçamento da Defesa e o da Nasa representam para economia norte-americana, em termos de inovação e fôlego expansivo.
Há, porém, o oceano de crise mundial no meio do caminho.
E ele pode esticar o calendário da travessia até o final da década.
Mais que nunca, a macroeconomia será tutelada pela economia política.
As grandes escolhas do desenvolvimento recaem sobre os ombros da democracia brasileira.
Lideranças do PT, como o presidente do partido, Rui Falcão, a exemplo do governador Tarso Genro (leia suas manifestações na Carta Maior), advertem para a necessidade de se fortalecer o arsenal da sociedade, de modo a assegurar sua participação nesse escrutínio.
Duas reformas são inadiáveis: a reforma política e a regulação da mídia.
Ambas convergem para um mesmo objetivo: ampliar o discernimento social das variáveis em jogo; e transferir o timão da travessia ao sujeito histórico que tem mais a perder se ela fracassar.
Os 30 milhões de brasileiros que saíram da miséria e os 40 milhões que ascenderam na pirâmide da renda desde 2003.
Esse é o ciclo que se avizinha.
Postado por Saul Leblon às 04:56
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