Em julho de 2013, a cidade de Detroit (EUA) declarou bancarrota e pediu concordata, sendo incapaz de pagar suas dívidas após uma década de crise e diminuição de sua população
Julia Preston
Julia Preston

Lutando contra os estragos do declínio industrial, a cidade de Dayton aprovou um plano inovador há dois anos para reavivar sua economia e seu ânimo: tornar-se um ímã de imigrantes.
A Comissão da Prefeitura de Dayton votou para tornar a cidade "amigável" aos imigrantes, com programas para atrair novos moradores e encorajar os já existentes, como uma forma de conter as perdas de empregos e a queda da população.
O norte de Dayton --até há pouco tempo uma paisagem pós-apocalíptica de casas abandonadas e destruídas--recebeu 400 famílias turcas, muitas vindas de outras cidades norte-americanas. Agora, cercas brancas, novos telhados e varandas recém-pintadas são sinais de uma revitalização urbana rápida liderada pelos imigrantes, uma casa de madeira por vez.
"Queremos investir nos lugares onde somos mais aceitos", disse Islom Shakhbandarov, líder imigrante turco. "E somos mais bem aceitos em Dayton."
Outras cidades com dificuldades estão tentando retomar o crescimento atraindo imigrantes empreendedores, tanto trabalhadores altamente qualificados quanto trabalhadores de salários mais baixos. No Centro-Oeste, iniciativas semelhantes começaram em Chicago, Cleveland, Columbus, Indianapolis, St. Louis e Lansing, Michigan, bem como Detroit, que luta para sair da falência. Em junho, funcionários dessas cidades e outros se reuniram em Detroit para inaugurar uma rede comum.
"Queremos retomar o espírito de empreendedorismo que os imigrantes trazem", disse Richard Herman, advogado de Cleveland que aconselha cidades sobre ideias de desenvolvimento com base na imigração.
As novas boas vindas aos imigrantes refletem uma mudança mais ampla na opinião pública, mostram as pesquisas, à medida que o país deixa para trás o pior da recessão. Mais norte-americanos concordam que os imigrantes, mesmo alguns que estão ilegalmente no país, podem ajudar a economia, dando um impulso para os esforços do Congresso de reformar o sistema de imigração que muitos dizem que está quebrado.
As preocupações com a imigração ilegal descontrolada, que produziram limitações rigorosas no Arizona e em outras partes do país, não têm sido um problema em Dayton. Funcionários aqui dizem que seu objetivo é convidar os imigrantes legais. Mas eles não fazem nenhum esforço para perseguir os moradores não legalizados, desde que eles não descumpram a lei de outra forma.
O impulso para a mudança em Dayton partiu dos imigrantes. Em 2010, Shakhbandarov disse ao prefeito recém-eleito, Gary Leitzell, que estava pensando em pedir aos imigrantes turcos dos Estados Unidos que se mudassem para lá. A maioria dos turcos em Dayton é de refugiados de perseguições na Rússia e em outros países do antigo bloco soviético.
Leitzell ficou intrigado. "Eu disse: a pior coisa que poderia acontecer seria 4.000 famílias turcas virem para Dayton e reformarem 4.000 casas", lembrou o prefeito. "Então, como podemos facilitar o seu sucesso?"
Com 14 mil moradias vazias na cidade, os funcionários estavam abertos para tentar algo diferente.
Trabalhando com organizações locais, a cidade encontrou intérpretes para cargos públicos, acrescentou livros de língua estrangeira nas bibliotecas e providenciou aulas de inglês . Professores voltaram à escola para aprender outras línguas.
Os grupos locais deram cursos para imigrantes que abriam pequenas empresas e ajudaram famílias de refugiados e estudantes estrangeiros. Autoridades da cidade trabalharam com a Wright State University, uma instituição pública, para encontrar formas de médicos e engenheiros imigrantes contornarem a burocracia e receberem certificados para atuar nos Estados Unidos.
O chefe de polícia, Richard S. Biehl, ordenou que os policiais não mais checassem o status de imigração de testemunhas de crimes, vítimas e pessoas paradas em infrações de trânsito leves ou outras ofensas menos graves. O sindicato da polícia e xerifes de condados vizinhos denunciaram a política, dizendo que Dayton havia se tornado um "santuário" onde a lei de imigração não era cumprida.
Mas Biehl defendeu sua abordagem, dizendo que isso permitiu à polícia concentrar seus recursos escassos em crimes graves. Os líderes de imigrantes, especialmente os hispânicos, abraçaram a iniciativa, tornando-se menos cautelosos com a polícia.
"Se há algum grupo de cidadãos que tem medo de falar conosco ou não confia em nós", disse Biehl, "isso compromete nossa capacidade de fornecer segurança pública".
Autoridades da cidade disseram que todo o esforço custou apenas o salário de um coordenador do programa e alguns lanches para reuniões. Embora ainda seja muito cedo para dizer se o programa vai dar início a uma recuperação econômica, os primeiros resultados são promissores.
Os turcos escolheram Dayton, disse Shakhbandarov, porque o custo de vida era baixo e havia universidades próximas para seus filhos. Os recém-chegados abriram restaurantes e lojas, bem como empresas de transporte para levar equipamentos para uma base da Força Aérea nas proximidades. E eles têm usado suas economias para reformar casas no norte de Dayton, onde líderes turcos estimam ter investido US$ 30 milhões até agora, incluindo imóveis, materiais e o valor de seu trabalho.
Shakhbandarov estava orgulhoso, parado na entrada do centro comunitário turco inaugurado recentemente no centro, apontando para os ladrilhos bege do saguão, importados da Turquia, para fazer com que os visitantes "sintam-se em casa" ao chegar. Turcos compraram o centro, vazio e degradado, da prefeitura com um empréstimo amigável. Agora ele abriga uma pré-escola de bairro e aulas de artes marciais, frequentadas entusiasticamente por meninas em lenços de cabeça.
"É tudo uma questão de atitude", disse Shakhbandarov. "Os norte-americanos talvez tenham visto dias melhores em Dayton, uma vida melhor, uma economia melhor. Mas nunca vimos isso. Temos aprendido a apreciar o que temos. E o que temos aqui já é muito mais do que tínhamos antes."
Os negros, que compõem 43% da população de Dayton, concordam com os objetivos do programa da cidade, mas disseram que estavam esperando para ver os resultados. Derrick L. Foward, presidente da Unidade NAACP de Dayton, disse que estava preocupado com o fato de as empresas de imigrantes não estarem contratando muitos funcionários negros.
"Eu acho que a iniciativa 'Bem Vindo a Dayton' é muito boa", disse Foward. "Mas eu gostaria de ver mais diversidade na contratação como parte de sua prática desde o início."
Uma pesquisa recente sugere que a experiência de Dayton não é acidental. Em um estudo nacional publicado no mês passado, Jacob L. Vigdor, professor de economia na Universidade de Duke, revelou que durante as últimas quatro décadas, os imigrantes ajudaram a preservar e, em alguns casos, aumentar o número de empregos na manufatura nas cidades onde se instalaram. Eles também aumentaram os valores dos imóveis.
A experiência imigrante de Dayton está particularmente próxima de um legislador que provavelmente terá um grande impacto no debate em Washington: o porta-voz republicano da Câmara, John A. Boehner. Seu distrito envolve a cidade por três lados.
Mas as autoridades de Dayton disseram que não estão esperando pelo Congresso. "Nós descobrimos que podemos repovoar a nossa cidade e podemos educar as pessoas e inspirá-las a criar empregos para si", disse Leitzell. "Em dez anos, quando o governo federal decidir tudo, já seremos prósperos."
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