Há quase dois meses discute-se a implementação do programa “Mais Médicos” para atender as exigências dos manifestantes de junho. Vacilante, o governo foi apresentando uma sucessão de idéias incompletas que as corporações médica e acadêmica foram torpedeando implacavelmente. Com o decidido apoio da corporação jornalística.
Alberto Dines
Alberto Dines
À medida que a ideia se cristalizava, aumentava a histeria anticubana que se estendia a candidatos de outros países, especialmente Portugal e Espanha.
Gestos e opções
O exercício da medicina não pode ser examinado sem levar em conta o seu caráter humanitário. Levar médicos aos grotões do país – além de salvar vidas preciosas, contribuirá decisivamente para desmonetizar uma profissão que vem perdendo velozmente o seu caráter original, solidário e altruísta.
Acusa-se o PT de aparelhar o governo, porém a mesma obsessão ideológica domina os mais instintivos gestos e opções da grande e média imprensa brasileira.
Um jornalista que ouve o coração
Neste ambiente ríspido, desprovido de solidariedade, a coluna de Ricardo Noblat (segunda-feira, 26/8, O Globo, pág. 2) funciona como um alento e, talvez, como um divisor de águas.
O experiente repórter, editor e agora bem-sucedido blogueiro não se deixou enredar pelas armadilhas ideológicas, preferiu entregar-se aos valores morais, como se fazia antigamente quando os jornalistas naquelas redações barulhentas ouviam as batidas do coração e a pressão da consciência.
“Só vejo vantagens” – apesar do pragmatismo e objetividade do título, trata-se de uma calorosa convocação para que os jornalistas deixem as trincheiras partidárias que tanto prejudicam os seus dotes narrativos e se entreguem a devoções mais profundas, essenciais.
“Mais Médicos” é um programa da saúde pública. “Mais humanidade” pode ser um projeto de renovação jornalística.
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