Dois decretos legislativos do Congresso Nacional causaram alvoroço em fins de maio e início de junho de 2011. Os decretos de número 136 e 137, promulgados pelo presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB/AP), autorizavam, respectivamente, a realização de plebiscito sobre a criação dos estados de Carajás e Tapajós no território do Pará.
Cassius Guimarães
Cassius Guimarães
A consulta à população paraense foi marcada para dezembro de 2011. Com a população bastante dividida no plebiscito 66,6% rejeitaram a criação de Carajás e outras 66,1% a do Tapajós. Se todos os dez projetos de lei existentes fossem aprovados, o Brasil ganharia sete estados e três territórios (veja mapa).
De acordo com informações da Agência Câmara, são dois projetos de estados e três de territórios na região Norte - do Rio Negro, do Solimões e do Oiapoque -, três estados no Nordeste - Maranhão do Sul, Gurgueia e Rio São Francisco - e outros dois estados no Centro-Oeste - Mato Grosso do Norte e Araguaia.
MUDANÇAS NOS REPASSES
Regina Araújo, professora de geografia humana na Universidade de São Paulo (USP) e autora de livros e manuais de geografia do Brasil, pontua que o impacto da eventual divisão de um estado no Brasil depende da população analisada. No caso paraense, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que Carajás custaria cerca de 22% de seu PIB e Tapajós, 39%, enquanto no estado do Pará atual as cifras ficam em 16%. "Uma eventual divisão poderia ter como consequência uma nova repartição territorial dos recursos, o que poderia melhorar as péssimas condições de infraestruturas vigentes, por exemplo, nas cidades do atual leste do Pará", conta.
NOVOS ESTADOS PODEM SER INVIÁVEIS
Curiosamente, o projeto recém-desarquivado do Rio São Francisco apresenta situação semelhante. Os gastos conjuntos dos estados do Rio São Francisco e da Bahia seriam 5,7% maiores do que o custo estatal da Bahia sem a divisão. O Rio São Francisco teria 34 municípios e 6% tanto da população quanto do PIB baiano. Seus custos de manutenção ficariam em torno de R$ 1,6 bilhão por ano - 29% de seu PIB. O aumento dos gastos não é o único problema nos projetos. "São necessários cautela e estudos mais profundos sobre a situac'ão economica e financeira da região para embasar as proposic'ões de criac'ão de novos estados", afirma Boueri no relatório.
A preocupação com a viabilidade é partilhada no Congresso pela Frente Parlamentar de Fortalecimento dos Estados e Municípios e Contra a Criação de Novos Estados, liderada pelo deputado Zenaldo Coutinho (PSDB/PA). Já na instalação da frente, em outubro de 2007, Coutinho ressaltou a importância de se analisarem a fundo as reais condições de criação de cada estado antes do prosseguimento dos projetos.
EVOLUÇÃO DA DIVISÃO GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
A consolidação das fronteiras do Brasil com seus vizinhos na América do Sul ocorreu na gestão do Barão do Rio Branco no Ministério das Relações Exteriores (1902-1912). A primeira divisão em macrorregiões - Norte, Nordeste, Leste, Sul e Centro-Oeste - foi oficializada em 1942. Alguns territórios foram extintos com a promulgação da Constituição de 1946, como é o caso de Ponta Porã, incorporado ao Mato Grosso. Outros permaneceram até a Constituição de 1988, quando se transformaram em estados, como Rio Branco (atual estado de Roraima) e Guaporé (atual Rondônia), ou foram incorporados a estados já existentes (Fernando de Noronha é distrito de Pernambuco.) A região Leste - que agrupava Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Guanabara (incorporado ao estado do Rio de Janeiro) e Espírito Santo - foi extinta em 1970. Sergipe e Bahia ficaram no Nordeste. São Paulo, que fazia parte do Sul, foi incorporado ao Sudeste. "A decisão [de mudanças geopolíticas] poderá ou não basear-se em pesquisas científicas sobre o território, mas não deixará de lado questões de ordem política, nem sempre as mais racionais", afirma Maria Célia Serra, historiadora e geógrafa pela USP e professora do Grupo de Humanidades.
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