quinta-feira, 2 de maio de 2013

Energia eólica, geração de empregos e desenvolvimento sustentável



A energia eólica no Brasil passou por um período de lento crescimento, porém, os projetos contratados nos últimos três anos deverão quintuplicar a capacidade instalada. É a tecnologia limpa que mais tem crescido na última década, trazendo benefícios ambientais e sociais para diversos países. Nosso trabalho buscou quantificar a geração de empregos diretos e indiretos pela energia eólica no país. Até 2020, serão gerados 195 mil empregos, e 70% desses são diretos, a maioria na construção civil, com grande potencial para a criação de empregos em localidades rurais. Assim, a energia eólica deverá contribuir decisivamente para o desenvolvimento sustentável do país.

Moana Simas E Sergio Pacca
Introdução
A adoção de energias alternativas tem sido amplamente buscada desde a década de 1970, quando as crises do petróleo levaram diversos países a procurar a segurança no fornecimento de energia e a redução da dependência da importação de combustíveis. Recentemente, as preocupações ambientais se tornaram o maior motor para a busca de alternativas mais limpas de produção de energia. Entre essas alternativas, a energia eólica é uma que despertou significativa atenção durante as últimas décadas.
A preocupação com as mudanças climáticas e os esforços para a redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), a partir da assinatura do Protocolo de Quioto, em 1997, levaram à busca por alternativas que pudessem suprir as necessidades econômicas e, ao mesmo tempo, gerar menos impactos ambientais. Entre as medidas, uma das mais populares foi o investimento crescente em fontes renováveis de energia, como a energia eólica. Segundo o Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC), essa fonte de energia oferece um grande potencial para a redução das emissões de GEE. Globalmente, apesar de distribuído de maneira não uniforme entre os países, o potencial técnico da energia eólica é maior que a produção mundial de eletricidade. Considerando barreiras políticas, econômicas e tecnológicas, estima-se que ela poderia suprir até 20% da demanda mundial de energia elétrica até 2050 (IPCC, 2011).
Os altos custos iniciais e o estágio de desenvolvimento dessa tecnologia em relação às tecnologias tradicionais disponíveis no mercado, no entanto, conferiam à energia eólica uma característica de baixa competitividade. As barreiras técnicas e econômicas levaram à necessidade de incentivos econômicos e regulatórios, o que levou à adoção de políticas de apoio às energias renováveis em diversos países. Em 2005, apenas 55 países adotavam algum tipo de incentivo às fontes renováveis, enquanto no início de 2011 tais políticas estavam presentes em 118 países (REN21, 2011).
A adoção de incentivos para a energia eólica levou ao aumento da sua participação em diversos países, e ocorreu um alto crescimento a partir de 1996, que se fortaleceu a partir de 2004. Em 2011, a capacidade eólica em operação no mundo chegou a 238 GW (GWEC, 2012). Contudo, a crise financeira de 2008 arrefeceu o mercado de energia eólica na Europa e nos Estados Unidos, principais mercados para essa tecnologia. Tal fato fez que grandes empresas diversificassem a sua atuação, voltando seus investimentos para mercados emergentes, como o Brasil.
Uma das principais motivações observadas hoje no discurso em apoio às energias renováveis em nível mundial é a busca pelo desenvolvimento sustentável. A definição de desenvolvimento sustentável, surgida no ano 1987 no relatório intitulado "Nosso Futuro Comum", é aquele que supre as necessidades das gerações presentes sem, no entanto, comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades. Apesar de não definir quais são as necessidades, o relatório deixa claro que o desenvolvimento sustentável está relacionado não só com a economia, mas também com o meio ambiente e a sociedade. Conforme o relatório, "A mais básica de todas as necessidades é para o sustento: isto é, emprego" (tradução nossa) (United Nations, 1987, p.64).
Durante as últimas décadas, foram realizados diversos estudos para avaliar os efeitos econômicos e ambientais da utilização das energias renováveis, especialmente em relação à mitigação das emissões de GEE dos sistemas energéticos e os efeitos das políticas climáticas na economia. Devido às preocupações com o aumento do preço da energia decorrente da utilização dessas tecnologias, surgem diversos estudos para verificar sua consequência sobre o nível de emprego e o potencial para a geração de novos empregos por esses sistemas.
Apesar, no entanto, de ser praticamente consensual a ideia de que a geração de empregos é mais intensa em energias renováveis do que em energias fósseis, como mostram as compilações de estudos científicos analisadas em Unep/ILO/IOE/Ituc (2008) e em Rutovitz e Atherton (2009), estudos realizados anteriormente diferem muito quanto aos resultados encontrados. A análise desses estudos permite afirmar que não há consenso sobre premissas e metodologias para as estimativas, e os dados apresentados de maneira agregada não permitem a comparação entre os resultados ou a utilização desses para estimativas em outros contextos senão o estudado.
Por outro lado, grande parte das estimativas de criação de empregos em tecnologias de energias renováveis concentra-se na América do Norte e na Europa, havendo poucos estudos referentes a mercados emergentes, nos quais a tecnologia e a produção apenas começam a se desenvolver, atribuindo-se pouca importância aos efeitos da importação e exportação de equipamentos sobre o nível de empregos.
Ainda é baixa a contribuição da energia eólica para a capacidade de geração de energia elétrica no Brasil, e ainda menor é sua participação na oferta de energia. Entretanto, nos últimos anos, o setor de energia eólica experimentou um rápido aumento no número de projetos contratados, e a capacidade instalada de energia eólica deve aumentar em mais de 450% em apenas cinco anos. A indústria de aerogeradores também vem experimentando rápido aumento, e é esperado que a capacidade de produção aumente significativamente entre 2012 e 2013.
Diante desse panorama, é essencial que se avalie o impacto que o rápido crescimento do setor eólico terá sobre a economia brasileira, especialmente em relação ao seu potencial de geração de empregos, de modo a oferecer uma base para subsidiar a formulação e gestão de políticas energéticas e industriais para o setor eólico e avaliar a sua possível contribuição para o desenvolvimento sustentável.

Moana Simas é mestre em Energia pela Universidade de São Paulo, assistente de Pesquisa no Departamento de Ecologia Industrial da Norwegian University of Science and Technology (NTNU) e membro da ISIE - Sociedade Internacional de Ecologia Industrial.
Sergio Pacca é professor associado da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade da Universidade de São Paulo, professor do Programa de Pós-Graduação em Energia da Universidade de São Paulo, coordenador do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Políticas e Regulação de Emissões de Carbono e Membro da ISIE - Sociedade Internacional de Ecologia Industrial.

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