Globonews promove debate e discute se Comissão da Verdade é 'revanchista'
É evidente que a Comissão não é suficiente por si só, mas vem servir ao exercício democrático; isto quando não atacada pelas mesmas instituições e grupos (de televisão, políticos e econômicos) que cometeram e/ou ajudaram as atrocidades que esta mesma comissão investiga.
Caio Sarack
O programa Painel do fim da semana passada, exibido na Globonews, teve como tema a Comissão Nacional da Verdade. Entre os convidados, estavam José Arthur Giannotti, filósofo e professor emérito da USP, Marco Antônio Villa, historiador e professor da UFSCar, e Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria. Regido por Willian Waack, o programa tentou problematizar a comissão: ineficaz ou não, revanchista ou justa, o que é a Comissão da Verdade para os ilustrados da nossa televisão?
Vítima da ditadura, Giannotti teve sua aposentadoria forçada e sofreu um interrogatório violento no DOI-Codi de São Paulo (segundo o professor, ocorrido na fase menos repressora do regime). Villa, verborrágico e obcecado pelo regime getulista, fez comparações que procuravam abrandar o regime militar. Cortez reiterou muito do que foi dito e ressaltou que "o papel central do Brasil é reconhecer normativamente a violência de Estado que cometeu na ditadura".
A Carta Maior publicou nesta semana ("Repressão começou antes da luta armada, reforça Comissão da Verdade", dia 22) dados de documentos que comprovam o início da tortura antes da luta armada. Um aval com o qual até nosso historiador Villa concorda, sem se dar conta quando dá mais importância ao fato de a violência estar transversalmente na estrutura estatal do regime (e da história brasileira) do que no contingente do conflito armado.
No entanto, Villa teve de se redimir com o conservadorismo que lhe parece ser essencial: "o papel da esquerda foi de transformar luta política em guerra. Não há mais política em guerra". A reportagem de Vinicius Mansur rechaça o professor duas vezes em uma só tacada, primeiro porque foi uma historiadora a responsável pela pesquisa (Villa tinha dito no programa que não existiam historiadores na Comissão) e segundo - por raciocínio lógico: como imputar culpa à luta armada da esquerda se as torturas começaram antes?
A Comissão da Verdade anda, mesmo que a passos curtos, e muito se diz sobre a tentativa de revanchismo; com o avanço das pesquisas, entretanto, fica cada vez mais difícil sustentar essa denúncia. O Estado, historicamente detentor do monopólio da violência, no regime militar (corrupto, já que não a serviço do interesse público), atingiu níveis de violência que remontam ao nazismo, com base na comparação feita por Giannotti entre o Coronel Ustra e o carrasco nazista Eichmann.
É incontestável a utilidade pública que a comissão assume. Diante disso, temos ataques à democratização deste processo. Um exemplo é o da Universidade de São Paulo, onde depois de mobilização e militância de estudantes, funcionários e professores, e eleição paritária para definir seus integrantes, o reitor João Grandino Rodas liberou por meio de uma portaria uma comissão alheia à que foi decidida em debate democrático.
É evidente que a comissão não é suficiente por si só, mas vem exibir e servir ao exercício democrático; isto quando não atacada pelas mesmas instituições e grupos (de televisão, políticos e econômicos) que cometeram e/ou ajudaram as atrocidades que esta mesma comissão investiga.
Colaborou Caio Hornstein
Vítima da ditadura, Giannotti teve sua aposentadoria forçada e sofreu um interrogatório violento no DOI-Codi de São Paulo (segundo o professor, ocorrido na fase menos repressora do regime). Villa, verborrágico e obcecado pelo regime getulista, fez comparações que procuravam abrandar o regime militar. Cortez reiterou muito do que foi dito e ressaltou que "o papel central do Brasil é reconhecer normativamente a violência de Estado que cometeu na ditadura".
A Carta Maior publicou nesta semana ("Repressão começou antes da luta armada, reforça Comissão da Verdade", dia 22) dados de documentos que comprovam o início da tortura antes da luta armada. Um aval com o qual até nosso historiador Villa concorda, sem se dar conta quando dá mais importância ao fato de a violência estar transversalmente na estrutura estatal do regime (e da história brasileira) do que no contingente do conflito armado.
No entanto, Villa teve de se redimir com o conservadorismo que lhe parece ser essencial: "o papel da esquerda foi de transformar luta política em guerra. Não há mais política em guerra". A reportagem de Vinicius Mansur rechaça o professor duas vezes em uma só tacada, primeiro porque foi uma historiadora a responsável pela pesquisa (Villa tinha dito no programa que não existiam historiadores na Comissão) e segundo - por raciocínio lógico: como imputar culpa à luta armada da esquerda se as torturas começaram antes?
A Comissão da Verdade anda, mesmo que a passos curtos, e muito se diz sobre a tentativa de revanchismo; com o avanço das pesquisas, entretanto, fica cada vez mais difícil sustentar essa denúncia. O Estado, historicamente detentor do monopólio da violência, no regime militar (corrupto, já que não a serviço do interesse público), atingiu níveis de violência que remontam ao nazismo, com base na comparação feita por Giannotti entre o Coronel Ustra e o carrasco nazista Eichmann.
É incontestável a utilidade pública que a comissão assume. Diante disso, temos ataques à democratização deste processo. Um exemplo é o da Universidade de São Paulo, onde depois de mobilização e militância de estudantes, funcionários e professores, e eleição paritária para definir seus integrantes, o reitor João Grandino Rodas liberou por meio de uma portaria uma comissão alheia à que foi decidida em debate democrático.
É evidente que a comissão não é suficiente por si só, mas vem exibir e servir ao exercício democrático; isto quando não atacada pelas mesmas instituições e grupos (de televisão, políticos e econômicos) que cometeram e/ou ajudaram as atrocidades que esta mesma comissão investiga.
Colaborou Caio Hornstein
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