domingo, 26 de maio de 2013

Quando o professor sabe dialogar com a mídia


Talita Moretto
Jornalista especialista em Tecnologias na Aprendizagem, coordenadora de Programa Jornal e Educação, atuando na interface mídia e educação desde 2008.
Adital
Hoje vou compartilhar com vocês uma relação amistosa entre escola e mídia, ou melhor, entre alunos, professores e a comunicação.
Quando uma escola estadual no Paraná começou a levar o jornal para as salas de aula, os resultados esperados eram alunos discutindo a partir das notícias – muito próximas deles já que se tratava de um meio de comunicação da cidade -, emitindo opinião a respeito do que liam e discutindo com colegas, com a mediação dos professores, em sala de aula. Esperava-se que o jornal fosse contribuir com o currículo escolar, ajudando no aperfeiçoamento dos planos de aula, enriquecendo o conteúdo trazido pelos livros e outros materiais didáticos; esperava-se ver o jornal impresso como um instrumento novo de ensino. Porém, o que se viu acontecer foi muito além disso, muito mesmo.
A partir da iniciativa de uma professora de Matemática (Sim! Matemática!) os alunos hoje não só discutem os assuntos que estão na mídia, mas produzem a sua própria informação e a divulgam através de um blog criado especialmente para esta partilha de saber. Um espaço virtual que ganhou o nome mais apropriado: "Imprensa Aprendiz” (imprensaaprendiz.com) porque, afinal, a educação acontece quando se ensina e se aprende.
No blog, os jovens produzem o conteúdo de seu interesse: vale texto escrito, desenho (muitos talentos estão sendo revelados por entre as salas de aula), poemas, dicas de livros e culinária. E tem até colunistas. Ex-alunos são convidados a escrever artigos falando de suas vivências ao sair da escola. Muitos escrevem sobre como é estar na universidade revelando, inclusive, as matérias que estão estudando no seu curso e como são as avaliações e trabalhos neste novo mundo de ensino. Professores escrevem sobre os assuntos que dominam, que têm interesse, que acham importantes, seja no meio escolar, experiências acadêmicas ou pessoais. Importantes discussões acerca de temas como preconceito, bullying, valores familiares, são debatidos. Enfim, a escola está se revelando nas páginas do blog, os alunos estão se reconhecendo como produtores de informação, se percebendo como cidadãos participativos no meio, e todo o ambiente escolar está ganhando um "rosto” na cidade.
Algumas das produções dos alunos também são publicadas em jornal de circulação de massa - aquele mesmo que começou tudo isso, aquele que os alunos liam e parecia algo de "gente bem grande e adulta”. Todos estão percebendo que a sua voz pode ser ouvida e que o diálogo é essencial para um bom convívio na sociedade.
E o "Imprensa Aprendiz” não está somente na web. A comunidade em torno da escola pode ter acesso à informação produzida pelos alunos através de um jornal escolar bimestral, que leva o mesmo nome e possibilita que tudo seja divulgado mesmo no ambiente "off-line”. E não podemos esquecer do mural. A Internet não "anda rápida”, o impresso não chegou às suas mãos? Não tem problema, passa lá no hall de entrada do colégio que tem bastante coisa para ser lida bem ali no mural, inclusive, os recortes do jornal da cidade, com as publicações dos alunos, estão disponíveis.
Aqui está um verdadeiro relacionamento sustentado pela confiança dessa professora nos meios de comunicação, que deixou para traz os receios em articular discussões a partir de assuntos, muitas vezes, pesados para a faixa etária, mas tão importante para a formação do cidadão. Essa mesma professora foi quem deu autonomia e disse para os jovens "façam que eu apoio vocês”.
Após um ano de experiências, vejo nitidamente em minha frente estudantes (que têm entre 13 e 17 anos) com capacidade de articular suas opiniões, de contribuir com a sociedade, preocupados com questões políticas e econômicas mesmo distantes do mundo dos adultos, com vontade de ler um jornal, uma revista, ver um noticiário, e afoitos por informar a sua comunidade sobre o que sabem e pensam. Jovens que recebem a informação e são capazes também de transmiti-la, sem medo das outras discussões que acabam por fomentar.

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