terça-feira, 1 de outubro de 2013

Hoje é dia do idoso: 5 são massacrados por hora


DEBATE ABERTO

Hoje é dia do idoso: 5 são massacrados por hora

O Estatuto do Idoso está completando dez anos e a violência não diminuiu. Nenhuma lei a médio prazo reduz a criminalidade. O que está nos faltando? Ética. Durante boa parte do nosso dia praticamos ações automáticas: ações introjetadas no nosso dia-a-dia. Não questionam nossa liberdade de dizer sim ou não.

Nosso selvagerismo (que diminui a cada dia, mas continua intenso; não passamos ainda do grande meio-dia de Nietzsche) massacra 5 idosos por hora (Fabiana Maranhão, UOL). Qual seria a raiz desse brutal atraso? Muitas teorias. Uma delas: Deus fez o Universo e o dispôs de maneira hierarquizada (ideias ambientadas no século XIV pelos teólogos da Universidade de Coimbra, para justificar a Monarquia Absoluta) (veja Marilena Chaui). As pessoas superiores possuem aptidões e poderes sobre as inferiores. Quem são os inferiores (consoante tal teoria)? As mulheres, as crianças, os escravos, os índios, os imigrantes... e os idosos. Isso se chama mandonismo, que é o pai do autoritarismo (a forma como tratamos “os inferiores”, massacrando-os como se fossem coisas). 

O Estatuto do Idoso está completando dez anos e a violência não diminuiu. Nenhuma lei a médio prazo reduz a criminalidade. O que está nos faltando? Ética. Durante boa parte do nosso dia praticamos ações automáticas: levantamos, escovamos os dentes, tomamos café, nos arrumamos, pegamos o carro, saímos para o trabalho, cumprimentamos as pessoas que encontramos etc. Automatismo puro. Ações introjetadas no nosso dia-a-dia. Não nos exigem decisões. Não questionam nossa liberdade de dizer sim ou não. 

Fazemos coisas porque nos ensinaram assim. Há outros momentos em que temos que tomar uma decisão: sim ou não! Aborto: Fazer ou não fazer? Propina para o guarda da esquina: Dar ou não dar? Se relacionar sexualmente com outra pessoa: Sim ou não? Autorizar a ortotanásia de um ente querido: Sim ou não? Idoso que julgamos inferior: Massacrar ou não massacrar? 

Nesses momentos entram a Ética e toda nossa história de vida (caráter, formação cultural, nível ético etc.). Nossas crenças, convicções, nosso preparo para a vida. Há instantes que nos exigem uma resposta, em questão de milésimos de segundos, e se não a temos bem formada, bem estruturada, começam os grandes equívocos da nossa vida (errante). Se é você que toma as suas decisões, não há como não concluir que é você o protagonista da sua vida, por ação ou omissão. E é bom mesmo que sejamos os protagonistas, pois do contrário passamos a ser apenas cúmplices ou comparsas das nossas vidas (conduzidas por outras pessoas). 

Não vale a pena viver a vida apenas como figurante. A imagem do mundo e da vida como um teatro é antiga (Savater). Chaplin dizia” A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos” (Charles Chaplin). Vivemos diariamente nossos personagens. Sempre estamos ou estão nos empurrando para o centro do palco. E aí vão aparecendo as tramas diárias (para muitas delas nem sequer estamos preparados, se não contamos com uma boa base ética). Nos exigindo decisões, como a de respeitar ou não respeitar todos os outros seres humanos, a natureza, os animais assim como o bom uso das tecnologias. Em todo instante é assim.

Faço ou não faço? Massacro esse idoso ou não? Bato nas mulheres ou não? Sigo a vida certa ou a vida errada? Faço o certo ou o equivocado? Isso se chama ética, que orienta nossos comportamentos morais (abominando os imorais). A ética, assim, nos ensina a ser gente ou sub-gente. É uma questão de escolha. Porque a liberdade (até certa altura) só depende mesmo de um sim ou de um não (Octávio Paz). Que rumo estamos dando para nossas vidas? 

Antes que você fique contorcendo de saudades, cantando “naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim”, faça algo agora, já, imediatamente, de respeito a ele... Que tal?

Luiz Flávio Gomes é jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil 
(www. institutoavantebrasil.com.br).

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