quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Chuvas de agosto ajudam cafeicultura e pecuária, mas prejudicam olericultura


O mês de agosto registrou um número bastante elevado de chuvas no Espírito Santo. Em algumas regiões do Estado, chegou a chover dez vezes acima da média histórica registrada pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). No entanto, esse volume elevado de chuvas não foi prejudicial para todas as regiões capixabas. A produção agrícola foi bastante beneficiada em alguns municípios, embora tenha sido prejudicada em outras localidades.

De acordo com o meteorologista do Incaper, Bruce Pontes, conforme os dados anotados entre 1971 a 2000, a média climatológica calculada para o mês de agosto pelo Incaper indica, aproximadamente, de 25 a 50 mm de chuva para a maior parte do Espírito Santo, sendo que nas regiões Centro Serrano, litoral Sul e na Grande Vitória, a média fica entre 50 e 75 mm.


 

Mapa de Precipitação Média entre Agosto de 1971 a 2000.


“Em condições normais, o mês de agosto caracteriza-se por pouquíssimas chuvas, formação de nevoeiros, temperaturas mínimas baixas e temperaturas máximas relativamente mais altas do que nos outros meses do inverno. Costuma ocorrer episódios de baixa umidade relativa do ar e até mesmo queimadas por causa da seca. No entanto, não foi o que houve neste ano. O mês foi atípico, chovendo na maior parte do Espírito Santo”, explicou Bruce Pontes.



 

Mapa de Anomalia de Precipitação em Agosto de 2012.


Chuva beneficia produção nas regiões Norte e Sul do Espírito Santo

Para a produção agrícola capixaba, o volume de chuvas atípico favoreceu bastante algumas lavouras, sobretudo nas regiões Norte e Noroeste. Os municípios de Boa Esperança, Marilândia e Ecoporanga registraram os maiores índices de chuva da região, sendo 210,4mm, 183,6mm e 178,4 mm, respectivamente. Em Vila Valério, onde choveu 144,9mm, os agricultores comemoraram a precipitação inesperada.

“A chuva no mês de agosto é até emocionante, pois eu não vi isso acontecer nos últimos 30 anos. Beneficiou o produtor, pois veio no momento certo, sobretudo para o café, que está no período de florada. Também favoreceu o plantio de outras culturas”, disse o agricultor do Córrego da Saúde, em Vila Valério, Ozílio Partelli. Ele informou que a chuva ajudou a abastecer os córregos e represas, o que auxiliará na irrigação nos próximos períodos. Em sua propriedade, ele cultiva também cacau, coco e pimenta.

De acordo com o coordenador do Programa Estadual de Cafeicultura do Incaper, Romário Gava Ferrão, as chuvas deste mês beneficiaram o café conilon, pois ocorreram no período de floração. “Nessa época, que costuma ser mais seca, as chuvas auxiliaram a fertilização do solo, adiantando a adubação, e favoreceram o pegamento do fruto. Os reservatórios de água mantiveram o nível, o que garante, mesmo com uma futura estiagem, recursos hídricos para irrigar a lavoura”, informou Romário. 




Chuva favorece floração do café conilon.


Na Região Sul, os municípios de Alfredo Chaves e de Presidente Kennedy registraram os maiores volumes de chuva, sendo 238,4mm e 93,6mm, respectivamente. Houve maior incidência de precipitações no litoral sul do que na região do Caparaó. De acordo com o chefe do Escritório Local de Desenvolvimento Rural (ELDR) de Alfredo Chaves, Alciro Lamão Lazzarini, a chuva, em geral, também foi benéfica para a produção agrícola no município. “As nascentes foram recarregadas e a área de pastagem ficou mais verde, beneficiando a pecuária leiteira. Também foi positivo para a cultura da banana”.




Pecuária leiteira é beneficiada com chuva.


Os benefícios da chuva para a pecuária leiteira foram confirmados pelo presidente da Cooperativa de Laticínios de Alfredo Chaves (CLAC), Rolmar Potecchia: “Nesse período do ano, a produção de leite costuma cair em até 15%. Com a chuva, as pastagens melhoraram e a produção leiteira foi estabilizada, não havendo redução na produção”. Ele informou que a produção permaneceu em torno de 26 mil litros de leite por dia. 

De acordo com o coordenador da metereologia do Incaper, José Geraldo Ferreira da Silva, o grande volume de precipitação do mês de agosto não foi prejudicial a essas regiões devido ao tipo de chuva. “As chuvas foram muito frequentes, mas a intensidade foi de fraca a moderada. Dessa forma, se houver um bom manejo de solo, as lavouras não sofrem danos”, explicou. Ele também disse que as culturas mais prejudicadas foram as mais sensíveis.

Produção de morango e hortaliças é prejudicada na Região Serrana

O excesso de chuvas na Região Serrana do Espírito Santo não foi tão vantajosa para a produção agrícola como nas outras localidades. No município de Santa Teresa, por exemplo, o volume de chuva registrado durante o mês de agosto foi dez vezes acima da média histórica, sendo de 587,6 mm. Já em Marechal Floriano, o volume foi de 329,8 mm. As culturas mais prejudicadas nessas localidades foram a do morango e de olerícolas, sobretudo as hortaliças.

O pesquisador do Incaper, Helcio Costa, informou que no Centro Serrano há produtores que perderam de 50 a 60% da produção de morangos devido a doenças provocadas por fungos, como o “mofo cinzento” e a “flor preta”. “Os produtores que cultivam em
campo aberto estão preocupados e devem abandonar a cultura em pouco tempo, o que não aconteceu em anos anteriores, quando se cultivava morangos até
outubro”, informou Helcio. Ele disse que o fungo se espalha pelo canteiro, contaminando as outras plantas sadias.




Mofo cinzento no morango.


De acordo com o chefe da área de pesquisa do Incaper, José Aires Ventura, o excesso de chuva favorece a proliferação de doenças nas plantas devido à alta umidade. “Há perda na produção e redução na qualidade dos produtos. No caso das hortaliças, a bacteriose tem se destacado com uma das doenças mais prejudiciais. Ela foi introduzida na Região Serrana por mudas contaminadas”, disse Aires. Ele recomendou que as folhas de hortaliças com aspecto apodrecido sejam retiradas e que as demais sejam lavadas para evitar a contaminação.

Em períodos de excesso de chuva, é comum o aumento no uso de formas de controle a pragas e doenças. Para esses casos, o pesquisador do Incaper orienta sobre como utilizar esses produtos. “Recomenda-se, primeiramente, o uso de alternativas de controle naturais. Caso haja utilização de agrotóxicos, deve-se usar apenas produtos registrados e respeitar o intervalo de segurança entre a aplicação do produto e a realização da colheita”, recomendou José Aires. Ele lembrou que o resultado do impacto das chuvas para o consumidor tende a ser o aumento no preço dos produtos, pois as atividades extras de controle de doenças encarecem a produção.

O agricultor de Marechal Floriano, Douglas Kuster, explicou como sua produção de hortaliças foi impactada pelo excesso de precipitação. “Com a chuva, há perda direta das hortaliças, pois elas são contaminadas por bactérias que se proliferam muito em períodos seguidos sem sol. Também ocorre a perda da qualidade”, explicou. Ele também disse que, com a terra ‘enxarcada’ não é possível fazer novos plantios, pois a muda morre antes de crescer. No mês de agosto, esse produtor perdeu 50% da sua produção.

As chuvas de agosto também impactaram a colheita do café arábica nas regiões de altitude mais elevada. De acordo com o chefe do ELDR de Marechal Floriano, Ubaldino Saraiva, em algumas regiões do município apenas 30% da colheita do café arábica havia sido concluída no período da chuva. “O frio excessivo acompanhado da chuva contínua dificultou a colheita do arábica”, informou Ubaldino.


Chuvas são causadas pelo posicionamento anômalo e maior intensidade do sistema de alta pressão sobre o oceano
 
Um dos principais motivos que ocasionaram o tempo instável na maior parte deste mês foi o posicionamento mais para o Sul do sistema de alta pressão, que atua sobre o oceano durante todo o ano, e a sua forte intensidade, o que fez com que os ventos soprassem do mar para o Estado, elevando os níveis de umidade nas regiões capixabas.
 
“A presença de um cavado durante vários dias e, em alguns momentos, de um vórtice ciclônico, em médios níveis da atmosfera, também acima do oceano, favoreceu a instabilidade por causa dos movimentos ascendentes de ar ligados a ele. Anomalias positivas na temperatura da superfície do Oceano Atlântico Sul, inclusive nas proximidades da costa capixaba, também contribuiu com maior disponibilidade de vapor d'água”, explicou o meteorologista Bruce Pontes.



 

Mapa de Precipitação em Agosto de 2012.


Para o coordenador da meteorologia do Incaper, José Geraldo Ferreira da Silva, o monitoramento realizado pelo Incaper nas estações metereológicas possibilitou a divulgação contínua da previsão do tempo ao longo de todo mês. “Com a previsão do tempo, os produtores rurais podem planejar suas atividades e se preparar para minimizar os problemas do excesso de chuva. É um serviço gratuito, de utilidade pública para toda a sociedade”. 

Para ter acesso às previsões do tempo diárias do Incaper, acesse www.hidrometeorologia.incaper.es.gov.br 

Informações à imprensa:
Assessoria de Comunicação – Incaper
Eduardo Brinco/Juliana Esteves/Luciana Silvestre
Texto: Luciana Silvestre
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