Mais de 900 telegramas diplomáticos mostram como as embaixadas americanas tentam quebrar a resistência aos produtos geneticamente modificados fora dos Estados Unidos
Audrey Garric
Audrey Garric
Como sabemos, os organismos geneticamente modificados (OGM) são objeto de “lobbying” por parte das empresas da indústria da biotecnologia como Monsanto, Syngenta, Bayer e outras. Mas o que a gente menos suspeita é que uma parte desta oferta ativa, até mesmo agressiva, é conduzida por anos pelos diplomatas americanos nos mais numerosos países do mundo.
A ONG americana “Food and Water Watch” analisou e compilou, num relatório publicado terça-feira, 14 de maio, 926 telegramas diplomáticos enviados entre o departamento de Estado americano e as embaixadas de 113 países estrangeiros, entre 2005 e 2009. É uma campanha cuidadosamente projetada para quebrar a resistência aos produtos geneticamente modificados fora dos Estados Unidos, e assim ajudar a promover os produtos das grandes empresas agroquímicas americanas, que dominam a produção de milho, soja e de algodão do outro lado do Atlântico.
O relatório oferece outro discernimento do poder desta indústria, após que a Corte Suprema levou seu apoio, segunda-feira, à Monsanto, contra um pequeno agricultor da Índia acusado de ter transgredido suas patentes na utilização de sementes transgênicas.
RELAÇÕES PÚBLICAS
Os telegramas, publicados pela “WikiLeaks” em 2010, colocam, inicialmente, em esclarecimentos a estratégia das relações públicas, via dezenas de conferências, eventos e viagens, todas despesas pagas pelos Estados Unidos, visando a convencer cientistas, mídias, industriais, agricultores e funcionários eleitos das vantagens e da ausência do perigo dos produtos geneticamente modificados – cuja a questão do risco e dos rendimentos é posta.
Entre os muitos exemplos revelados pelo relatório, um telegrama de 2005 indica que um circuito nas quatro cidades italianas pró-OGM, organizada pelo consulado de Milan, tinha desembocado em uma entrevista de quatro páginas na revista “L’Espresso”, dessa forma retomadas nos cotidianos e à televisão. Em 2008, para evitar a Polônia de proibir os OGM na alimentação do gado, o departamento de Estado tinha também convidado uma delegação do ministério polonês da agricultora a encontrar especialistas, incluindo do departamento de agricultura americana. Entre 2005 e 2009, 28 viagens foram organizadas, desse modo, aos Estados Unidos, com as delegações de 17 países.
PRESSÕES E CAMPO JURÍDICO
Os diplomatas americanos também deviam facilitar as relações entre as empresas de biotecnologias e os governos estrangeiros, incluindo os países em desenvolvimento como o Quênia ou Gana, para promover não somente as políticas favoráveis às biotecnologias e à patente do vegetal, mas também os produtos e exportações dessas empresas. Em 2005, a embaixada da África do Sul informava, dessa forma, à Monsanto e Pioneer de duas vagas de trabalhos no seio da agência governamental de regulação das biotecnologias, sugerindo a elas de propor “candidatos qualificados”.
Finalmente, o esforço do departamento de Estado também é implantado no campo jurídico: os diplomatas americanos instalados no exterior são, dessa forma, opostos às leis sobre a rotulação dos produtos OGM ou das regras de bloqueio de importação. E os Estados Unidos agarraram várias vezes a Organização Mundial do Comércio, incluindo contra a moratória dos sete países europeus sobre a cultura do milho MON810.
Segundo o relatório de “Food and Water Watch”, 70% dos telegramas enviados relacionavam-se às leis e regulações dos países estrangeiros quanto à agroquímica e 38% portavam sobre os países membros da União Européia, entre os mais adversos. No telegrama de 2009, a embaixada americana na Espanha pede, dessa forma, “uma intervenção do governo americano de alto nível”, ao “pedido urgente” da Monsanto, para lutar contra as oposições espanholas às culturas OGM. A embaixada dos Estados Unidos na França, tem, ela, proposto de ter uma conferência sobre o tema“como as biotecnologias podem responder às penúrias nos países em desenvolvimentos” para conter a imagem negativa cujo OGM sofrem na França metropolitana.
DINHEIRO DOS CONTRIBUINTES AMERICANOS
Na sequência da publicação desses telegramas, um dos porta-vozes da Monsanto, Tom Helscher, respondeu que era “crucial manter um diálogo aberto com as autoridades e industriais de outros países”. “Nós estamos engajados a ajudar os agricultores do mundo, como eles trabalham a responder à demanda alimentar de uma população em crescimento”, assegura ele.
“Isso vai realmente além da promoção da indústria das biotecnologias americana, retruca Wenoah Hauter, direção executiva da “Food and Water Watch”, citada por Reuters. Se trata de minar os movimentos democráticos locais que podem ser opostos às culturas OGM e de fazer pressão sobre os governos estrangeiros, a fim de reduzir também a vigilância sobre essas culturas”.
“ É revoltante constatar que o departamento de Estado é cúmplice no apoio à esta indústria, apesar da oposição do público e dos governos de muitos países, arrependidos de seu lado, nas colunas da agência de notícias, Ronnie Cummins, diretor da ONG Associação dos Consumidores Orgânicos. O dinheiro dos contribuintes americanos não deviam ser gastos para satisfazer os objetivos dos gigantes das bioteconologias”.
Tradução exclusiva para o Controvérsia:
Tereza Sandra Loiola Vasconcelos (francês)
Contato: terezavasconcelos@hotmail.com
Tereza Sandra Loiola Vasconcelos (francês)
Contato: terezavasconcelos@hotmail.com
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