domingo, 19 de maio de 2013

Estudo vê relação entre desemprego e casa própria, nos Estados Unidos



Ser dono de casa própria é algo bom, tanto para o indivíduo quanto para a sociedade. Ao menos foi nisso que os governos americanos, tanto republicanos quanto democratas, acreditaram por muito tempo. Os benefícios foram repetidamente citados para justificar a existência e a ampliação das deduções de impostos dadas aos compradores de casa própria.

Floyd Norris
Mas talvez as coisas não sejam tão boas quanto se pensava.

Um novo estudo por dois economistas conclui que o aumento do nível de casa própria em um Estado "é um precursor de aumentos acentuados no desemprego naquele Estado". Em outras palavras, quanto mais pessoas têm casa própria, menos pessoas têm empregos.

O estudo, por David G. Blanchflower, da Dartmouth, e Andrew J. Oswald, da Universidade de Warwick, Inglaterra, não argumenta que os donos de casa própria apresentam maior probabilidade de perderem o emprego do que os locatários. Mas ele argumenta que as áreas com alto nível de casa própria e em crescimento apresentam maior probabilidade de serem inóspitas à inovação e à criação de empregos, além de terem menor mobilidade de trabalho e gasto maior de tempo em trânsito para o trabalho.

"Nós descobrimos que uma taxa elevada de casa própria dizima lentamente o mercado de trabalho", disse Oswald.

No nível mais simples, os autores do estudo, divulgado pelo Instituto Peterson de Economia Internacional, apontam que os cinco Estados com maior aumento na taxa de casa própria de 1950 a 2010 --Alabama, Geórgia, Mississippi, Carolina do Sul e Virgínia Ocidental-- apresentavam uma taxa de desemprego 6,3 pontos percentuais mais alta do que em 1950. As taxas de desemprego nos cinco Estados onde a propriedade de casa própria cresceu menos --Califórnia, Dakota do Norte, Oregon, Washington e Wisconsin-- aumentaram 3,5 pontos percentuais no mesmo período.

Essas estatísticas não são persuasivas por conta própria, e os professores sabem disso. Muitos fatores obviamente influenciam as taxas de desemprego em qualquer Estado. O atual boom em Dakota do Norte deriva dos depósitos de energia, que estavam lá independentemente de quem fosse o dono das terras.

Mas eles dizem que as estatísticas mostram esses padrões independentemente de quanto controlem as outras variáveis e que o mesmo quadro surge se olharem para o crescimento do emprego em vez de taxas de desemprego. Eles disseram que o padrão existia antes do estouro da bolha do mercado imobiliário que ocorreu em 2007 e que as estatísticas independem da inclusão do período mais recente.

Se isso é verdade, por que poucos notaram isso antes? "Os intervalos de tempo são longos", eles escrevem, de até cinco anos antes do aumento da casa própria começar a afetar a taxa de desemprego na área. "Essa gradualidade pode explicar por que esses padrões importantes são tão pouco conhecidos."

Todavia, a ideia não é nova. Oswald apontou que alguns dados remontam 1996, dizendo que na Europa e nos Estados Unidos uma proporção maior de donos de casa própria parecia estar associada a um nível mais alto de desemprego. Mas outros pesquisadores logo concluíram que a evidência não apoiava a tese de que os donos de casa própria apresentavam maior probabilidade de desemprego do que os locatários, e a correlação foi em grande parte ignorada.

Se a correlação é real, qual seria a causa? Os professores dizem acreditar que o alto número de donos de casa própria em uma área leva as pessoas a permanecerem no local e a percorrerem distâncias cada vez maiores para o trabalho, criando custos e congestionamento para as empresas e outros trabalhadores. Eles especulam que o papel do zoneamento pode ser importante, já que as comunidades onde os proprietários são predominantes recorrem aos esforços "não no meu quintal" que bloqueiam novas empresas que criariam empregos. Talvez o setor de energia seria menos livre em Dakota do Norte se houvesse mais donos de casa própria.

A propriedade de imóveis, no jargão dos economistas, cria "externalidades negativas para o mercado de trabalho.

Na Finlândia, ocorreu uma espécie de teste da tese, disseram os professores. A Finlândia mudou suas leis de imóveis nos anos 90 visando desencorajar a aquisição de casa própria, colocando as mudanças em vigor em momentos diferentes e em regiões diferentes.

"Apesar dos proprietários apresentarem menor probabilidade de experimentarem o desemprego", concluiu Jani-Petri Laamanen, um economista da Universidade de Tempere que analisou o mercado imobiliário finlandês, "um aumento na taxa de casa própria causa um aumento no desemprego regional".

Até a crise do crédito, ser dono de casa própria era visto em geral nos Estados Unidos como uma coisa inquestionavelmente boa. O presidente George W. Bush, como seus antecessores, se gabava de um aumento na taxa de aquisição de casa própria em seu governo. Ele resumiu o consenso em 2005, quando proclamou junho como sendo o "Mês Nacional da Casa Própria".

"O aumento da aquisição de casa própria e a oportunidade nos ajudam a dar aos nossos cidadãos uma participação vital no futuro da América e a chance de concretizar a grande promessa de nosso país", ele escreveu. "Um lar fornece às crianças um ambiente seguro, no qual crescer e aprender. Um lar também é um ativo tangível que fornece aos proprietários um poder de tomada de empréstimo e permite aos nossos cidadãos construir riqueza que podem legar aos seus filhos e netos."

Ser proprietário de um imóvel, concluiu o presidente, é "um alicerce da economia americana, ajudando a aumentar o emprego, a estimular a demanda por bens e serviços e a construir prosperidade".

Os benefícios da casa própria supostamente iam além dos óbvios. Um documento distribuído pela Associação Nacional dos Corretores de Imóveis apontava para externalidades positivas. Os filhos de pais com casa própria apresentavam maior probabilidade de ter bom desempenho na escola e apresentavam menor probabilidade de abandonar os estudos. Também apresentavam maior probabilidade de se comportarem bem. As taxas de gravidez na adolescência eram menores e os filhos de proprietários de casa própria de menor renda apresentavam menor probabilidade de acabarem dependendo de benefícios do bem-estar social do que os filhos de locatários de imóveis da mesma faixa de renda.

A crise do crédito acabou com esse consenso, à medida que milhões de proprietários perderam seus lares. Em vez de criar riqueza, os imóveis permitiram às pessoas ganharem dinheiro por meio do refinanciamento das hipotecas e a terem um padrão de vida acima de sua renda até que a crise as levou à falência. O percentual de americanos donos da casa própria agora é o mais baixo desde 1995.

Mas a boa reputação de ter casa própria sobreviveu. Lawrence Summers, o economista de Harvard e ex-secretário do Tesouro, se queixou em um artigo para o "Washington Post" neste ano de que não estão sendo feitos empréstimos hipotecários suficientes. "A evidência mais clara é o número crescente de famílias de renda média e baixa pagando aluguel para empresas de private equity, que são as donas dos imóveis, a valores muito acima do que custaria uma hipoteca", ele disse, tomando como certo que ter uma casa própria era uma boa ideia.

O trabalho dos professores pode ter surgido em um momento particularmente impróprio para os interesses que há muito promovem a aquisição da casa própria e colhem os fartos subsídios para isso. Com o orçamento federal sob pressão, a redução dos benefícios para a aquisição da casa própria pode ser mais fácil caso a aura positiva em torno da casa própria perca seu brilho.

Há propostas para limitar essas vantagens tributárias, como a limitação ou eliminação de dedutibilidade do juro hipotecário. Os locatários, afinal, não contam com essas deduções.

"A dedução do juro hipotecário é um dos maiores subsídios no Código Tributário", notou Eric J, Toder, o codiretor do Centro de Política Tributária Urban-Brookings, em um depoimento no Congresso no mês passado. "Conseguir uma reforma tributária neutra sobre a receita, que reduza significativamente as taxas marginais de impostos seria difícil ou impossível de ser obtida sem o corte da dedução do juro hipotecário ou outro artigo igualmente popular e amplamente usado."

Não há argumento político mais potente no momento do que o que diz que empregos serão criados por qualquer coisa que for proposta A alegação foi usada no ano passado para aprovação de um projeto de lei que facilitava levantar capital de investidores, apesar dos alertas que de também tornaria mais fácil os investimentos fraudulentos. Imagine o que aconteceria se os políticos passassem a acreditar que encorajar a aquisição da casa própria está reduzindo o emprego.
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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