Mei não sorria por nada. Não que ela fosse infeliz, o que de fato não era, mas ela simplesmente não sorria. Mei era um bebê de seis meses de idade e, por ter muito a ensinar com sua expressão sisuda, foi escolhida para participar do Roots of Empathy (ou Raízes da Empatia, em livre tradução), um programa internacional que tem conseguido diminuir as ocorrências de bullying, os níveis de agressão e tem ajudado a desenvolver inteligência emocional em crianças do ensino infantil até o nono ano. Numa sala de aula de crianças do quarto ano, Mei é apresentada a cada um dos alunos.
PATRÍCIA GOMES
PATRÍCIA GOMES
Com experiências como essa, as crianças aprendem a se colocar no lugar do outro e vão desenvolvendo habilidades emocionais, algo importante para suas vidas cotidianas e que as disciplinas tradicionais transmitem com menos naturalidade. “Eles compartilham uns com os outros e entendem os sentimentos dos colegas de classe. Todo esse processo, que começa com uma experiência genuína, leva à reflexão e à construção de um pensamento perspectivo e de um letramento emocional”, afirma Mary, que completa: “Quando eu falo de letramento emocional, estou falando de a criança ter um vocabulário para suas emoções e ter a habilidade de refletir sobre como eles se sentem”.
“Muitas pesquisas no mundo dizem que bons programas de inteligência social e emocional impactam positivamente as competências principais das crianças e a sua performance em testes padronizados”
Com crianças com competências emocionais mais bem desenvolvidas, os níveis de violência entre elas e em casa diminuem sensivelmente. Desde que o programa foi criado, seus efeitos vêm sendo avaliados tanto por relatórios de quem participa quanto por pesquisadores externos. Internamente, os professores que recebem as atividades reportam diminuição significativa de comportamento agressivo entre os alunos, que se mostram mais hábeis em reconhecer atos de gentileza, compartilhar, ajudar e entender. Até por isso, no Canadá, o Roots of Empathy é considerado o maior programa antibullying do país, o que, para Mary, “até é verdade, mas não é tudo”.
Até o ano que vem, a Universidade de Washington deve terminar uma pesquisa em que tenta analisar em que medida a participação das crianças no programa afeta o funcionamento de seu cérebro. A hipótese dos pesquisadores é que a experiência com bebês em sala de aula deixa marcas tão profundas nos alunos, que traz reflexos duradouros ao longo da vida. “Eu ainda não tenho os resultados, mas os pesquisadores acreditam que a mudança do comportamento das crianças vem de uma incorporação biológica da experiência nos seus cérebros. Elas lembram de uma forma muito viva do que estavam sentindo ou pensando naquela hora [de interação com o bebê]”, diz Mary.
Além dos resultados relativos ao comportamento, a empatia acaba trazendo, por tabela, desempenhos favoráveis nas disciplinas tradicionais, uma vez que o ambiente pacífico é mais propício ao aprendizado. “Muitas pesquisas no mundo dizem que bons programas de inteligência social e emocional impactam positivamente as competências principais das crianças e a sua performance em testes padronizados”, afirma Mary.
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