sexta-feira, 14 de novembro de 2014

MUDANÇA CLIMÁTICA E O CAFÉ. CARLOS BRANDO

udanças climáticas, safras brasileiras e a discrepância dos tetos: a visão de um leigo

Por Carlos Henrique Jorge Brando
postado há 1 dia atrás

Foto: Alexia Santi/ Agencia Ophelia/ Café Editora
Foto: Alexia Santi/ Agencia Ophelia/ Café Editora

Nunca antes as opiniões de climatologistas tiveram tanta demanda pelo pessoal ligado ao café no Brasil e eu certamente estou entre aqueles demandantes por estas opiniões. Já escutei tanto de diferentes fontes que me aventuro a apresentar minhas conclusões de leigo na esperança que isso possa facilitar o debate.

Eu começo mencionando de modo muito generalizado a principal diferença entre as causas das perdas de safra em 2014 e 2015. A floração em 2013 foi normal e até vigorosa, o que levou a uma formação inicial de cerejas que causou uma expectativa de uma safra muito boa para 2014. No entanto, a estiagem do primeiro trimestre de 2014 levou à frustração de expectativas porque as cerejas não se desenvolveram completamente e produziram grãos que foram menores e mais leves que o normal, defeituosos e mesmo negros em razão das altas temperaturas até em regiões que são irrigadas.

Esta mesma falta de chuva limitou o desenvolvimento dos ramos do cafeeiro que estão agora carregando as flores e que irão produzir café em 2015. Mesmo assumindo que as chuvas serão normais de agora em diante e que as flores se transformarão em cerejas saudáveis, já é possível afirmar que a safra de 2015 será menor que a média porque haverá menor número de cerejas devido ao precário crescimento vegetativo do café. Não houve crescimento suficiente dos ramos e tem-se número menor de internódulos, que é onde as flores e as cerejas se desenvolvem. Floração não seguida por chuva suficiente para se fazer as flores se transformarem em cerejas aconteceu em algumas regiões, em muitos lugares a florada principal tardou a pegar o que diminuirá o período de maturação das cerejas e o mês de outubro, em particular, foi mais quente que o normal. Isso tudo tende a provocar perdas maiores para 2015. Todavia, florações recentes seguidas por chuva podem compensar estas perdas mas não em todas as regiões.

Em suma, a estiagem provocou o subdesenvolvimento de muitas cerejas em 2014 e uma redução na produção de cerejas para a safra de 2015. Se as perdas de 2015 se restringirão ao menor número de cerejas, que se desenvolverão em todo seu potencial, ou se haverá perdas maiores em razão de má formação de grãos dependerá das condições meteorológicas dos próximos meses e especialmente as dos primeiros meses de 2015. Qual é a previsão do tempo para estes meses?

Existem várias teorias sobre o que ocorreu em 2014, variando de um fato isolado e extraordinário que não se repetirá a um padrão que ocorre a cada tantos anos e até teorias sobre um novo padrão meteorológico cuja frequência ainda está para ser determinada. As projeções atuais indicam que a precipitação do próximo janeiro a março poderá ser menor que a média mas não tão baixa quanto em 2014. Padrões similares de chuvas do passado sugerem que a precipitação pode ser menor que a média pelos próximos cinco a sete anos, mas progressivamente se aproximando da média histórica.

O que esperar de 2015? Se a chuva e as temperaturas voltarem ao normal, uma safra do mesmo tamanho da de 2014 ou pouco menor devido às perdas já ocorridas devido ao crescimento insuficiente dos ramos e às floradas já perdidas. Se houver falta de chuva e/ou temperaturas acima da média, a safra de 2015 poderá ser menor que a de 2014, quão menor dependerá da severidade do clima.

Aqueles que insistem em uma safra de 2015 que é significativamente maior que a de 2014 estão ignorando o fato que a safra de 2015 já está comprometida pelos fatores apresentados anteriormente – crescimento insuficiente dos ramos principalmente, mas perda de florada também – e eles estão, portanto, estabelecendo uma safra potencial maior ou um teto maior do que o que deveria ser esperado. É esta discrepância de tetos que geralmente cria grandes disparidades entre as estimativas de safra que reportam os mesmos problemas e predizem perdas similares mas partem de diferentes potenciais de safra (ou tetos) que, às vezes, estão bem distantes. Isto pode explicar uma longa série de diferenças entre as estimativas oficiais da CONAB e as estimativas de companhias e as do USDA. Ainda está para ser revelado quem está certo, mas desta vez nós acreditamos que o mercado está estabelecendo um teto que simplesmente não existe.
 

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