20 de fevereiro de 2015 às 21:23 por Josélia Pegorim
O nível de armazenamento do Sistema Cantareira vem apresentando um animador desempenho em fevereiro de 2015. Não houve queda desde o início do mês, apenas estabilidade ou elevação. No dia 20, depois do décimo quinto dia consecutivo de alta, o nível do Cantareira alcançou a marca de 10,0%, o mesmo valor observado em 19 de novembro de 2014, segundo informação do site da Sabesp.
Chuva supera a média
A chuva de fevereiro de 2015 sobre o Cantareira vem surpreendendo. Fevereiro de 2015 já é o fevereiro mais chuvoso desde o ano de 2006, quando choveu 283,0 mm. Este ano, em 20 dias de fevereiro, o Cantareira recebeu 266,5 mm de chuva, 33,9% acima da média de chuva para o mês que é de 199,1 mm.. A quantidade de chuva deste mês também é a maior que já caiu sobre o conjunto das represas que compõem o reservatório desde janeiro de 2012, quando choveu 336,5 mm.
O aumento do nível de armazenamento não pode ser justificado apenas pelo volume de chuva acima da média. A elevação é a combinação de chuva regular, da economia da população, da redução da pressão da água na rede de distribuição e também ao aumento da retenção da água, pois a chuva frequente já foi suficiente para começar a encharcar o solo.
Volume de água “negativo”
Apesar do grande aumento no nível de armazenamento do Cantareira, o significado real é que o volume de água atualmente é “negativo”. A água que está sendo usada agora é a do chamado “volume morto”, uma reserva de água técnica que sempre existiu e nunca havia sido usada, antes da grave crise hídrica detonada pela falta de chuva no verão de 2014.
Durante o ano de 2014 choveu aproximadamente 965 mm sobre o Cantareira para a uma média anual em torno de 1567 mm
A água do “volume morto” nunca tinha sido usada antes porque estava abaixo do limite normal de captação (abaixo do limite de zeramento do volume de água útil normal), e porque não houve situação crítica que justificasse a captação desta água.
Em maio de 2014, depois de um verão com chuva muito abaixo do normal e sem perspectiva de chuva regular e volumosa até o início do verão seguinte (2014/2015), governo paulista anunciou a disponibilidade da primeira cota de água do volume morto da represa Jaguari, a maior e principal represa do Sistema Cantareira. Aí foi feito uma espécie de “empréstimo” no total de 18,5% do volume total de água.
Com a chuva escassa, o nível de armazenamento do Cantareira foi baixando cada vez mais. Em 12 de julho de 2014 tecnicamente ocorreu o zeramento do volume útil, água que podia ser captada com as bombas já existentes. Em outras palavras, em 13 de julho de 2014 começamos efetivamente a usar a água da primeira cota do “volume morto”. Para retirar esta água foi preciso a instalação de tubulações mais profundas para conseguir captar a água do fundo da represa.
Em 24 outubro de 2014 foi anunciado um novo “empréstimo” de água do “volume morto”, uma segunda cota de 10,7% da capacidade total. Em 23 de outubro de 2014, o nível do Cantareira era de apenas 3% de água do volume morto. Dos 18,5% que estavam sendo usados desde 12 de julho de 2014 só restavam 3%. Com o novo empréstimo, o nível do reservatório passou para 13,7%, embora não tivesse caído uma gota de água sobre as represas entre 23 e 24 de outubro de 2014. É a água “negativa”.
Tecnicamente foram “emprestados” 29,2% de água, somando as duas cotas. Até 20 de fevereiro de 2015 foram devolvidos apenas 10% desta água, que era o nível do Cantareira.
14% livram São Paulo de um racionamento?
Esta semana, o governador de São Paulo anunciou que mantendo a atual redução de pressão, com mais obras de transposição de água entre represas e se o nível do Cantareira chegasse aos 14% no fim de março, o racionamento amplo poderia ser evitado.
O número causou espanto. Alcançar 14% significa que ainda deveremos 15,2% dos 29,2% de água emprestada do volume morto. Então, o que significam estes 14%? Que número é este? Confira as explicações da meteorologista Josélia Pegorim.
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