Postado em 24 fev 2015
Na primeira semana de fevereiro, policiais recolheram um piano, relógios, obras de arte e o celular de Eike Batista. Poucos dias depois, foi a vez de seu iate, jet skis e três carros na mansão da ex-mulher dele, Luma de Oliveira, mãe de Thor e Olin.
Os mandados de apreensão são resultado do bloqueio de 3 bilhões de reais decretado pelo juiz Flávio Roberto de Souza. Eike é acusado, entre outras coisas, de ter negociado ações com informações privilegiadas (insider trading).
Souza, que conduz o processo na Justiça Federal do Rio de Janeiro, apareceu no Fantástico no domingo passado batendo pesado na família Batista. “Por que ele não vendeu a Lamborghini e pagou dívidas? Eles continuam numa ostentação que é totalmente incompatível a quem tem dividas bilionárias”, disse.
No programa, aproveitou para declarar-se “absolutamente isento”. Não tinha “nenhum interesse” em condenar ou absolver Eike Batista.
Mas o país dos juízes vingadores tem caprichos inexpugnáveis.
Souza foi flagrado dirigindo o Porsche Cayenne de Eike Batista. Segundo sua versão, o veículo foi parar em sua garagem na Barra da Tijuca por falta de vagas no pátio da Justiça Federal e para protegê-lo do sol e da chuva.
O site Ego descobriu que a Range Rover de Thor Batista também foi visto no prédio do magistrado. Sergio Bermudes, advogado de Eike, acredita que o piano estaria também na casa de Souza.
Sua imparcialidade havia sido colocada em dúvida há meses. Mas quem se importa realmente com esse detalhe em se tratando da luta do bem contra o mal?
Em janeiro, o Ministério Público Federal se opôs a seu afastamento. A defesa o havia pedido por causa de seu “prejulgamento”, patente em reportagens. Logo após a primeira audiência, transformada em show, chamou o réu de “megalomaníaco”.
Numa entrevista ontológica (você leu direito) ao Extra, jactou-se de seu budismo e de sua faculdade de perceber se uma pessoa está sendo sincera. “Ainda é prematuro traçar algum perfil, mas o momento oportuno para me manifestar sobre isso será nas sentenças dos processos. Até lá, terei feito o interrogatório dele. Aí, olhando no olho, vou saber como ele é. Tudo que conheço é midiático”, afirmou.
“Tive dois contatos com ele, mas apenas em audiências. Pela minha experiência e formação, vou entrar na personalidade dele. Vou entrar mais fundo na essência dele. Até pelas minhas práticas budistas, tenho muita facilidade de saber quando a pessoa está mentindo ou falando a verdade. Vou esmiuçar a alma dele. Pedaço por pedaço.”
Nada disso era problema, segundo a procuradora regional da República Silvana Batini, autora do parecer mantendo o juiz no caso. “A prática [de falar com a imprensa] é comum, mesmo com ministros do STF. A cautela recomenda que as declarações sejam cuidadosas, mas a exigência de transparência e o crescente interesse da população pela Justiça acabaram por forjar um novo padrão de comunicação. O juiz não é mais um personagem hermético e recluso”. escreveu.
É o STF fazendo escola. Você nunca pensou que teria saudade do tempo em que juízes eram herméticos e reclusos, não tinham assessoria de imprensa, não davam carteiradas em blitz de bafômetro e não prejulgavam. Faltava pegar os automóveis dos outros para dar umas bandas por aí. Não falta mais.
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