Como de costume,
costumo fazer um exercício de ir olhando no meu entorno as pessoas e paralelamente
ir fazendo um exercício mental, sobre a origem étnica das pessoas. Não raro
pergunto. Um exercício saudável e que tenho como rotina. No casamento de
Patricia Raula Sassine e Gustavo Henrique Schneider na Igreja Batista da Praia
da Costa, Vila Velha, no dia 8 de junho, cheguei um pouco mais cedo e fui olhando
as pessoas que iam chegando, ficava imaginando, quem eram e quantos seriam de
origem libanesa. Reconheci alguns, mas a grande maioria ficou sem uma
definição.
O meu relacionamento é
com a família de Patricia, que no ano de 2001 esteve no Líbano com um grupo de
descendentes e lá estavam meus filhos Augusto e Vinicius. Pelo lado do Gustavo
não o conhecia.
Na cerimônia do
casamento o pastor fez a sua parte de forma competente. Encerrada a parte
religiosa e já chegando às dez horas da noite, estávamos a caminho da recepção,
que aconteceu em Vitória. Lá o meu olhar em busca dos patrícios libaneses conseguiu
identificar mais alguns. É sempre um prazer encontrá-los e uma pequena conversa
vamos entrando no clima. É assim que sinto quando encontro com brimos e brimas.
Pouco antes da meia
noite, com o salão repleto, mais de 500 pessoas, com um serviço de perfeito, a
música eletrônica dá lugar a voz cantando em árabe, que anima e envolve boa
parte dos presentes. Logo em seguida ao canto em árabe que encheu todo
ambiente, percebo que a colônia libanesa presente era bem maior que imaginava. Uma
grande roda se forma e Patrícia e Henrique comandam a alegria. O cordão aumenta
a cada instante.
Não entendia nada do
que o cantor pronunciava, mas tinha certeza e convicto de que eu estava
voltando para a terra sagrada de meu avô paterno, Francisco Marolino Mansur. Um
retorno para Aalma Zgharta, nas montanhas no Norte do Líbano.
Eu que sou muitos
zeros à esquerda no que diz respeito a ritmo músical e dança, me vi como que
empurrado ou puxado para o grupo de dançava. Uma sensação diferente e de
difícil explicação: estava a rodar com os brimos e brimas ao som universal da
música e na voz cantando em árabe. A música é realmente uma coisa mágica e
envolvente, ela penetra fundo.
Viver este momento foi
como fazer uma viagem imaginaria sem bilhete, não apenas com a vontade de
participar da festa, um pouco mais: um renovar no compromisso moral que tenho
com a jornada de meu avô, que saiu da sua aldeia, nas montanhas do Norte do
Líbano, em busca do desconhecido na distante América, no Brasil, no Espírito
Santo e em inúmeras localidades do centro sul do Espírito Santo. Compromisso de
trabalhar no que sempre trabalhei, na escrita, fazendo registros da epopéia de
uma gente heróica.
Um brimo me aborda
dizendo que no outro dia, no domingo estaria viajando para o Líbano, onde
ficaria por trinta dias visitando os seus parentes e sua aldeia. Um trajeto que
fazem com naturalidade nos dias de hoje, mas que no passado, os primeiros imigrantes
eram impossibilitados de fazer: por falta de transporte e também por falta de
numerário para custear o sonho de retornar, mesmo que seja por um tempo contado
em dias. No final da nossa conversa fiz com uma criança carente e lhe fiz um
pequeno pedido: me traga uma bandeira do Líbano.
Já chegando duas da
manhã, a caminho de casa, segui a minha viagem solitária e pensado: nunca havia
entrado no clima de dançar e dividir com os brimos e brimas a alegria e o
orgulho de ter uma parte de mim vindo de onde veio, tenho plena certeza que
minha alma veio de lá, do Líbano. Um momento único havia acabado de participar.
Uma alegria de encher o espírito num simples gesto de tentar dar alguns passos
na dança milenar dos libaneses.
Eliane, minha esposa
fez uma afirmação e uma indagação. A afirmação: eu nunca vi você ficar até o
final de uma festa e expressando alegria. A indagação: depois você poderia
perguntar ao William e a Ercília se eles têem mais algum filho ou filha para
casar?
Realmente, no final do
dia 8 e início do dia 9 de junho de 2012, o sangue ferveu, como dito no título
deste texto.
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