quinta-feira, 28 de junho de 2012

O Egito numa encruzilhada



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Não deve existir uma só pessoa interessada nos assuntos egípcios que não lhe tenha ocorrido perguntar por que o Conselho Superior das Forças Armadas do Egito, detentor de todos os poderes nos bolsos de suas fardas, ordem unida por corneta, clarim, apito, gestos e voz do Marechal de Campo Muhammad Tantawi, acabou aceitando o resultado das urnas as quais, apesar de mãos invisíveis, elegeram presidente da república o Dr. Muhammad Mursa, representante da Irmandade Muçulmana. Ninguém igualmente ignora que os interesses dos membros CSFA, desta forma, foram certamente contrariados.
A resposta, no entanto, é muito clara, tão clara quanto o brilho do sol nos desertos egípcios: o Egito após o 25 de janeiro de 2011 não é mais o mesmo e quem teve o privilégio de, como eu, ir à praça Tahrir por duas vezes, até dois dias antes do primeiro turno das eleições presidenciais e conversar com aqueles que lá estavam de plantão, passou a ter certeza que uma volta ao antigo regime não é tolerada pelo povo egípcio.
Os militares do CSFA até tentaram e lutaram por isto de diversas maneiras: mandando aceitar candidatos inaceitáveis e não aceitar candidatos aceitáveis, trocar ministros e ordenar a dissolução do Parlamento e tudo o mais, mas o povo, na voz do presidente eleito do legislativo e membro da direção da Irmandade, foi lá e comunicou ao sub-chefe do CSFA, General Sami Annan, e outros militares presentes à reunião, a rejeição da emenda constitucional pela qual o CSFA retoma o poder legislativo. Informou também que o Parlamento se reuniria naquele mesmo dia, como Assembleia do Povo, e retomaria suas atividades.
Nem foi necessário o confronto; os militares já sabiam disto, desde o primeiro dia do levante, que o povo não admitiria “meia-volta-volver”! O povo egípcio, de seu lado, sabe que ganhar as eleições é apenas uma etapa e que o caminho a percorrer até a realização de sua vontade é longo e pedregoso. É o que anunciava a espera, sob o sol ardente do Egito inteiro, minuto e minuto, a declaração dos resultados das eleições no segundo turno.
De nada adiantou o recurso do General Ahmad Chafic ou os rumores e desinformações da mídia que continua nas mãos daqueles mesmos que a dirigiam durante o antigo regime de que a Irmandade havia manipulado as urnas, que Mursi havia perdido e sua organização estava preparando uma insurreição armada. O General era a última esperança para aqueles que queriam manter o poder que Hosni Mubarak lhes havia permitido, mas a vontade do povo foi mais forte.
O Marechal Tantawi deve ter pensado no que viu quando voltou de sua visita ao Pentágono, em Washington, um dia após o início da revolta e também tudo o que veio acontecendo desde então e como militar que quer guardar algum poder, ordenou a capitulação.
O povo egípcio, no entanto, deve ficar atento, pois Chafic e sua claque de homens de negócios e militares continuarão a fazer de tudo para recuperar seus antigos privilégios e lucros às custas da fome do povo egípcio.
Abre-se agora uma nova etapa, o primeiro presidente civil eleito tomou posse no dia 24 de junho de 2012 e pediu demissão da Irmandade Muçulmana e do Partido da Liberdade e da Justiça, confirmando que governará como presidente de todos os egípcios.
Nas ruas do Cairo e de todas as cidades egípcias basta ouvir o povo e constatar que cada um entendeu o significado de tomar o caminho após passar por esta encruzilhada. É uma alegria constatar que as vozes mais ouvidas são as dos jovens e que o Egito inteiro se transformou numa praça Tahrir, conscientes de que a hora da Ditadura e da subserviência aos interesses estrangeiros passou.
Não importa que a vantagem do presidente eleito tenha sido de apenas um milhão, pois o resultado significou uma vitória do povo que anseia por mudança, mãos limpas e sem trabalho, pobre mas honrado, contra toda a força do regime da corrupção e do entreguismo. É por esta razão que a vitória representou muito mais que um milhão a mais de vozes, é a esperança num futuro melhor.
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José Farhat
José Farhat
Formado em Ciências Políticas (USJ-Beirute) e Propaganda e Marketing (ESPM-São Paulo), tem cursos de extensão ou pós-graduação em: Comércio Exterior (FGV-São Paulo), Introdução à Teoria Política (PUC-São Paulo), Direito Internacional (PUC-SP) e cursou Filosofia no Collège Patriarcal Grec-Catholique (CPGC-Beirute). Domina os idiomas: Árabe, Francês, Inglês e Português e tem artigos publicados sobre Política Internacional, no Brasil e no Líbano. É ex-Diretor Executivo e atual Conselheiro do Conselho Superior de Administração da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira; foi Superintendente de Relações Internacionais da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e é seu atual membro do Conselho de Comércio e atual Diretor do Centro do Comércio do Estado de São Paulo. É diretor de Relações Nacionais e Internacionais do Instituto da Cultura Árabe. http://josefarhat.wordpress.com

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