domingo, 26 de agosto de 2012

Binho do Sarau: “arte na periferia exige ação”



Binho em 1997, com telas prontas para espalhar poesia pelos postes da cidade
Um dos grandes agitadores culturais das quebradas de São Paulo irriga “sementes de poesia” — crianças que começam a conhecer literatura — durante a mostra “Estéticas da Periferias” 
Por Leandro Cruz*
“Na periferia, a vontade de dizer é tanta que as pessoas querem produzir. Então, teve muita gente que frequentava bar que acabou virando poeta”, conta Binho — criador de um dos principais saraus que marcam a Cultura Periférica. Em 1995 iniciou uma verdadeira transformação poética no bairro do Campo Limpo. Naquela época, a poesia não tinha tomado o espaço que hoje ocupa na cultura das periferias. Não que alguma vez a “quebrada” tenha perdido seu lirismo que existe desde que o samba é o samba, mas é que, de fato, na década do auge das FM’s e do boom da TV aberta, a indústria cultural investia forte em idiotização de massas e massificação da idiotice. Foi na época do “É o Tchan”. Hoje em dia, a indústria cultural oferece opções mais variadas: você pode escolher se quer “Tchu”, se quer “Tchá” ou se preferir, o cardápio também oferece “Tchê Tchê Rere”.
Enquanto isso, na quebrada, tem o Sarau do Binho, o Sarau da Brasa, o Sarau da Vila Fundão, o Sarau da Cooperifa… Revolução vandalírica que acompanha o crescimento do sentimento de “nóis por nóis”, de “isso memo, tâmo junto” nas periferias de São Paulo. Movimentações que obviamente, mais cedo ou mais tarde haveriam de incomodar as estruturas estabelecidas. Gente trocando ideia e poesia é o que a Matrix mais teme… Basicamente por isso, o Sarau do Binho, onde tudo começou, teve de fechar as portas no começo do ano.
Mas, nos anos 90, as “autoridades” de São Paulo não se incomodavam se naquele boteco de esquina alguém lesse uma poesia no intervalo enquanto ia virar o LP que estava rolando na Noite da Vela. Depois, o pessoas começaram a levar mais e mais poesias próprias para participar. Até que um dia o poeta Sérgio Vaz, outro cara linha de frente, disse: “Pô, mas isso é um sarau!”.
As noites etilíricas do Campo Limpo não paravam ali. Ao contrário, os saraus eram grandes começos, que inspiravam novas poesias e novas ações. “A arte na periferia exige ação” (ação/transformação), como diz o Binho. Exemplo disso era a ideia de sair após os saraus espalhando poemas pelos postes da cidade, a “postesia”.
Agora é um sarau movel. Agora é na rua. E durante a mostra Estética das Periferias, em que edições do Sarau do Binho e do Sarau da Vila Fundão acontecem durante o dia, junto a paradas dos ônibus-bibliotecas, um público novo (bem novo mesmo) tem aderido à poesia: as crianças. Sementes de poesia.
O futuro do Sarau do Binho, nem o Binho sabe. Penso que deve ser algo parecido com uma Primavera. Quanto aos próximos passos, datas e locais dos saraus móveis, podemos ir nos informando pelo blog (http://saraudobinho.blogspot.com.br).
Leandro Cruz é poeta, jornalista, historiador, colunista do Jornal do Povo (PR) e editor do blog Viagem no Tempo (www.viagemnotempo.com.br )
Leia mais:
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  3. Literatura com batata frita
  4. Sarau, poesia e luta
  5. Um novo amanhecer na periferia?

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