terça-feira, 14 de agosto de 2012

CARTA DE KLEBER GALVÊAS PARA PRESIDENTA DILMA.



Exma. Senhora
Dilma Roussef
Presidenta

Meu nome é Kleber Galvêas, pintor capixaba. Posso ser identificado no site WWW.galveas.com
Nasci no mesmo dia, mês e ano em que a senhora nasceu. O meu parto foi difícil. Depois de várias tentativas com fórceps vi a luz quando minha mãe se assustou com o foguetório do encerramento da Festa de Santa Luzia do Carangola, que em 14 de dezembro de 1947 caiu num domingo. O hospital de Carangola fica ao lado da igreja matriz e o estrondo dos foguetes foi enorme.
 Meu pai era médico e havia previsto dificuldades no parto. Da fazenda capixaba, na fronteira com Rio e Minas, onde transcorreu a minha gestação, ele buscou segurança no melhor hospital da região. Com sete dias de vida fui “contrabandeado” e registrado no ES: sou um capixaba que nasceu em Minas.
Quando ainda não existiam as leis de incentivo à Cultura (1986), sem usar dinheiro público ou abatimento no IR, consegui parceiros e criamos o primeiro e ainda único museu de Artes Plásticas do ES, o Museu Homero Massena (Barbacena, 1885 – Vila Velha, 1974), dedicado à vida e obra deste grande artista. No dia da inauguração entreguei a chave ao prefeito da cidade, e o museu pode ser visto no Google.
Constam do acervo do museu várias páginas de O Cruzeiro e Manchete, com fotografias de quase todos os Chefes de Estados, inclusive o Papa João Paulo II, em visita ao Gabinete da Presidência, no Palácio do Planalto. Ao fundo dessas fotos aparece sempre a tela “Subida da Fé”, de Homero Massena.
Essa pintura foi escolhida pelo Presidente Juscelino para a inauguração do Palácio do Planalto, quando veio ao ES para inaugurar a Escola de Aprendizes Marinheiro, em Vila Velha, 1960. Juscelino prestigiou o conterrâneo de Barbacena adquirindo sua obra, e a tela figurou na Sala da Presidência, acompanhada de dois outros paisagistas: Castagneto (Genova, 1862 – Rio, 1900)   e Georg Grimm (Alemanha, 1846 – Italia, 1887) ambos naturalizados brasileiros.
Infelizmente, sem nenhuma consideração do ponto de vista histórico ou artístico, mas por simples influência supersticiosa (“pintura de mata dá azar”) a tela foi retirada do Gabinete da Presidência durante o governo Sarney.
O propósito desta carta é solicitar que a senhora considere oportuno o retorno da “Subida da Fé” ao seu espaço histórico, e que continue na Sala da Presidência lembrando nossas florestas.
Quando André Maurois (1885 – 1967. Ministro da Cultura, filósofo e esteta francês) visitou a Brasil na comitiva do Presidente De Gaulle, ficou encantado com a tela de Massena e a classificou como: “esplendoroso reflexo tropical do impressionismo no Brasil”. Tendo sido informado pelo presidente que o artista vivia, Maurois foi posto em contato com o deputado capixaba Floriano Rubim, que intermediou a aquisição de uma variação do tema “Subida da Fé” para a França, pátria do Impressionismo.
Acredito que as conjunções das estrelas no dia do nosso nascimento nos dotaram de sentimentos semelhantes em relação à história, cultura, justiça e desprezo por preconceitos supersticiosos.
Grato por sua atenção.
Sinceramente,
Kleber Galvêas

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