terça-feira, 28 de agosto de 2012

Eleições no Rio: Freixo levará para o 2º turno?


  27 DE AGOSTO DE 2012

Debate eleitoral: Paes, Maia e Freixo
Debate eleitoral: Paes, Maia e Freixo
Paes, do PMDB é favoritíssimo. Só candidato do PSOL parece capaz de mudar isso. Mas embora candidatura anime intelectuais e artistas, resta saber se conseguirá dialogar com maiorias e, assim, ter chances reais
Por Elton Flaubert, no Razão Crítica
Ao contrário da imprevisível sucessão paulistana, a carioca tem um quadro bem estável: todos contra o atual prefeito, que, por enquanto, está disparado nas pesquisas de intenção de voto. Para fazer esta análise utilizamos a pesquisaDATAFOLHA mais recente (feita em Julho) e a pesquisa IBOPE divulgada na metade de Agosto.
1) O atual prefeito, Eduardo Paes, tem um cenário bastante positivo: mantém o dobro de intenções de voto (54% no Datafolha, 47% no Ibope) em relação a rejeição (20% no Datafolha, 23% no Ibope). E a sua gestão é muito bem avaliada, com: 45% de ótimo ou bom, 38% de regular, e 15% de ruim. No entanto, por ser alvo preferencial dos adversários e por partir de um alto grau de conhecimento, convém tomar cuidado.
2) Eduardo Paes – seguindo o Lulismo – encontra entre os pobres e menos escolarizados sua maior fatia de eleitores. Segundo a pesquisa Datafolha, 18% do seu eleitorado tem curso superior, 41% estudaram até o ensino médio, 41% só fez até o ensino fundamental.  A renda média dos seus eleitores é de até dois mil reais. A maior taxa de rejeição se encontra entre os mais ricos com ensino superior ou entre os mais jovens. Enquanto Rodrigo Maia tem fatias equilibradas, com destaque para classe média; o eleitor de Marcelo Freixo tem perfil oposto ao do atual prefeito: 55% tem ensino superior completo, 34% estudaram até o ensino médio, 11% só possuem o ensino fundamental. A renda média de seu eleitor varia entre dois mil e seis mil reais. Vejamos este gráfico com as intenções de voto no Datafolha entre diversas camadas:
3) A pesquisa Datafolha mostra que 72% dos eleitores desconhecem ou conhecem só de ouvir falar Marcelo Freixo. Sendo a maior parte entre os mais pobres e menos escolarizados (84%). Com o início da campanha, Freixo deverá aumentar seu percentual de voto nessa camada da população, mesmo assim, não deve mudar o seu perfil de voto. Ao contrário de São Paulo, onde esse eleitor desconhece Haddad, mas tem preferência pelo seu partido, avalia mal a atual gestão; os eleitores mais pobres do Rio de Janeiro são os que melhor avaliam a atual gestão. Porém, Freixo conta com uma vantagem: é rejeitado por apenas 12% dos eleitores do atual prefeito, mas, ao mesmo tempo 78% do eleitorado de Paes desconhecem ou conhece só de ouvir falar o deputado. Quando tomarem contato irão mudar o voto ou rejeitar o deputado?
4) Para levar a eleição para o segundo turno, Marcelo Freixo precisa diversificar seu voto e sua campanha. Ele já se estabeleceu como principal voz de oposição ao prefeito nesta eleição, já tem uma boa fatia do eleitorado entre os jovens e com curso superior (tendendo a crescer ainda mais), precisa agora entrar nas periferias, ganhar o voto entre os mais pobres, e torcer para Rodrigo Maia tirar votos de Eduardo Paes entre os evangélicos. Nichos eleitorais funcionam muito bem em eleições proporcionais, não em majoritárias. Marcelo Freixo seguramente terá mais de 20% ao final do primeiro turno (acredito que chegue perto à margem dos 30%), mas isto pode não ser o suficiente para levar a eleição ao segundo turno.
5) Freixo precisa desesperadamente convencer os eleitores que avaliam como ‘regular’ a atual gestão. Segundo o Datafolha, nesta camada eleitoral: Paes tinha 40% contra 13% de Freixo. Esta fatia do eleitorado está em dúvida, mas só deixará de votar no atual prefeito se sentir confiança na oposição. O candidato do PSOL precisa passar para o segundo tempo da campanha: no primeiro, ele já se estabeleceu como o maior candidato de oposição, agora precisa mostrar que é viável, que saberá tocar as obras deixadas pelo antecessor, que não fará mudanças tão profundas, mas as necessárias; pois, o que esta fatia do eleitorado mais teme não é a reeleição de Paes, mas que de regular as coisas passem a ruins. Este será um grande desafio a campanha de Marcelo Freixo, cabe saber se quem pensa o tom e o conteúdo do discurso passado ao eleitor estará antenado aos resultados qualitativos das pesquisas eleitorais. Ler mal uma pesquisa eleitoral poderá ser um erro fatal.
6) Segundo o Datafolha, ao contrário de São Paulo, o eleitorado que se identifica com o PT tem seu maior percentual na classe média. Percentual do partido entre de acordo com o nível de escolaridade dos eleitores: 13% fundamental, 17% ensino médio, 18% superior. E de acordo com a renda: 13% entre os que ganham até dois salários mínimos, 18% entre os que ganham entre dois e cinco salários mínimos, 14% entre os ganham entre cinco e dez salários mínimos, e 16% entre os que ganham mais de dez salários mínimos. O PDT é o segundo partido mais forte do Rio de Janeiro: com 5% da preferência do eleitor. Dentre os eleitores que preferem o PT, Eduardo Paes tem 57% e Marcelo Freixo 10%. No entanto, 66% do eleitorado petista desconhecem ou conhece só de ouvir falar o deputado do PSOL. E 19% rejeita Eduardo Paes. Portanto, é provável que Freixo consiga mais alguns pontinhos entre os eleitores petistas, podendo chegar a torno de 25% da preferência deste público. Mas, a maior parte ficará com o atual prefeito.
7) Se bem lida, um dado na última pesquisa Ibope pode animar os eleitores de Marcelo Freixo. Se na espontânea, o atual prefeito parte de uma taxa alta (25%), ele encontra no grosso de seu eleitorado (ensino fundamental ou média, renda baixa ou média) o menor percentual. Entre os ganham até um salário mínimo, Paes tem 17% na espontânea e 32% entre os mais ricos. A espontânea de Freixo repete o mesmo ritmo: maior entre os mais ricos (0% versus 19%). Trocando em miúdos: entre os que possuem curso superior e renda alta, o eleitorado praticamente já tomou sua decisão. São os mais pobres, que agora começam a tomar maior contato com a eleição, e os indecisos que avaliam o governo como regular, que irão decidir se haverá ou não segundo turno. Freixo naturalmente continuará a crescer no forte do seu eleitorado, mas precisa urgentemente ser conhecido e crescer entre os mais pobres. Sem dinheiro e tempo de televisão não é uma tarefa fácil (daí a importância de ter feito uma aliança com o PV). Mas, os debates (principalmente, o da Rede Globo) podem ajudar. Vejamos o perfil do eleitorado de cada candidato na estimulada da pesquisa Ibope:
8) A maior rejeição de Freixo se encontra entre os eleitores de Rodrigo Maia e Otávio Leite. E isto, pode ser crucial para o segundo turno, onde o candidato do PSOL irá precisar de todos os votos de quem se opõe ao atual prefeito.
9) Um dado positivo é que boa parte da população pretende acompanhar com bastante interesse esta eleição:
9a) Quando a importância da eleição para vida da cidade: 85% do eleitorado de Paes e Maia dizem ser muito importante, contra 83% do eleitorado de Freixo. E para vida pessoal, avaliam como muito importante: 63% do eleitorado de Rodrigo Maia, 61% do eleitorado de Eduardo Paes, e 58% do eleitorado de Marcelo Freixo.
10) A maior vantagem do atual prefeito é não ter uma candidatura adversária – de fato – competitiva. Freixo empolga uma fatia específica do eleitorado, desperta os desejos de parte da multidão, mas precisa remar contra adversários gigantescos: alta taxa de aprovação da atual gestão, falta de dinheiro, falta de apoio político, etc. Mesmo assim, o Rio gosta de abraçar este tipo de candidatura – marcada pela contestação de ‘tudo que aí está’ –, e o candidato do PSOL será seguramente o segundo colocado, mas com chances remotas de vitória caso haja segundo turno. Que Eduardo Paes será reeleito é praticamente certo, a dúvida é se haverá ou não segundo turno. Minha aposta é de vitória de Eduardo Paes, com ampla vantagem, no segundo turno.

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