terça-feira, 28 de agosto de 2012

Periferia: tão longe, tão perto


POSTED IN: ARTE E LITERATURA, CULTURA, DESTAQUES

Ponte é metáfora de encontro e separação. Mostra “Estéticas das Periferias” quer a travessia. Só arte pode ser tão subversiva
Por Antonio Eleilson Leite*

MAIS: Confira aqui a cobertura compartilhada da mostra, articulado por Outras Palavras e Ação Educativa
A Cidade de São Paulo segrega a periferia socialmente, economicamente, esteticamente.
Em São Paulo, a força da grana destrói muito mais do que ergue coisas belas, mano Caetano.
Por mais que o povo não queira, a cidade muitas vezes dá razão a Criolo: “Não existe amor em SP”.
“A periferia nos une pela cor, pela dor e pelo amor”, conclama o poeta Sérgio Vaz, no seuManifesto da Antropofagia Periférica.
Apesar das 34 pontes existentes sobre os rios Tietê e Pinheiros , os lados da cidade não se comunicam, justificando o nome da via que corre paralela aos seus leitos: Marginal.
“A vida é diferente da ponte pra cá”, diz os Racionais MC’s.
“Nóis é ponte e atravessa qualquer rio”, desafia o poeta Marco Pezão.
A ponte é ao mesmo tempo metáfora do encontro e da separação. A mostra Estéticas das Periferias quer a travessia, de lá para cá, de cá para lá; depende de onde se está.
Buscaremos o fluxo, o encontro, o diálogo. Queremos explorar conexões e conflitos, armar tramas urbanas. Artistas do Centro e da Periferia: Uni-vos!
Reiteramos o Manifesto Oswaldiano: “A alegria é a prova dos nove”.
Oswald pregava em seu manifesto antroprofágico: “é preciso partir de uma profundo ateísmo para se chegar à ideia de Deus”. Entendemos que é preciso um profundo sentido periférico para se chegar a uma ideia de Centro.
Sem a Periferia não existe o Centro.
Pretendemos deslocar o Centro para a Periferia e a Periferia para o Centro. Inverter a lógica urbana desagregadora. Questionar esteriótipos. Judas perderá as botas nos bairros nobres. Os Jardins terão uma nova trilogia: Jardim Irene, Jardim Miriam, Jardim Angela.
Assim como as três vilas: Mariana, Olímpia e Madalena cederão lugar para Vila Albertina, Vila Brasilândia e Vila Zilda.
Só a arte é capaz dessa subversão. ”No universo da cultura, o centro está em toda parte” ensinou o jurista Miguel Reale, em frase lapidar que está imortalizada na Praça do Relógio do Campus da USP no Butantã, do outro lado da ponte da Cidade Universitária.
A Mostra Estéticas da Periferia revelará que o circuito das artes da cidade de São Paulo vai muito além do que sugerem os guias culturais da “grande” imprensa, para os quais a cena cultural se restringe a pouco mais de vinte, dos 96 distritos da Capital.
A arte estará em toda parte, principalmente na Periferia, onde o agito cultural é permanente, nas ruas, bares, galpões, praças, sacolões.
* Antonio Eleilson Leite edita Estéticas das Periferias. Para ler edições anteriores da coluna, clique aqui. (fazer menção também ao Diplô)
> Leia também as 35 edições de Cultura Periférica, a seção que Antonio Eleilson Leite publicou, entre outubro de 2007 e dezembro de 2008, no Caderno Brasil do Le Monde Diplomatique.
Jardim Santo André na Galeria VermelhoUm espaço badalado das artes de São Paulo reproduz os grafites que estão mudando a paisagem de um dos bairros mais violentos do ABC. Retrato de um país secularmente desigual — onde, no entanto, a periferia cobra seus direitos, e se expressa cada vez mais por meio da criação simbólica
22 de dezembro de 2008
A nova arte da CooperifaEla veio para ficar. A primeira Mostra Cultural da Cooperifa reunirá guerreiros e guerreiras fortemente armados com canetas, cadernos e livros. Trava-se uma luta incansável contra a ignorância,mediocridade, conformismo, tristeza e as pobrezas material e espiritual que insistem em saquear a quebrada
14 de novembro de 2008
Na Primavera, a leitura supera o marketingAlternativa à Bienal, mostra de editoras independentes relembra que livros são, acima de tudo, espaço para idéias, inteligência e utopia. Evento abre espaço para iniciativas que não se submetem ao mercado, e combina exposição de obras com programação cultural – onde tem espaço a arte periférica
27 de setembro de 2008
Linha de Passe: um gol de letra e um gol-contraEm seu novo filme, Walter Salles e Daniela Thomas constroem uma história brasileira que debate, com profundidade e sutileza, a existência e os dramas humanos. Mas o cacoete de associar periferia a infelicidade dá à obra um tom de chavão e frustra a própria intenção de esperança do diretor
22 de setembro de 2008
Cooperifa: leia o livro, veja o filme e ouça o discoSérie de obras artísticas celebra os saraus que ajudaram a construir o conceito de cultura periférica — e o mundo de iniciativas que está surgindo a partir deles. Trabalhos ressaltam opinião da jornalista Eliane Brum: “A Cooperifa é um abalo sísmico a partir de uma esquina de quebrada”
11 de setembro de 2008
Na Bienal do Livro, um roteiro alternativoDebate sobre literatura periférica e um punhado de editoras, universitárias e semi-artesanais, valem a visita. Aí persiste o encanto de uma feira que foi indispensável — mas chega aos 40 anos um tanto decadente e deselegante. Talvez por apostar no gigantismo, e se render à lógica de mercado
22 de agosto de 2008
Gilberto Gil: LadoA e LadoBÚnico artista a dirigir o ministério da Cultura até hoje, ele foi também o primeiro ministro a traçar políticas públicas efetivas para a produção simbólica. Valorizou a diversidade e a autonomia. Faltou assegurar recursos condizentes, e evitar que fossem canalizados para o marketing empresarial
6 de agosto de 2008
O Hip Hop nunca foi tão popVinte e cinco anos depois de despontar no Brasil, a cultura hip-hop está bombando como nunca. Ligou-se ao showbizz, mas é capaz de manter, mesmo assim, seus princípios e essência. É claramente periférica. Dez eventos a celebram, a partir deste fim de semana, em São Paulo
26 de julho de 2008
“Meu bairro era pobre, mas ficava bem bonito metido num luar”Mídia tradicional multiplica referências a Machado e a Rosa, rendendo-lhes homenagens previsíveis e banais. Coluna destaca outro centenário: o de Solano Trindade. Poeta, dramaturgo, ator e artista plástico, ele cantou a dignidade, as lutas, amores e dores dos negros e dos que vivem do trabalho
8 de julho de 2008
Um passo à frente e você já não está mais no mesmo lugarEscola Pernambucana de Circo organiza, em festa, seu centro de arte-educação. Ao invés de adotar postura “profissionalizante”, iniciativa busca emancipar. Por isso, aposta na qualidade artística, técnica e cultural de seu trabalho, e foge do conceito de “arte para pobre”
17 de junho de 2008
Plano Nacional de Cultura: realidade ou ficção?Ministério lança documento ousado, que estabelece, pela primeira vez, política cultural para o país. Dúvida: a iniciativa será capaz de driblar a falta de recursos e a cegueira histórica do Estado em relação à produção simbólica? Coluna convida os leitores a debate e mobilização sobre o tema
7 de junho de 2008
Semeando asas na quebrada paulistanaDe como a trupe teatral Pombas Urbanas, criada por um peruano, chegou a mudar o nome do Brasil, trocou os palcos pelas ruas, sofreu a perda trágica de seu criador mas reviveu, animada pela gente forte da periferia — para onde regressou e de onde não pretende se afastar
2 de junho de 2008
Humildade, dignidade e procederAgenda da Periferia completa um ano de publicação. Como diria Sergio Vaz, não praticamos jornalismo — “jogamos futebol de várzea no papel”. Fazê-la é exercício de persistência, crença e doação. O maior sinal de êxito é o respeito que o projeto adquriu no movimento cultural das quebradas
24 de maio de 2008
A revolução cultural dos motoboysUm evento em São Paulo, um site inusitado e dois filmes ajudam a revelar a vida e cultura destes personagens de nossas metrópoles. Sempre oprimidos, por vezes violentos, eles vivem quase todos na periferia, são a própria metáfora do caos urbano e estão construindo uma cultura peculiar
17 de maio de 2008
Manos e Minas no horário nobreEstréia na TV Cultura programa que aborda cena cultural da periferia com criatividade, sem espetacularização e a partir do olhar dos artistas do subúrbio. Iniciativa lembra o históricoFábrica do Som, mas revela que universo social da juventunde já não é dominado pelos brancos, nem pela classe média
10 de maio de 2008
Pequenas revoluçõesEm São Paulo, mais de cem projetos culturais passam a ter financiamento público, por meio do VAI. Quase sempre propostos por jovens, e a partir das quebradas, eles revelam as raízes e o amadurecimento rápido da arte nas periferias. Também indicam uma interessante preferência pela literatura
3 de maio de 2008
A periferia na Virada e a virada da periferiaEm São Paulo, a arte vibrante das quebradas dribla o preconceito e aparece com força num dos maiores eventos culturais do país. Roteiro para o hip-hop, rap, DJs, bambas, rodas de samba, rock, punk e festivais independentes. Idéias para que uma iniciativa inovadora perdure e supere limites
26 de abril de 2008
Retratos da São Paulo indígenaEm torno de 1.500 guaranis, reunidos em quatro aldeias, habitam a maior cidade do país. A grande maioria dos que defendem os povos indígenas, na metrópole, jamais teve contato com eles. Estão na perferia, que vêem como lugar sagrado.
20 de abril de 2008
Cultura, consciência e transformaçãoA cada dia fica mais claro que a produção simbólica articula comunidades, produz movimento, desperta rebeldias e inventa futuros. Mas a relação entre cultura e transformação social é muito mais profunda que a vã filosofia dos que se apressam a “politizar as rodas de samba”…
12 de abril de 2008
É tudo nosso!Quase ausente em É tudo Verdade, audiovisual produzido nas periferias brasileiras reúne obras densas, criativas e inovadoras. Festival alternativo exibe, em São Paulo, parte destes filmes e vídeos, que já começam a ser recolhidos num acervo específico
5 de abril de 2008
Arte de rua, democracia e protestoSão Paulo saúda, a partir de 27/3, o grafite. Surgido nos anos 70, e adotado pela periferia no rastro do movimento hip-hop, ele tornou-se parte da paisagem e da vida cultural da cidade. As celebrações terão colorido, humor e barulho: contra a prefeitura, que resolveu reprimir os grafiteiros
28 de março de 2008
As festas deles e as nossasNum texto preconceituoso, jornal de São Paulo “denuncia” agito na periferia e revela: para parte da elite, papel dos pobres é trabalhar pesado. Duas festas são, no feriado, opção para quem quer celebrar direito de todos ao ócio, à cultura, à criação e aos prazeres da mente e do corpo
21 de março de 2008
Arte independente também se produzÀs margens da represa de Guarapiranga, Varal Cultural é grande mostra de arte da metrópole. Organizado todos os meses, revela rapaziada que é crítica, autogestionária, cooperativista e solidária — mas acredita em seu trabalho e não aceita receber migalhas por ele
15 de março de 2008
Nas quebradas, toca RaulUm bairro da Zona Sul de São Paulo vive a 1ª Mostra Cultural Arte dos Hippies. Na periferia, a pregação do amor e liberdade faz sentido. É lá que Raul Seixas continua bombando em shows imaginários, animando coros regados a vinho barato nas portas do metrô, evocando memórias e tramando futuros
8 de março de 2008
No mundo da cultura, o centro está em toda parteEstamos dispostos a discutir a cultura dos subúrbios; indagar se ela, além de afirmação política, está produzindo inovações estéticas. Mas não aceitamos fazê-lo a partir de uma visão hierarquizada de cultura: popular-erudita, alta-baixa. Alguns espetáculos em cartaz ajudam a abrir o bom debate
23 de fevereiro de 2008
Do tambor ao toca-discosNo momento de maior prestígio dos DJs, evento hip-hop comandado por Erry-G resgata o elo entre as pick-ups, a batida Dub da Jamaica e a percussão africana. Apresentação ressalta importância dos discos de vinil e a luta para manter única fábrica brasileira que os produz
16 de fevereiro de 2008
Pirapora, onde pulsa o samba paulistaAqui, romeiros e sambistas, devotos e profanos lançaram sementes para o carnaval de rua, num fenômeno que entusiasmou Mário de Andrade. Aqui, o samba dos mestres (como Osvaldinho da Cuíca) vibra, e animará quatro dias de folia. Aqui, a 45 minutos do centro da metrópole
2 de fevereiro de 2008
São Paulo, 454: a periferia toma contaEm vez de voltar ao Mercadão, conheça este ano, na festa da cidade, Espaço Maloca, Biblioteca Suburbano Convicto, Buteco do Timaia. Delicie-se no Panelafro, Saboeiro, Bar do Binho. Ignorada pela mídia, a parte de Sampa onde estão 63% dos habitantes é um mundo cultural rico, diverso e vibrante
24 de janeiro de 2008
Faça você mesmo!Por meio da cultura, jovens das periferias brasileiras fazem uma revolução. Um panorama da produção independente nas quebradas das metrópoles: como a arte criada fora da indústria cultural subverte a mercantilização e controle do conhecimento, marca do capitalismo
14 de janeiro de 2008
2007: a profecia se fez como previstoHá uma década, os Racionais lançavam Sobrevivendo no Inferno, seu CD-Manifesto. O rap vale mais que uma metralhadora. Os quatro pretos periféricos demarcaram um território, mostrando que as quebradas são capazes de inverter o jogo, e o ácido da poesia pode corroer o sistema
29 de dezembro de 2007
No meio de uma gente tão modestaMilhares de pessoas reúnem-se todas as semanas nas quebradas, em torno das rodas de samba. Filho da dor, mas pai do prazer, o ritmo é o manto simbólico que anima as comunidades a valorizar o que são, multiplica pertencimentos e sugere ser livre como uma pipa nos céus da perifa
30 de novembro de 2007
A dor e a delícia de ser negroDia da Consciência Negra desencadeia, em São Paulo, semana completa de manifestações artísticas. Nosso roteiro destaca parte da programação, que se repete em muitas outras cidades e volta a realçar emergência, diversidade e brilho da cultura periférica
19 de novembro de 2007
Onde mora a poesiaInvariavelmente realizados em botecos, os saraus da periferia são despojados de requintes. Mas são muito rigorosos quanto aos rituais de pertencimento e ao acolhimento. Enganam-se aqueles que vêem esses encontros como algo furtivo e desprovido de rigores
13 de novembro de 2007
Todos os dias da SemanaProgramação completa da Semana de Arte Moderna da Periferia
2 de novembro de 2007
O biscoito fino das quebradasSemana de Arte Moderna da Periferia começa dia 4, em São Paulo. Programa desmente estereótipos que reduzem favela a violência, e revela produção cultural refinada, não-panfletária, capaz questionar a injustiça com a arma aguda da criação
2 de novembro de 2007
A arte que liberta não pode vir da mão que escravizaVem aí Semana de Arte Moderna da Periferia. Iniciativa recupera radicalidade de 1922 e da Tropicália, mas afirma, além disso, Brasil que já não se espelha nas elites, nem aceita ser subalterno a elas. Diplô abre coluna quinzenal sobre cultura periférica
17 de outubro de 2007
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