quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Terapias para a liberdade



Em comunidade, nossa grande aliada é Bioenergética. Inspirada em Reich, procura desbloquear “couraças musculares” e ensina: traição é negar o corpo
Por Katia Marko*, editora da coluna Outro Viver
O tempo é outro na Comunidade Osho Rachana. A intensidade com que vivemos as emoções fazem um final de semana parecer uma semana. Essa é nossa proposta. Ser uma comunidade terapêutica. Uma extensão do trabalho desenvolvido no Namastê, o centro de meditações ativas e terapia bioenergética.
Nossos padrões de relacionamento estão sempre em xeque. Muitos amigos me perguntam como conseguimos viver, tantas pessoas juntas. “Vocês não brigam?”. Sim, brigamos. Mas as brigas servem pra limparmos o caminho e crescermos no amor que sentimos um pelo outro. Saber diferenciar o rolo da essência da pessoa faz parte do processo de autoconhecimento que vivenciamos.
As situações não resolvidas de forma individual são levadas para o grupo. Duas noites por semana, quartas e domingos, reservamos para nos encontrar. Organizamos as questões práticas da comunidade e com sessões de terapia lidamos com o emocional. Meditações diárias e terapia individual também compõem nossa rotina. As técnicas utilizadas são meditações ativas, encounter e exercícios de bioenergética.
Como diz o mestre indiano Osho, o caminho do amor e da meditação são perigosos e só os que têm coragem podem trilhá-lo. Nós temos nossos medos, conflitos, resistências, desconfianças – mas não ficam no porão. São trazidos a tona. A simples exposição ajuda a encarar nossos monstros.
Nossa grande aliada nessa busca é a Bioenergética, uma terapia corporal que tem o objetivo de desbloquear as chamadas “couraças musculares”, segundo Wilhelm Reich. Baseado nas teorias reichianas, o psiquiatra norte-americano Alexander Lowen desenvolveu os exercícios básicos que hoje são considerados padrões da Bioenergética.
No livro “Bioenergética” (Summus: 1982), Lowen explica que, após quase trinta anos trabalhando, pensando e escrevendo sobre as suas experiências pessoais e as de seus pacientes, pôde chegar a uma conclusão: a vida de um indivíduo é a vida de seu corpo. “Desde que o corpo com vida inclui a mente, o espírito e a alma, viver a vida do corpo inteiramente significa ser atento, espiritual e nobre. Se tivermos alguma deficiência em qualquer um destes aspectos do nosso ser, significa que também não estamos inteiramente com nosso corpo.”
Lowen alerta que costumamos tratar o corpo como instrumento ou máquina. “Sabemos que, se ele falhar, estaremos em apuros. Nós não estamos identificados com o nosso corpo; na realidade, nós o traímos. Todas as nossas dificuldades pessoais advêm dessa traição, e acredito que a maioria dos nossos problemas sociais tem a mesma origem.”
A bioenergética é uma técnica que ajuda o indivíduo a reencontrar-se com o seu corpo e a tirar o mais alto grau de proveito possível da vida que há nele. “Essa ênfase dada ao corpo inclui a sexualidade, que é uma das suas funções básicas. Mas inclui também as mais elementares funções de respiração, movimento, sentimento e auto-expressão. O indivíduo que não respira corretamente reduz a vida de seu corpo. Se não se movimenta livremente, limita a vida de seu corpo. Se não se sente inteiramente, estreita a vida de seu corpo e, se sua auto-expressão é reduzida, o indivíduo terá a vida de seu corpo restringida.”
Lowen resume que o objetivo da bioenergética é ajudar a pessoa a abrir o seu coração para a vida e para o amor. “Essa não é uma tarefa fácil. O coração está muito bem protegido em sua caixa óssea e os caminhos que levam a ele estão fortemente defendidos, tanto física quanto psicologicamente. Atravessar a vida com o coração encarcerado é como fazer uma viagem transoceânica trancado no porão de um navio. Todo o significado, a aventura, a excitação e a glória de viver estão longe de poderem ser vistos e tocados.”
Muitos podem estar se perguntando: mas qual o objetivo de viver assim? Relações mais profundas e verdadeiras. Estar consciente de que a felicidade vendida pelas telinhas de TV não passa de imagem e futilidade. A vida pode ser muito mais e não só nos livros e filmes.

Katia Marko, jornalista, terapeuta bioenergética e uma pessoa em busca de si mesma.
Edições anteriores da coluna:

“Por que vivo em comunidade”
Em Porto Alegre, cinquenta pessoas decidiram ir além da família nuclear. Nossa mais nova colunista começa a relatar a experiência
(Em 18/7/2012)
 


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