6 de novembro de 2014 | 13:08 Autor: Fernando Brito
A Folha, tentando “remendar” a matéria de ontem em que dizia que o Operador Nacional do Sistema (elétrico) previa apagões seletivosdurante as madrugadas no verão que começa daqui a pouco, vai, cada vez mais, enfiando o pé na jaca do mau jornalismo.
E tudo porque, em nome de um sensacionalismo político, transforma o que é precaução em “notícia”, como se colocar um fusível na rede elétrica de uma casa fosse o mesmo que já ter um curto-circuito.
O que faz a Folha?
Pega os planos de contingência que são elaborados para o caso de piora na situação hídrica e transforma em “agenda” do setor elétrico.
Vai ouvir distribuidores de energia privados, além do onipresente “urubu energético” Adriano Pires, que têm todo interesse em qualquer notícia que possa favorecer alta de preços e reajustes. E, no caso de alguns, crise política.
Não trabalha com dados primários e, por isso, não consegue transmitir, como é dever do jornalista, a realidade à população.
Ninguém sério – este blog procura sempre sê-lo – nega a gravidade da seca que se abateu no Sudeste do país.
Coloco lá em cima um mapa comparativo das chuvas acumuladas entre 1° de janeiro e 1° de novembro de 2001 (o ano do apagão) e entre as mesmas datas, este ano.
Não precisa ser geógrafo ou meteorologista para ver que os padrões de chuva do semi-árido nordestino “desceram” até o Norte de São Paulo, atingindo em cheio as bacias das represas do Sudeste. Com mais força, até, na região do Rio São Francisco do que na no Cantareira, que vive o drama que todos sabemos.
E que o sistema elétrico, que depende das mesmas chuvas, só não está na mesma penúria que a da água em São Paulo porque o Brasil, desde 2002, duplicou a capacidade de geração térmica e instalou geradoras eólicas que, mesmo modestamente, produzem perto de 2% do consumo nacional.
Portanto, ninguém negou, hora alguma, que estivéssemos diante de uma seca saariana. O que se criticou, no caso da Sabesp, foi a falta, justamente, de um planejamento que fosse posto em prática à medida em que a gravidade da situação aumentasse. E, no caso de Alckmin, a insinceridade no trato do problema.
Mas nem por isso se nega - ao contrário, comemorou-se – o fato de ter começado o período chuvoso, o que se pode conferir confrontando o acumulado de 10 meses com o de apenas uma semana, de 30/10 até ontem, como se vê no mapa ao lado.
É burrice tentar prever que não vão acontecer as chuvas, tanto quanto foi burrice ficar esperando que viessem quando não era época de virem.
Se quiser fazer sensacionalismo barato, posso ficar explorando cada 0,1% de queda no Cantareira e o saldo menor das represas.
Mas seria desonesto, porque a informação essencial é que aafluência do sistema já quase dobrou em relação de outubro, embora os 7,2 m³/s de hoje ainda precisem quadruplicar para atingir a média histórica de 31 m³/segundo.
O problema não é somente o nível do reservatório, é se este nível tem diante de si um período de chuvas ou de seca.
Como é desonesto dizer que tudo está bem, como se fez durante meses em São Paulo, também é desonesto prever catástrofes iminentes, no curto prazo, porque é no médio prazo, por conta do início do período chuvoso, que os problemas se tornarão agudos.
Aqui não se escreve que “se não chover” ou “se chover” porque isso não é loteria. É a vida das pessoas, a tranquilidade social e a economia do país que estão em jogo.
Por isso, menos leviandade e mais apuração jornalística.
Um pouquinho de trabalho não faz mal a ninguém.
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