11 de novembro de 2014 | 13:08 Autor: Fernando Brito
Encerrada a votação e divulgados os resultados do 2° turno, qualquer pessoa com alguma lucidez política percebia que o caminho da governabilidade para Dilma Rousseff tinha demarcação muito nítida.
E continua tendo.
Todos eles – desde o relacionamento com o empresariado até o com os movimentos sociais, passando pela óbvia necessidade de composição com um Congresso inquieto e que cobre de razão o que previu o velho Ullysses Guimarães , ao responder “espere só para ver o próximo” a quem criticava o Parlamento – dependem, por sua vez, de um, essencial.
O da capacidade de Dilma de absorver e sintetizar, na composição de governo, não apenas representações, mas as vontades políticas – eventualmente contraditórias – destes setores, dentro dos marcos que foram a razão de sua vitória: crescimento da economia e crescimento da inclusão social.
Neste último campo, inevitavelmente, precisa somar-se ao conjunto da inclusão a politização que, em seu primeiro mandato, faltou em escala maior do que já havia faltado no primeiro governo Lula.
Compreende-se, pela prudência e pela necessidade de compor, a demora em anúncios formais de ministério – este, ao que parece, começará ao final da semana – e políticas.
Cada coisa tem sua hora e, para quem precisa de provas, basta que observe o comportamento de Aécio Neves.
Durante a campanha, para mostrar que o governo de fato não seria exercido na economia por suas pífias capacidades, pré-nomeou Armínio Fraga para a Fazenda.
Depois da campanha, em lugar de recompor seu patrimônio político com a votação, lançou-se como “general” de forças transtornadas, que têm muito mais espaço na mídia do que nos fatos, enquanto os tucanos de São Paulo se rearticulam e deixam que sofra ele os desgastes do radicalismo.
O que falta, portanto, a Dilma não é atirar-se estouvadamente às precipitações político-administrativas.
Falta assumir, decididamente, uma mudança de métodos, que é algo que ficou evidente na campanha como indispensável à sua sobrevivência.
O estabelecimento de linhas de comunicação direta com os agentes políticos e com toda a população.
E isso só pode ser feito por ela, não por ministros ou mesmo pelo próprio Lula, pela evidente bicefalia governamental que isso traria.
Engana-se quem pensa que o que se discute, essencialmente, na comunicação governamental é a distribuição de verbas publicitárias.
Até porque este pensamento tosco leva a uma voracidade de “bater mais” para “ganhar mais”.
Nem mesmo em relação a publicações “de esquerda” isso é tolice: o apoio militante ao projeto Lula-Dilma nunca dependeu de sacudirmos canequinhas às verbas de governo, tanto que crescemos quase sem tê-las e, no caso deste blog, sem tê-las de forma alguma.
A história dos “blogs sujos” é apenas a transposição para o texto alheio das motivações de nossa imprensa de direita.
Dilma precisa, mais do que falar, dar sinais de como e com quem vai falar.
Porque isso é o que determinará seu texto.
Seu primeiro contato público, após o natural momento da vitória eleitoral, foi uma “entrevista exclusiva” aos grandes jornais.
O resultado foi que sua fala reduziu-se ao óbvio, mas que foi notícia por coincidir com o discurso da mídia: cortar despesas, refrear as pressões inflacionárias, providências obvias a qualquer governo diante de uma conjuntura de dificuldades.
Não foi notícia o que representava os seus compromissos: retomar o crescimento, defender o emprego e os salários, reafirmar a soberania brasileira.
Algo ser ou não ser notícia significa, simplesmente, ser dito ou não ser dito à população.
A eleição de um Presidente é uma relação direta que se estabelece entre eleitor e eleito.
Não pode ser a única, nem extinguir-se para ser buscada, de novo, daí a quatro anos.
Na velocidade que tem, hoje, não apenas a permeabilidade do país à comunicação mas, com ela, o imediatismo na formação de impressões e julgamentos, é impensável.
Dilma perde ao adiar não o anúncio de seus ministros, mas ao não sinalizar que fará esta relação o mais possível diretamente ou, ao menos, não exclusivamente pelas estruturas da mídia que a hostiliza abertamente e tenta determinar aquilo que dirá.
É de esperar que o faça, nos próximos dias.
O silêncio tem suas sabedorias.
A mudez, não.
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