Ilka Oliva Corado
Adital
No dia 05 de fevereiro se completaram 20 anos de um árduo trabalho humanitário a serviço dos migrantes sem documentos que atravessam o território mexicano em sua passagem em direção aos Estados Unidos.
Sua comunidade, La Patrona, Município de Amatlán, Departamento de Veracruz, no México, é parada obrigatória para o trem chamado La bestia ("A besta”, em português), que transporta, no lombo de seus vagões, milhares de pessoas sem documentos, que foram impelidas à desprotegida migração, a partir de seus países de origem, por governos corruptos e sistemas em decadência, que os esquecem nos esgotos das classes sociais e na impossibilidade de desenvolvimento.
Las Patronas é um grupo de mulheres que sai às vias de trem e atiram bolsas de comida e garrafas de água aos migrantes que vão sobre La Bestia. São o exemplo vivo do que é dar sem esperar nada em troca. Com elas se vive a ação. O atuar. O mobilizar. Conscientizar sobre a situação da migração sem documentos é parte vital de sua colaboração a essa problemática mundial.
Conhecidas no mundo inteiro por tão íntegra entrega, Las Patronas estão aniversariando — cabe mencionar que é a primeira vez que comemoram. Tive o enorme privilégio de conversar via telefone com Norma Romero, coordenadora de Las Patronas. Um bate-papo que nada teve de entrevista jornalística, muito mais uma conversa informal entre uma "sem documentos”, que poderia muito bem ter ido em cima de qualquer vagão de La Bestia em seu caminho até os Estados Unidos, e uma mulher que, a qualquer momento, poderia ter estendido a mão para ajudá-la.
"Crônicas de uma Inquilina” tem o prazer de lhes apresentar, em Encontros: Las Patronas. Aproveitem e, se quiserem, comentem e compartilhem, porque as heroínas com pés de barro são candelabros acesos nos cantos mais escuros da indiferença.
O que aconteceu no dia 05 de fevereiro de 1995?
Duas de minhas irmãs — Rosa e Bernarda — foram comprar o pão e o leite para tomar café da manhã e, quando o trem vinha, passou devagar, porque, como é passagem por lá, tem que diminuir a velocidade, e nós pensávamos que as pessoas que vinham no trem eram mexicanas e que subiram para se aventurarem, pois, às vezes, os jovens têm inquietudes, é verdade. Pensávamos que como ninguém cobrava o transporte deles, podiam subir, mas elas escutaram alguém gritando "mãe, temos fome”, e elas pensavam que estavam brincando com elas, e passou o grupo seguinte e também disse "mãe, temos fome, dê-nos com um pão”. Então, uma delas retirou da bolsa o pão e veio o grupo de trás e também pediu a elas. Então, atiraram a eles as caixas de leite. E chegaram em casa e minha mãe perguntou o que haviam feito com o pão e o leite que haviam sido encarregadas de comprar e elas começaram a dizer: presta atenção, mamãe, que a gente que vai no trem não é mexicana, porque tem um sotaque, não sei como eles falam, e gritaram para nós que têm fome.
Então nos reunimos em casa e conversamos a família toda, a verdade é que, nesse tempo, o dinheiro dava e até sobrava, porque eram baratas as coisas, hoje em dia, lamentavelmente, está mais cara a cesta básica. Então, começamos a fazer taquinhos, arrozinho, ovinhos e feijõesinhos. E pusemos oito taquinhos em cada bolsinha. No dia seguinte ao que minhas irmãs deram o pão e o leite, começamos a dar os tacos - e com o que eles vão engolir? Pois encham umas garrafinhas de água, disse. As garrafinhas de água eles não podiam pegar porque escorregavam de suas mãos; chegamos em casa e contamos ao meu pai e ele nos disse que as amarrássemos em pares com um cordão e fizemos isto.
[E assim iniciou a história de Las Patronas, que tem corrido o mundo; com uma família que não foi apática à necessidade de desconhecidos. Quantos de nós faríamos isso?]
Começaram com 30 almoços. Hoje em dia, quantos são distribuídos?
Agora mesmo, a partir de 2014, foi a mudança — devido ao Plano Fronteira Sul, que criminaliza as pessoas sem documentos por parte de autoridades mexicanas e faz com que essas busquem outras vias de transporte para chegarem à fronteira com os Estados Unidos — porque nós estávamos dando entre 600 e 700 lanches, porque era muita gente que estava cruzando. Chegamos a ter até mais de 1 mil pessoas por dia. Buscando pão doce, tortilhas, o que houvesse, o que encontrássemos e, pedindo que doasse sua comida, que não a jogassem fora porque fazem isso quando sobra. E fazíamos coletas e a gente passou a dar quanta comida havia necessidade e começaram as doações. E assim foi como se deu e a gente começou a se envolver.
Claro que não tem sido fácil, porque, antes, ajudar um "sem documentos” era um delito e era onde tínhamos que ter cuidado. Depois de formar um grupo com minha família, formei outro grupo na parte central do município com outras mulheres para que nos ajudassem, assim, elas davam comida lá e nós aqui. E foi assim onde começamos, mas, depois, vieram os comentários maldosos das pessoas: "Não, que essas velhas estão loucas, que ajudar o migrante é um delito, que vão acusá-las de polleras [no México, pessoas que transportam trabalhadores sem documentos até os EUA]". Elas ajudaram por cerca de dois anos, mas, depois, os maridos começaram a dizerem "não te mete em problemas, veja o que está fazendo, quem sabe o que pode acontecer”, então, as mulheres, por medo, nos disseram, olhe, melhor não. Eu disse a elas que estava tudo bem, porque tampouco quero ser a causadora de que tenham desentendimentos com seus maridos. Das 25 que éramos, ficamos 15, das quais, hoje em dia, somos 14.
Hoje em dia, estamos dando 100 lanches no trem, e os que chegam a casa caminhando, porque há migrantes que descem ou estão feridos e cansados, e chegam ao refeitório e ali os atendemos. Diminuiu a quantidade devido à cobrança das máfias.
[Estão submetidas pelas próprias autoridades municipais, estatais e migratórias em conspiração com os grupos criminosos reconhecidos pela violência com que tratam os migrantes sem documentos]
Vinte anos é um mar de memórias...
Olhe, é preciso agradecer a Deus por tudo o que nos dá, agradeço a Deus por me ter dado pais que me ensinaram a trabalhar e que me deram valores. Tive a oportunidade de ter um parceiro que se portou bem e que não se meteu nas minhas decisões e que me apoiou [seu esposo faleceu] e que me deu um filho que é tranquilo, que está estudando e que está levando adiante.
A transformação da palavra em ação
Norma era catequista na igreja de seu município, mas sentia um vazio, sentia que não era suficiente o que fazia, teve alguns desentendimentos com outras mulheres da igreja porque, para ela, não era somente ir à missa e, fora dela, viver com invejas, preconceitos e dupla moral. Distanciou-se do catecismo e pediu a Deus um sinal, ela queria passar da palavra à ação e o sinal chegou no dia menos esperado.
Nesse dia, em 1996, terminamos de dar a comida e, depois de haver terminado a jornada do dia, fui à minha casa e nos deitamos para dormir e, mais ou menos às 11h30 chegou uma companheira do grupo e bateu à porta e me disse: "escuta, Norma, o trem que acabou de parar e trouxe umas 500 pessoas, mas vem com um doente e aqui está sua esposa e um companheiro”. Vi-os pela janela e disse a eles que me esperassem porque ia me trocar. Ela foi para sua casa dormir e os deixou aí na porta e, quando saí, essa mulher me disse "me ajuda pelo que há de mais sagrado” e se ajoelhou diante de mim. Imediatamente, disse que se levantasse, não pensei duas vezes e disse a ela que me levasse onde estava seu marido. Esse era o sinal de que eu necessitava, foi esse o momento em que mudou tudo na minha vida.
Peguei a caminhoneta do meu esposo e não pensei que, em 1996, se era delito ajudar um "sem documentos”, só saí dali e disse a eles que me levassem aonde estava seu esposo, chegamos e vi a multidão de gente que estava no trem, cheguei às vias e disse a Deus, "Senhor, se tu me colocaste aqui, tu vais me ajudar”, nesse momento, algo me cobriu desde a cabeça até os pés, nunca voltei a sentir algo similar. Foi como um abrigo, como se alguém houvesse me abraçado. Como se alguém tivesse retirado a venda dos meus olhos, desde então, perdi o medo. E a certeza de que Deus estava atuando e que queria meu serviço. O medo foi desaparecendo pouco a pouco e é como se ele me houvesse dito: "agora sim, vem e trabalha”.
Aproximaram-se os garotos sem documentos e me disseram: "mãe, pelo que há de mais sagrado, nos ajuda”, e eu disse a eles que iria ajudar o que estava doente, que não podia ajudar todos e me disseram "não, ajudando-o já está nos ajudando”. Havia amor, solidariedade, não havia fronteiras, havia algo bonito.
Era um garoto que tinha defendido sua esposa porque o trem foi assaltado pelas máfias e queriam abusar sexualmente dela e ele a defendeu e o esfaquearam, imagine de Agua Blanca a La Patrona o trem leva três horas, e, nesse tempo, a pessoa sangrou e vinha com muita temperatura e, além disso, perdeu o sentido.
Então, todos começaram a ajudar a tirá-lo de cima do vagão e foi algo tão bonito, todos éramos irmãos ali, e o desceram com tanto cuidado. O rapaz era negro, negro que só se via seus dentes brancos, e vi aquele homem, como lhe estenderam as mãos e juntaram seus pés, enquanto alguns o sustentavam nos braços, outros o agarravam pelos pés, e foi como ver um Cristo negro.
Negaram-nos o serviço no hospital próximo da comunidade porque era indocumentado, também um médico de uma clínica privada porque disse que não queria se meter em problemas. Isso foi como a segunda chamada de Deus, de dizer pois agora façam vocês, curem-no vocês. E eu o levei para minha casa e ficou na minha cama, sabia alguma coisa de primeiros socorros e chamei um amigo que também sabia sobre primeiros socorros e ele me disse como proceder, mas tampouco se atreveu a ir à minha casa porque pensava que iria morrer e não queria problemas.
Compramos remédio para a febre e para controlar a infecção. Chegando à casa o banhamos com água fria para baixar a febre e revisamos a ferida. Ficou na minha casa por mais de 20 dias recuperando-se e foi embora em setembro, e nos chamaram por telefone no dia 25 de dezembro para nos dizer que ele havia conseguido cruzar para os Estados Unidos. E isso é o mais bonito, de servir e não esperar nada em troca. E muita gente diz "isso fazem e seguramente lhes pagam” e não é assim, o pagamento maior vem da bênção de Deus.
A Internacionalização
Veja, têm nos ajudado muito os documentários que realizados acerca do nosso trabalho, isso nos divulga em nível internacional, e como nós abrimos as puertas para quem quer vir conhecer o que fazemos têm chegado pessoas de muitos países. Documentaristas, cineastas, jornalistas. E abrimos as puertas porque queremos conscientizar a sociedade civil para que não apenas julguem, para que conheçam melhor as pessoas, às vezes, é melhor ensinar o mal ao ser humano do que ensinar o bem. Quando você vê uma pessoa migrante, a primera coisa que diz é "é um delinquente”, já foi investigá-lo? Por que não pergunta se tem fome, se necessita de abrigo, en que pode ajudá-lo. Por que não fazemos tudo o contrário e dá tempo para conhecê-lo.
Nós, em todos esses anos, temos visto passar milhares de migrantes e, para nós, é uma benção ajudá-los. E dizemos a eles que cuando quando chegarem aos Estados Unidos não se esqueçam de sua familia e façam as coisas bem para que fiquem bem.
O refeitório-albergue
Já tínhamos o comedor, mas não o albergue porque não tínhamos quem nos apoiasse economicamente, então, um documentário que se chama "La Patrona” o diretor levou a vários festivais, esteve na França e de lá perguntaram o que era que nós necessitávamos e eu disse: um quarto para voluntários, um quarto para que durmam os rapazes – indocumentados - e um pequeno escritório. Uns chuveiros e banheiros para os rapazes também. E graças aos documentários que têm sido realizados acerca do nosso trabalho comos convidadas por várias universidades para dar testemunhos e conscientizar os estudantes. E sempre os convidamos a conhecerem a experiência, e chegam ao nosso refeitório levando mantimentos. Nós necessitamos de calçadoa, roupa, porque os migrantes vão só com a roupa do corpo, e pelo menos que possam se trocar quando chegam ao albergue, é sumamente importante o calçado e a roupa.
Temos uma caminhoneta – pickup - que nos doaram cinco famílias de Jalapa e com isso fazemos as compras para facer os almoços.
Cabe mencionar que o refeitório-albergue está construido no terreno dado pelo pai de Norma. Nada de ajuda municipal ou estadual.
Como é a relação com as entidades migratórias?
É boa, trabalhamos em equipe e ajudam nos hospitais quando levamos migrantes feridos, claro que o tratamento é diferente quando vão sozinhos, tem que ir uma de nós para acompanhá-los em todo o processo e verificar que as autoridades lhes deem tratamento humano. Eu sempre digo que não é em si a entidade que é má, mas as pessoas, e quando isso acontece eu falo con elas diretamente e de bom modo e isso nos ajuda muito. Trato de concientizá-los e que vejam os migrantes como irmãos que somos.
Se o paciente necessita de prótese, contata as autoridades, realiza a terapia de se envia a um albergue para que vão se acostumando com sua prótese e sua nova realidade.
O Plano Fronteira Sul
O Plano Fronteira Sul veio afetar mais a situação dos migrantes porque os criminaliza, o que os obriga a buscar outras alternativas para atravessar o México e os expõe a grupos criminosos, caminham mais e sem água nem comida. Baixou a procura porque antes atendíamos por dia a 600 ou 700 e, hoje, a 100 ou 120.
O Instituto Nacional de Migração
Bom, por esses lados, estão mais concientizados porque nós nos encarregamos de não saímos da linha, e porque tampouco nos confiamos, o que acontece em outros albergues é que só oferecem proteção dentro das instalações e quando saem já não são responsáveis. Aqui é o contrário, os apoiamos dentro e fora, os acompanhamos pegar os ônibus ou se precisam subir no trem também vamos. Então, quando as autoridades nos veem, respeitam o emigrante. Isso requer que nós nos envolvamos por completo e saiamos da nossa zona de conforto, se vamos ajudar que seja totalmente, não meio termo.
Conscientizar a sociedade civil
Todos os migrantes em meu caminho têm sido um presente da parte de Deus, há momentos em que não só tem que batalhar com as pessoas que lastimam o migrante, mas também com a sociedade civil que desconhece a dor que carrega o emigrante, mas também os pastores evangélicos. É um conjunto de pessoas que só critica e fala com preconceitos, mas que não se envolve, muito fácil é falar, mas difícil é atuar.
Nós, como já sabemos, falamos com os migrantes e dizemos: "por esses lugares se pode passar, por esses lugares não, a tal hora sim, a tal hora não.” A sociedade civil poderia ajudar muitíssimo nisso, mas nem as pessoas como comunidade e muito menos os pastores da igreja. E você se dá conta que não pode decair e que seu dever é criar consciência. Há muita gente que tem se somado, mas que não atua, e do que necessitamos é de sua ação. É muito fácil encerrar-se na igreja e orar e orar, mas as coisas não são resolvidas orando, temos que nos envolver.
Tu eres das poucas como Padre Solalinde, Pantoja e Fray Tomás, que são pegar em armas...
Homens como eles nos fazem muitíssima falta, que se aproximam das pessoas ignorantes, que não só falem da bíblia, mas que se comprometam com a ação que Deus nos ensinou. Fácil é dizer da boca para fora quando não sai do coração.
Em 2013, vocês receberam o Prêmio Nacional de Direitos Humanos
Com esse Prêmio ficamos mais conhecidas, e muita gente se surpreendeu porque são muitas as organizações que trabalham na defesa dos Direitos Humanos no México, e nos preguntavam como fizemos para ganhar e nós dizemos que apenas com o favor de Deus e fazendo bem aos demais. Esse reconhecimento eu considero como um presente da parte dele, porque eran 356 organizações que estavam concorrendo.
Las Patronas também concorreram ao Prêmio Príncipe de Asturias 2015.
É um trabalho árduo não só atender aos migrantes, mas à sociedade civil que não se envolve e os vê como delinquentes, e quando pensam que os migrantes quando cruzam (a fronteira) nos mandam dólares e não é assim, solo os agradecimentos recebemos e também creem que as pessoas que chegam de outros países para conhecer nosso refeitório nos deixam muito dinheiro e isso também é falso. As pessoas pensam que isso é um negócio. Eu sempre disse que se fosse certo que nos pagariam então não seríamos 14 mulheres, seríamos 100. É muito fácil falar, mas tampouco têm a capacidade de se aproximarem e verem como estamos fazendo, e muito menos envolverem-se sabendo que não vão receber mais do que agradecimentos. E as que têm se aproximado só demoram uma semana e na mesma vão embora, porque não é do coração, e esperam receber algo mais.
Nos dias 14 e 15 de fevereiro, Las Patronas comemorarão, pela primeira vez, seu aniversário, completarão 20 anos, dando a mão aos migrantes indocumentados que passam por La Patrona, Veracruz. Entre suas atividades está uma missa, que será celebrada pelo bispo de Saltillo, Raúl Vera – que apoia contra todos os indocumentados que atravessam o México – contarão com a presença dos sacerdotes Alejandro Solalinde, Pedro Pantoja e Fray Tomás González. Será realizada uma procissão na comunidade.
Completamos 20 anos, mas também é um agradecimento a Deus, a todas e a cada uma das pessoas que têm caminhado ao nosso lado todos estes anos. Sem o apoio de quem doa para nós não poderíamos ajudar os migrantes e isso é para agradecer a elas. Somos uma grande equipe. Entre sacerdotes, associações, fundações e sociedade civil.
Os 43 estudantes de Ayotzinapa
A dor deles é nossa dor, assim como a cada ano recebemos as mães centro-americanas em sua caravana buscando por seus filhos migrantes desaparecidos no México. Eu comento com as pessoas que quando ocorreu o massacre de San Fernando, quando mataram 72 migrantes indocumentados, não se fez tanto ruído porque eram migrantes, tivemos que esperar que acontecesse isto com os 43 normalistas para que sentíssemos a dor que sentem as mães centro-americanas. Digo mais: imagene todo a dor que tem causado para aqueles países irmãos, agora, estamos vivendo na própria carne com esses pais que, lamentavelmente, também estão na luta.
É que temos que levantar a voz, temos que caminhar uns com os outros. Apoiando-nos e exigindo essa justiça que todos necessitamos. Hoje, estamos aqui, mas amanhaã estamos todos expostos, necessitamos de segurança, ninguém é intocável. Não temos que ser indiferentes à dor das demais pessoas. É preciso nos unirmos, é preciso que nos demos as mãos. Eu me dou conta quando vem a caravana das mães centro-americanas, as pessoas as veem perguntando: e estas o que vêm fazer aqui? E eu lhes digo, aproximem-se para ver as fotos, seuus filhos também podem migrar. Que conheçam as mães e que conversem com elas e que se inteirem por que elas vêm. Informar se alguém viu passar alguém das fotografias que levam as mães coladas em seu peito.
Que não sejam espectadores e que se aproximem. É tão pouco o que nos pedem e nós, com tanta indiferença. Não entendo por que somos assim.
Deseja acrescentar algo para concluir?
Bom, dizer às pessoas que não discriminemos, que não julguemos, assim como está a América Central, hoje vive o México, e assim vamos, os mexicanos não cantam mal as ‘rancheras’ [música folclórica hispano-americana]. Faz falta solidariedade, o sentimento de que muitas pessoas estão vivendo momentos difíceis, que não sejamos indiferentes à dor das demais pessoas, não estamos salvos, em qualquer momento, algo pode acontecer conosco. Que comecemos a nos respeitar. Todos somos irmãos, não importa a religião, a raça, a nacionalidade, a cor.
Nota: se você deseja colaborar com mantimentos, dinheiro, roupa ou calçados pode fazê-lo comunicandose com elas nas redes sociais: @LasPatronas_dh e no Facebook: La Patrona.
Por e-mail, Norma Romero: lapatrona.laespezanza@gmail.com Também le invito a ver el documental "La Patrona”:
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Norma Romero, coordenadora de Las Patronas: 20 anos de entrega aos indocumentados. |
Sua comunidade, La Patrona, Município de Amatlán, Departamento de Veracruz, no México, é parada obrigatória para o trem chamado La bestia ("A besta”, em português), que transporta, no lombo de seus vagões, milhares de pessoas sem documentos, que foram impelidas à desprotegida migração, a partir de seus países de origem, por governos corruptos e sistemas em decadência, que os esquecem nos esgotos das classes sociais e na impossibilidade de desenvolvimento.
Las Patronas é um grupo de mulheres que sai às vias de trem e atiram bolsas de comida e garrafas de água aos migrantes que vão sobre La Bestia. São o exemplo vivo do que é dar sem esperar nada em troca. Com elas se vive a ação. O atuar. O mobilizar. Conscientizar sobre a situação da migração sem documentos é parte vital de sua colaboração a essa problemática mundial.
Conhecidas no mundo inteiro por tão íntegra entrega, Las Patronas estão aniversariando — cabe mencionar que é a primeira vez que comemoram. Tive o enorme privilégio de conversar via telefone com Norma Romero, coordenadora de Las Patronas. Um bate-papo que nada teve de entrevista jornalística, muito mais uma conversa informal entre uma "sem documentos”, que poderia muito bem ter ido em cima de qualquer vagão de La Bestia em seu caminho até os Estados Unidos, e uma mulher que, a qualquer momento, poderia ter estendido a mão para ajudá-la.
"Crônicas de uma Inquilina” tem o prazer de lhes apresentar, em Encontros: Las Patronas. Aproveitem e, se quiserem, comentem e compartilhem, porque as heroínas com pés de barro são candelabros acesos nos cantos mais escuros da indiferença.
O que aconteceu no dia 05 de fevereiro de 1995?
Duas de minhas irmãs — Rosa e Bernarda — foram comprar o pão e o leite para tomar café da manhã e, quando o trem vinha, passou devagar, porque, como é passagem por lá, tem que diminuir a velocidade, e nós pensávamos que as pessoas que vinham no trem eram mexicanas e que subiram para se aventurarem, pois, às vezes, os jovens têm inquietudes, é verdade. Pensávamos que como ninguém cobrava o transporte deles, podiam subir, mas elas escutaram alguém gritando "mãe, temos fome”, e elas pensavam que estavam brincando com elas, e passou o grupo seguinte e também disse "mãe, temos fome, dê-nos com um pão”. Então, uma delas retirou da bolsa o pão e veio o grupo de trás e também pediu a elas. Então, atiraram a eles as caixas de leite. E chegaram em casa e minha mãe perguntou o que haviam feito com o pão e o leite que haviam sido encarregadas de comprar e elas começaram a dizer: presta atenção, mamãe, que a gente que vai no trem não é mexicana, porque tem um sotaque, não sei como eles falam, e gritaram para nós que têm fome.
Então nos reunimos em casa e conversamos a família toda, a verdade é que, nesse tempo, o dinheiro dava e até sobrava, porque eram baratas as coisas, hoje em dia, lamentavelmente, está mais cara a cesta básica. Então, começamos a fazer taquinhos, arrozinho, ovinhos e feijõesinhos. E pusemos oito taquinhos em cada bolsinha. No dia seguinte ao que minhas irmãs deram o pão e o leite, começamos a dar os tacos - e com o que eles vão engolir? Pois encham umas garrafinhas de água, disse. As garrafinhas de água eles não podiam pegar porque escorregavam de suas mãos; chegamos em casa e contamos ao meu pai e ele nos disse que as amarrássemos em pares com um cordão e fizemos isto.
[E assim iniciou a história de Las Patronas, que tem corrido o mundo; com uma família que não foi apática à necessidade de desconhecidos. Quantos de nós faríamos isso?]
Começaram com 30 almoços. Hoje em dia, quantos são distribuídos?
Agora mesmo, a partir de 2014, foi a mudança — devido ao Plano Fronteira Sul, que criminaliza as pessoas sem documentos por parte de autoridades mexicanas e faz com que essas busquem outras vias de transporte para chegarem à fronteira com os Estados Unidos — porque nós estávamos dando entre 600 e 700 lanches, porque era muita gente que estava cruzando. Chegamos a ter até mais de 1 mil pessoas por dia. Buscando pão doce, tortilhas, o que houvesse, o que encontrássemos e, pedindo que doasse sua comida, que não a jogassem fora porque fazem isso quando sobra. E fazíamos coletas e a gente passou a dar quanta comida havia necessidade e começaram as doações. E assim foi como se deu e a gente começou a se envolver.
Claro que não tem sido fácil, porque, antes, ajudar um "sem documentos” era um delito e era onde tínhamos que ter cuidado. Depois de formar um grupo com minha família, formei outro grupo na parte central do município com outras mulheres para que nos ajudassem, assim, elas davam comida lá e nós aqui. E foi assim onde começamos, mas, depois, vieram os comentários maldosos das pessoas: "Não, que essas velhas estão loucas, que ajudar o migrante é um delito, que vão acusá-las de polleras [no México, pessoas que transportam trabalhadores sem documentos até os EUA]". Elas ajudaram por cerca de dois anos, mas, depois, os maridos começaram a dizerem "não te mete em problemas, veja o que está fazendo, quem sabe o que pode acontecer”, então, as mulheres, por medo, nos disseram, olhe, melhor não. Eu disse a elas que estava tudo bem, porque tampouco quero ser a causadora de que tenham desentendimentos com seus maridos. Das 25 que éramos, ficamos 15, das quais, hoje em dia, somos 14.
Hoje em dia, estamos dando 100 lanches no trem, e os que chegam a casa caminhando, porque há migrantes que descem ou estão feridos e cansados, e chegam ao refeitório e ali os atendemos. Diminuiu a quantidade devido à cobrança das máfias.
[Estão submetidas pelas próprias autoridades municipais, estatais e migratórias em conspiração com os grupos criminosos reconhecidos pela violência com que tratam os migrantes sem documentos]
Vinte anos é um mar de memórias...
Olhe, é preciso agradecer a Deus por tudo o que nos dá, agradeço a Deus por me ter dado pais que me ensinaram a trabalhar e que me deram valores. Tive a oportunidade de ter um parceiro que se portou bem e que não se meteu nas minhas decisões e que me apoiou [seu esposo faleceu] e que me deu um filho que é tranquilo, que está estudando e que está levando adiante.
Mulheres mexicanas de Las Patronas se uniram para dar alimentos aos migrantes de La Bestia. |
A transformação da palavra em ação
Norma era catequista na igreja de seu município, mas sentia um vazio, sentia que não era suficiente o que fazia, teve alguns desentendimentos com outras mulheres da igreja porque, para ela, não era somente ir à missa e, fora dela, viver com invejas, preconceitos e dupla moral. Distanciou-se do catecismo e pediu a Deus um sinal, ela queria passar da palavra à ação e o sinal chegou no dia menos esperado.
Nesse dia, em 1996, terminamos de dar a comida e, depois de haver terminado a jornada do dia, fui à minha casa e nos deitamos para dormir e, mais ou menos às 11h30 chegou uma companheira do grupo e bateu à porta e me disse: "escuta, Norma, o trem que acabou de parar e trouxe umas 500 pessoas, mas vem com um doente e aqui está sua esposa e um companheiro”. Vi-os pela janela e disse a eles que me esperassem porque ia me trocar. Ela foi para sua casa dormir e os deixou aí na porta e, quando saí, essa mulher me disse "me ajuda pelo que há de mais sagrado” e se ajoelhou diante de mim. Imediatamente, disse que se levantasse, não pensei duas vezes e disse a ela que me levasse onde estava seu marido. Esse era o sinal de que eu necessitava, foi esse o momento em que mudou tudo na minha vida.
Peguei a caminhoneta do meu esposo e não pensei que, em 1996, se era delito ajudar um "sem documentos”, só saí dali e disse a eles que me levassem aonde estava seu esposo, chegamos e vi a multidão de gente que estava no trem, cheguei às vias e disse a Deus, "Senhor, se tu me colocaste aqui, tu vais me ajudar”, nesse momento, algo me cobriu desde a cabeça até os pés, nunca voltei a sentir algo similar. Foi como um abrigo, como se alguém houvesse me abraçado. Como se alguém tivesse retirado a venda dos meus olhos, desde então, perdi o medo. E a certeza de que Deus estava atuando e que queria meu serviço. O medo foi desaparecendo pouco a pouco e é como se ele me houvesse dito: "agora sim, vem e trabalha”.
Aproximaram-se os garotos sem documentos e me disseram: "mãe, pelo que há de mais sagrado, nos ajuda”, e eu disse a eles que iria ajudar o que estava doente, que não podia ajudar todos e me disseram "não, ajudando-o já está nos ajudando”. Havia amor, solidariedade, não havia fronteiras, havia algo bonito.
Era um garoto que tinha defendido sua esposa porque o trem foi assaltado pelas máfias e queriam abusar sexualmente dela e ele a defendeu e o esfaquearam, imagine de Agua Blanca a La Patrona o trem leva três horas, e, nesse tempo, a pessoa sangrou e vinha com muita temperatura e, além disso, perdeu o sentido.
Então, todos começaram a ajudar a tirá-lo de cima do vagão e foi algo tão bonito, todos éramos irmãos ali, e o desceram com tanto cuidado. O rapaz era negro, negro que só se via seus dentes brancos, e vi aquele homem, como lhe estenderam as mãos e juntaram seus pés, enquanto alguns o sustentavam nos braços, outros o agarravam pelos pés, e foi como ver um Cristo negro.
Negaram-nos o serviço no hospital próximo da comunidade porque era indocumentado, também um médico de uma clínica privada porque disse que não queria se meter em problemas. Isso foi como a segunda chamada de Deus, de dizer pois agora façam vocês, curem-no vocês. E eu o levei para minha casa e ficou na minha cama, sabia alguma coisa de primeiros socorros e chamei um amigo que também sabia sobre primeiros socorros e ele me disse como proceder, mas tampouco se atreveu a ir à minha casa porque pensava que iria morrer e não queria problemas.
Compramos remédio para a febre e para controlar a infecção. Chegando à casa o banhamos com água fria para baixar a febre e revisamos a ferida. Ficou na minha casa por mais de 20 dias recuperando-se e foi embora em setembro, e nos chamaram por telefone no dia 25 de dezembro para nos dizer que ele havia conseguido cruzar para os Estados Unidos. E isso é o mais bonito, de servir e não esperar nada em troca. E muita gente diz "isso fazem e seguramente lhes pagam” e não é assim, o pagamento maior vem da bênção de Deus.
Alimento e água são atirados pelas mulheres aos migrantes que viajam milhares de quilômetros rumo aos Estados Unidos. |
A Internacionalização
Veja, têm nos ajudado muito os documentários que realizados acerca do nosso trabalho, isso nos divulga em nível internacional, e como nós abrimos as puertas para quem quer vir conhecer o que fazemos têm chegado pessoas de muitos países. Documentaristas, cineastas, jornalistas. E abrimos as puertas porque queremos conscientizar a sociedade civil para que não apenas julguem, para que conheçam melhor as pessoas, às vezes, é melhor ensinar o mal ao ser humano do que ensinar o bem. Quando você vê uma pessoa migrante, a primera coisa que diz é "é um delinquente”, já foi investigá-lo? Por que não pergunta se tem fome, se necessita de abrigo, en que pode ajudá-lo. Por que não fazemos tudo o contrário e dá tempo para conhecê-lo.
Nós, em todos esses anos, temos visto passar milhares de migrantes e, para nós, é uma benção ajudá-los. E dizemos a eles que cuando quando chegarem aos Estados Unidos não se esqueçam de sua familia e façam as coisas bem para que fiquem bem.
O refeitório-albergue
Já tínhamos o comedor, mas não o albergue porque não tínhamos quem nos apoiasse economicamente, então, um documentário que se chama "La Patrona” o diretor levou a vários festivais, esteve na França e de lá perguntaram o que era que nós necessitávamos e eu disse: um quarto para voluntários, um quarto para que durmam os rapazes – indocumentados - e um pequeno escritório. Uns chuveiros e banheiros para os rapazes também. E graças aos documentários que têm sido realizados acerca do nosso trabalho comos convidadas por várias universidades para dar testemunhos e conscientizar os estudantes. E sempre os convidamos a conhecerem a experiência, e chegam ao nosso refeitório levando mantimentos. Nós necessitamos de calçadoa, roupa, porque os migrantes vão só com a roupa do corpo, e pelo menos que possam se trocar quando chegam ao albergue, é sumamente importante o calçado e a roupa.
Temos uma caminhoneta – pickup - que nos doaram cinco famílias de Jalapa e com isso fazemos as compras para facer os almoços.
Cabe mencionar que o refeitório-albergue está construido no terreno dado pelo pai de Norma. Nada de ajuda municipal ou estadual.
Como é a relação com as entidades migratórias?
É boa, trabalhamos em equipe e ajudam nos hospitais quando levamos migrantes feridos, claro que o tratamento é diferente quando vão sozinhos, tem que ir uma de nós para acompanhá-los em todo o processo e verificar que as autoridades lhes deem tratamento humano. Eu sempre digo que não é em si a entidade que é má, mas as pessoas, e quando isso acontece eu falo con elas diretamente e de bom modo e isso nos ajuda muito. Trato de concientizá-los e que vejam os migrantes como irmãos que somos.
Se o paciente necessita de prótese, contata as autoridades, realiza a terapia de se envia a um albergue para que vão se acostumando com sua prótese e sua nova realidade.
O Plano Fronteira Sul
O Plano Fronteira Sul veio afetar mais a situação dos migrantes porque os criminaliza, o que os obriga a buscar outras alternativas para atravessar o México e os expõe a grupos criminosos, caminham mais e sem água nem comida. Baixou a procura porque antes atendíamos por dia a 600 ou 700 e, hoje, a 100 ou 120.
O Instituto Nacional de Migração
Bom, por esses lados, estão mais concientizados porque nós nos encarregamos de não saímos da linha, e porque tampouco nos confiamos, o que acontece em outros albergues é que só oferecem proteção dentro das instalações e quando saem já não são responsáveis. Aqui é o contrário, os apoiamos dentro e fora, os acompanhamos pegar os ônibus ou se precisam subir no trem também vamos. Então, quando as autoridades nos veem, respeitam o emigrante. Isso requer que nós nos envolvamos por completo e saiamos da nossa zona de conforto, se vamos ajudar que seja totalmente, não meio termo.
Conscientizar a sociedade civil
Todos os migrantes em meu caminho têm sido um presente da parte de Deus, há momentos em que não só tem que batalhar com as pessoas que lastimam o migrante, mas também com a sociedade civil que desconhece a dor que carrega o emigrante, mas também os pastores evangélicos. É um conjunto de pessoas que só critica e fala com preconceitos, mas que não se envolve, muito fácil é falar, mas difícil é atuar.
Nós, como já sabemos, falamos com os migrantes e dizemos: "por esses lugares se pode passar, por esses lugares não, a tal hora sim, a tal hora não.” A sociedade civil poderia ajudar muitíssimo nisso, mas nem as pessoas como comunidade e muito menos os pastores da igreja. E você se dá conta que não pode decair e que seu dever é criar consciência. Há muita gente que tem se somado, mas que não atua, e do que necessitamos é de sua ação. É muito fácil encerrar-se na igreja e orar e orar, mas as coisas não são resolvidas orando, temos que nos envolver.
Tu eres das poucas como Padre Solalinde, Pantoja e Fray Tomás, que são pegar em armas...
Homens como eles nos fazem muitíssima falta, que se aproximam das pessoas ignorantes, que não só falem da bíblia, mas que se comprometam com a ação que Deus nos ensinou. Fácil é dizer da boca para fora quando não sai do coração.
Situação dos migrantes sem documentos que passam pelo México está cada vez más criminalizada. |
Em 2013, vocês receberam o Prêmio Nacional de Direitos Humanos
Com esse Prêmio ficamos mais conhecidas, e muita gente se surpreendeu porque são muitas as organizações que trabalham na defesa dos Direitos Humanos no México, e nos preguntavam como fizemos para ganhar e nós dizemos que apenas com o favor de Deus e fazendo bem aos demais. Esse reconhecimento eu considero como um presente da parte dele, porque eran 356 organizações que estavam concorrendo.
Las Patronas também concorreram ao Prêmio Príncipe de Asturias 2015.
É um trabalho árduo não só atender aos migrantes, mas à sociedade civil que não se envolve e os vê como delinquentes, e quando pensam que os migrantes quando cruzam (a fronteira) nos mandam dólares e não é assim, solo os agradecimentos recebemos e também creem que as pessoas que chegam de outros países para conhecer nosso refeitório nos deixam muito dinheiro e isso também é falso. As pessoas pensam que isso é um negócio. Eu sempre disse que se fosse certo que nos pagariam então não seríamos 14 mulheres, seríamos 100. É muito fácil falar, mas tampouco têm a capacidade de se aproximarem e verem como estamos fazendo, e muito menos envolverem-se sabendo que não vão receber mais do que agradecimentos. E as que têm se aproximado só demoram uma semana e na mesma vão embora, porque não é do coração, e esperam receber algo mais.
Nos dias 14 e 15 de fevereiro, Las Patronas comemorarão, pela primeira vez, seu aniversário, completarão 20 anos, dando a mão aos migrantes indocumentados que passam por La Patrona, Veracruz. Entre suas atividades está uma missa, que será celebrada pelo bispo de Saltillo, Raúl Vera – que apoia contra todos os indocumentados que atravessam o México – contarão com a presença dos sacerdotes Alejandro Solalinde, Pedro Pantoja e Fray Tomás González. Será realizada uma procissão na comunidade.
Completamos 20 anos, mas também é um agradecimento a Deus, a todas e a cada uma das pessoas que têm caminhado ao nosso lado todos estes anos. Sem o apoio de quem doa para nós não poderíamos ajudar os migrantes e isso é para agradecer a elas. Somos uma grande equipe. Entre sacerdotes, associações, fundações e sociedade civil.
Os 43 estudantes de Ayotzinapa
A dor deles é nossa dor, assim como a cada ano recebemos as mães centro-americanas em sua caravana buscando por seus filhos migrantes desaparecidos no México. Eu comento com as pessoas que quando ocorreu o massacre de San Fernando, quando mataram 72 migrantes indocumentados, não se fez tanto ruído porque eram migrantes, tivemos que esperar que acontecesse isto com os 43 normalistas para que sentíssemos a dor que sentem as mães centro-americanas. Digo mais: imagene todo a dor que tem causado para aqueles países irmãos, agora, estamos vivendo na própria carne com esses pais que, lamentavelmente, também estão na luta.
É que temos que levantar a voz, temos que caminhar uns com os outros. Apoiando-nos e exigindo essa justiça que todos necessitamos. Hoje, estamos aqui, mas amanhaã estamos todos expostos, necessitamos de segurança, ninguém é intocável. Não temos que ser indiferentes à dor das demais pessoas. É preciso nos unirmos, é preciso que nos demos as mãos. Eu me dou conta quando vem a caravana das mães centro-americanas, as pessoas as veem perguntando: e estas o que vêm fazer aqui? E eu lhes digo, aproximem-se para ver as fotos, seuus filhos também podem migrar. Que conheçam as mães e que conversem com elas e que se inteirem por que elas vêm. Informar se alguém viu passar alguém das fotografias que levam as mães coladas em seu peito.
Que não sejam espectadores e que se aproximem. É tão pouco o que nos pedem e nós, com tanta indiferença. Não entendo por que somos assim.
Deseja acrescentar algo para concluir?
Bom, dizer às pessoas que não discriminemos, que não julguemos, assim como está a América Central, hoje vive o México, e assim vamos, os mexicanos não cantam mal as ‘rancheras’ [música folclórica hispano-americana]. Faz falta solidariedade, o sentimento de que muitas pessoas estão vivendo momentos difíceis, que não sejamos indiferentes à dor das demais pessoas, não estamos salvos, em qualquer momento, algo pode acontecer conosco. Que comecemos a nos respeitar. Todos somos irmãos, não importa a religião, a raça, a nacionalidade, a cor.
Nota: se você deseja colaborar com mantimentos, dinheiro, roupa ou calçados pode fazê-lo comunicandose com elas nas redes sociais: @LasPatronas_dh e no Facebook: La Patrona.
Por e-mail, Norma Romero: lapatrona.laespezanza@gmail.com Também le invito a ver el documental "La Patrona”:
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Ilka Oliva Corado
Cronista, fotógrafa. Vive atualmente em Estados Unidos.
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