segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Terra reestrutura negócio com corte de 80% da redação e fechamento de sucursais


Vanessa Gonçalves, Jéssica Oliveira e Gabriela Ferigato 06/08/2015 13:15
Nesta quinta-feira (6/8), o portal Terra deu início a uma importante reestruturação de seu negócio. IMPRENSA apurou que isso resultou na demissão de aproximadamente 60 jornalistas, que representam 80% da equipe de jornalismo. Parte dessas mudanças começaram com a saída do diretor de conteúdo do site, Hélio Gomes, que deixou a empresa na última segunda (3/8).

Crédito:Divulgação
Portal adota novo modelo e reduz drasticamente a redação
Somente oito jornalistas devem permanecer no portal e eles terão função estratégica no novo perfil adotado pelo Terra. Esses profissionais terão um perfil multimídia, pois serão responsáveis por abastecer o site com notícias e conteúdos de parceiros. Além dos cortes, o portal anunciou o fechamento das sucursais das redações em Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF) e Porto Alegre (RS). Os escritórios comerciais nessas praças seguem funcionando. A equipe de jornalistas que permanecer na empresa ficará sediada em São Paulo (SP) e com uma relação maior com a redação do México, que produz conteúdo para toda América Latina.

À IMPRENSA, Paulo Castro, CEO do Terra, explicou as mudanças que, segundo ele, não têm relação com a atual crise econômica enfrentada pelo Brasil. “É uma reorganização dentro do Terra que responde a uma mudança do mercado. Não é uma coisa conjuntural de hoje, mas uma mudança de como o mercado contrata publicidade, de como o mercado remunera a atividade da mídia”.

Castro afirma que essa mudança iniciou-se anos atrás quando a empresa percebeu que o mercado respondia de outra forma. No entanto, o Terra ainda tentou insistir com essa oferta, investindo pesado na cobertura e transmissão dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, na compra de direitos esportivos como a Liga Europa exibida pelo portal e de entretenimento como o TV Terra, bem como na produção e apresentação de shows musicais. “Fizemos isso apostando que, ainda que o mercado estivesse indo para esse movimento de remunerar melhor as plataformas como ocorre com Google e Facebook, achamos que haveria espaço para sermos um ator nesse mercado desde que tivéssemos uma porta muito forte de controle de qualidade”.

No entanto, como não houve essa readequação da forma como o mercado remunera as plataformas digitais, o Terra resolveu revisar essa estratégia de negócios, reduzindo drasticamente o investimento na criação de conteúdo próprio. Em razão disso, optou pelo enxugamento da redação.

Novo modelo
Embora o Terra esteja apostando em outro modelo de negócio, o CEO garante que o portal não deixará de existir enquanto divulgador de notícias. “Vamos continuar tendo um portal e uma equipe de conteúdo, só que ela terá um papel muito mais de curadoria, de enriquecer a oferta de parceiros, de agências, correspondentes e terceiros e muito menos de ser um protagonista na criação de conteúdo autoral independente”.

Para Paulo Castro, essa ideia de trabalhar o editorial de outra forma é uma evolução do novo Terra, lançado em abril do ano passado. “A aposta desse projeto [responsivo] é quebrar com a ideia de que um conteúdo serve para todos e iniciar uma entrega de forma segmentada, entendendo melhor quem está do outro lado da tela, baseando-se no interesse de cada pessoa”.

O executivo garante que o Terra apenas reforça o modelo de trabalho com parceiros, adotado há muitos anos e tradicional no meio digital. Atualmente, o portal mantém parcerias com a revistaIstoÉ, o diário Lance! e agências de notícias — EFE e BBC.

Decisão difícil
Castro revela que, independentemente da atual crise econômica brasileira, as mudanças no Terra foram planejadas com anos de antecedência e não têm ligação direta com a conjuntura atual.  “A crise é algo que vivemos hoje e que em algum momento vai passar. O tema é muito mais estrutural, tem muito mais a ver com a mudança do negócio de mídia em si, passando pela forma como as empresas apostam no investimento publicitário”.

Em razão disso, o Terra teria apostado alto na forma como o mercado publicitário estava investindo nas plataformas digitais e buscou alternativas para, com isso, ter um maior aporte financeiro. “Isso não funcionou e a nossa decisão é reduzir esse investimento”. 

“É importante entender o Terra como um todo. É uma empresa com mais de 15 anos no mercado brasileiro e latino-americano e tem negócios de serviços, de conteúdos pagos e de publicidade. Hoje o negócio de publicidade representa menos de 20% no negócio todo e os outros representam mais de 80%. Se pegarmos uma curva histórica dos últimos 15 anos, a publicidade nunca representou mais que 30%. Essa decisão que tomamos agora tem muito mais a ver com esse negócio de publicidade do que com os outros”, garante.

A decisão de demitir os jornalistas foi tomada há meses e, de acordo com o CEO, “não foi fácil”. “As empresas não foram feitas para demitir, mas para empregar as pessoas”, disse.

“Nesse movimento a gente não pode colocar reparo à performance ou aquilo que cada um individualmente trouxe de bom. Não estamos dizendo: ‘tal pessoa não trabalhou bem’. Trata-se de um processo estrutural. Não estamos insensíveis a isso. Estamos cuidando ao máximo das pessoas, comunicando e falando sobre isso de forma transparente”, relata.

Paulo Castro fez questão de ressaltar que o Terra é uma empresa saudável financeiramente e que não fechará. “Continuamos com a porta um pouco diferente, deixando de lado o protagonismo na produção de conteúdo, mas continua muito forte em tudo o que está relacionado à oferta mobile e de serviços digitais, que sempre foi bastante importante para a empresa. A decisão tem a ver com os resultados financeiros desta área (portal), mas a empresa como um todo está bem financeiramente e enxerga oportunidades bastante interessantes daqui para frente”.

Para concluir, o CEO agradeceu os profissionais que deixam a empresa neste momento. “Quando tomamos uma decisão como esta, que é muito difícil, não é algo pessoal. Trata-se de uma decisão estrutural de uma empresa e que não tem nada a ver com a performance das pessoas”.

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