terça-feira, 14 de agosto de 2012

ALIMENTAÇÃO ESCOLAR - Bolos, pães e a construção de um sonho


Há seis meses as vizinhas Adriana Rech, Viviane Toder e Nelsane Barbosa modificaram totalmente sua rotina. Passaram de donas de casa a empresárias. A história delas mudou quando, por meio de um técnico do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), souberam que havia um déficit de fornecimento de produtos panificados para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) no Rio Grande do Sul e que poderiam ocupar essa lacuna.

Adriana já conhecia o funcionamento das vendas da agricultura para o Pnae por causa do marido, Marcos Rech, que fornece pêssegos e uvas para escolas locais pelo programa. Diante do mercado promissor e da disposição das amigas e vizinhas de entrarem no negócio com ela, Adriana foi em busca de recursos para transformar o sonho em realidade. O Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) foi a melhor opção, pela carência, juros baixos e possibilidade de pagar em até dez anos.
Com auxílio técnico da Delegacia Federal do Desenvolvimento Agrário (DFDA-RS) e da Emater do município Flores da Cunha (RS), elas elaboraram dois projetos técnicos para financiamento do projeto pelo Pronaf, um para edificação e outro para aquisição de máquinas. Aprovados pelo extensionista, os projetos foram encaminhados para o banco e aceitos pelo agente financeiro, que liberou o dinheiro. O recurso foi fundamental para a construção da fábrica nos fundos da propriedade do casal Rech, no distrito de São Gotardo, em Flores da Cunha (RS). “Se não fosse pelo Pronaf e o apoio do MDA nunca teríamos conseguido montar um negócio como esse”, afirma Adriana.
Atualmente, a Bolo&Cia entrega pães e bolos para 52 escolas públicas pelo Pnae, além de vender para festas e pequenos comércios locais. Em média, são produzidos 1,5 mil bolos e três mil pães por semana. Não raro, é preciso chamar outras pessoas da família ou vizinhas para ajudar devido a quantidade de trabalho. “Às vezes, temos tantas encomendas que chegamos a achar que não vamos conseguir, mas, no fim, sempre entregamos tudo. A sensação é indescritível”, conta Nelsane.
A mudança que a agroindústria trouxe foi maior do que elas esperavam. Além do aumento da renda familiar, o trabalho significou o fim da depressão para Adriana e Viviane. Ambas enfrentavam o problema há algum tempo e mal saíam de casa. Ter um objetivo, uma ocupação, foi a terapia que precisavam para combater a doença. “Agora nosso maior sonho é tornar o nosso produto conhecido”, confidencia Adriana. “O melhor de tudo é saber que eu tenho alguma coisa para fazer, me sinto útil”, avalia Viviane.
Programa Nacional de Alimentação Escolar
Desde junho de 2009, com a aprovação da Lei nº 11.947, a agricultura familiar passou a fornecer gêneros alimentícios a serem utilizados nas escolas da rede pública de ensino. A lei prevê que, do total dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) para a compra de alimentos, no mínimo 30% devem provir da agricultura familiar. O MDA participa do programa como articulador.
O destaque em vendas da agricultura familiar para o Pnae é a Região Sul – de seus 1.128 municípios, 874, o equivalente a 77%, compraram dos agricultores familiares locais, em 2010. “Estamos tentando mostrar aos agricultores que há um grande espaço de mercado que eles podem conquistar e para isso devem profissionalizar cada vez mais suas organizações”, explica o coordenador das políticas de comercialização de produtos da agricultura familiar do MDA, Pedro Bavaresco.
A iniciativa abriu para os agricultores familiares um vasto espaço de comercialização que não existia. No Brasil, o programa possibilita que seja gasto, no mínimo, R$ 1 bilhão por ano para a compra de produtos da agricultura familiar. Por favorecer o comércio regional, o Pnae também é uma importante ferramenta para o crescimento econômico local e o combate à pobreza. Para quem adquire os produtos, o resultado significa mais qualidade na alimentação.

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