terça-feira, 28 de agosto de 2012

China: o último motor da economia mundial declinará?



Primeiro-ministro tenta reanimar exportadores, mas números continuam sugerindo que país sofre efeitos da retração no Ocidente. Congresso do PC encontrará saídas?
Dois novos sinais acabam de indicar que a queda na atividade econômica na Europa e Estados Unidos está afetando a China; e que, a poucos meses de um novo congresso do Partido Comunista, o governo de Beijing está crescentemente preocupado com o fenômeno. O primeiro-ministro Wen Jiabao viajou no fim-de-semana para a província de Guangdong, o principal polo exportador do país, onde prometeu medidas pontuais para facilitar as vendas externas.  No entanto, estatísticas revelaram que o crescimento das exportações e do conjunto da economia está se aprofundando.
Para continuar gerando um grande número de empregos industriais, num país onde milhões de pessoas emigram para as cidades a cada ano, o governo esperava um aumento de 10% no comércio exterior. As dificuldades para cumprir a meta surgiram já no primeiro semestre, quando as compras e vendas externas subiram 9,2%. Mas os números de julho, que acabam de ser divulgados, soaram o alarme: o crescimento do comércio internacional caiu para 1%, reduzindo para 7,8% a evolução nos sete primeiros meses do ano e tornando quase impossível a meta estipulada para 2012. Em consequência, as previsões para o aumento do PIB no ano caíram para 8% — bem acima da média mundial, mas substancialmente abaixo dos 10%, em média, registrados nas últimas décadas.Durante este período, as exportações foram essenciais para que a China se transformasse na “fábrica do mundo”, e na segunda maior economia do planeta. A partir de 2008, a China respondeu à crise mundial com um vasto programa de incentivo ao consumo interno. Ele baseou-se num plano trilionário de investimento em obras públicas, mas também em atitudes pouco usuais, como discreto apoio estatal a greves de trabalhadores.
Embora efetivo, o esforço foi insuficiente. União Europeia e Estados Unidos, onde a economia está em recessão ou crescimento muito reduzido, têm cortado as compras de bens chineses. Segundo dados do banco britânico HSBC, a atividade industrial pode ter caído, em julho, para o patamar mais baixo em nove meses. Em alguns setores muito dependentes das compras externas, como a construção de navios, a atividade caiu 50%. Teme-se que milhões de empregos estarão ameaçados, caso a tendência persista. Uma redução importante da atividade econômica chinesa poderia, por sua vez, repercutir rapidamente em outros países periféricos. Entre eles, o Brasil, que vende parte importante de sua produção agrícola e mineral para a China — há anos, o principal parceiro comercial do país.
Em sua visita a Guangdong, o primeiro-ministro Wen Jiabao acenou, segundo a Agência Xinhua, com medidas capazes de baratear o preço das exportações chinesas — como impostos e taxas portuárias menores. Teme-se, porém, que sejam meros paliativos, pouco capazes de influir na capacidade de compra dos países ocidentais, caso estes permaneçam em dificuldades.
A liderança chinesa terá um plano mais ousado? Os sinais de desaceleração, no país que vem funcionando como o grande motor econômico do planeta, em tempos de crise, amplia o interesse pelo congresso do Partido Comunista. Marcado para o segundo semestre (embora ainda sem data precisa), ele deverá iniciar um amplo processo de transição de lideranças. Caberia a ele, também, encontrar saídas para as dificuldades crescentes da economia.

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