terça-feira, 28 de agosto de 2012

Europa: ataque a direitos continua a aprofundar crise



Grécia avisa que será incapaz de cumprir metas fixadas pela “troika”. Portugal pode ser forçado a pedir novo “resgate”. Hipótese de Noam Chomsky sobre sentido da recessão parece ter base real
Enquanto a China sonda caminhos para reduzir a exposição de sua economia aos países ocidentais em crise, na Europa voltam a surgir sinais de que as políticas de ataque aos direitos sociais e serviços públicos mergulharão o continente em novas dificuldades. As más notícias dos últimos dias vêm de Grécia e Portugal.
Em Atenas, o primeiro-ministro conservador, Antonis Samaras, encontrou-se quarta-feira passada com o presidente do “eurogrupo” Jean-Claude, Trichet, e alertou que não será possível alcançar, no prazo previsto, a redução do déficit esperada pelos credores de seu país. Embora comprometido com as exigências da Alemanha e da chamada troika (União Europeia, FMI e Banco Central Europeu), Samaras propôs que estes aceitem postergar por ao menos dois anos as metas que exigem da Grécia. Além disso, advertiu os demais governantes europeus para que deixem de fazer “declarações tóxicas” sobre Atenas — lembrando que elas tornam ainda mais difícil vender, para a opinião pública grega, novas propostas de privatização de redução de direitos sociais.O adiamento solicitado por Samaras será debatido num encontro de cúpula da União Europeia marcado para o início de outubro. Surpreendentemente, a chanceler alemã, Angela Merkel, pareceu adotar, no fim de semana, uma postura menos intransigente diante de Atenas. Ela pediu a membros dos partidos que a apoiam para que deixem de propor abertamente que a Grécia seja excluída da zona do euro. “Estamos numa fase muito decisiva da luta contra a crise da dívida europeia. Por isso, peço a todo mundo que meça muito bem suas palavras”, disse Merkel.
Já em Lisboa, um funcionário do ministério das Finanças ouvido pelo Financial Times antecipou que o país também não alcançará as metas fiscais que a troika fixou no ano passado, quando concedeu empréstimo ao país. É fácil compreender o porquê. Para reduzir despesas, o governo português promoveu um corte abrupto de investimentos públicos. Para tornar o país “mais competitivo”, segundo a lógica dos credores, adotou leis que rebaixaram os salários.
Mas ambas as medidas provocaram um contra-efeito: a atividade econômica declinou — o PIB deverá recuar 3%, este ano –, o que provocou queda na arrecadação ainda maior (3,5%) na arrecadação de impostos, comprometendo por completo a redução do déficit fiscal.
Em entrevista recente, o linguista Noam Chomsky considerou que a crise europeia é provocada, entre outros fatores, por ação consciente das classes mais ricas, interessadas em devastar o “welfare state” adotado na Europa a partir do pós-II Guerra. Os fatos recentes parecem dar-lhe razão.

Leia mais:
  1. Europa em crise (VI): gráficos de uma hipocrisia
  2. Europa em crise (V): à espera de quem manda
  3. Europa em crise (IV): os Bancos Centrais e a oligarquia financeira
  4. Europa em crise (III): entre o péssimo e o pior
  5. A Europa à beira da grande crise

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