No ano de 2005 fui fazer uma matéria para o
Jornal do Campo, TV Gazeta, em Guarapari, sobre a produção de mudas de
seringueira de uma cooperativa de produtores. No final o técnico que nos
acompanhava informou que a propriedade era de Márcio Aboudib Camargo e logo em
seguida me passou o seu telefone.
Pensei baixinho, mais uma pista para a minha
pesquisa sobre Pedro José Aboudib, o libanês que em 1889, aos 16 anos deixou a
sua aldeia no Norte do Líbano, Zgharta, para vir tentar a vida no Brasil, no
Espírito Santo. Quando cheguei em casa liguei e me apresentei. Disse que
possuía um depoimento que Pedro José Aboudib havia feito em 1945, para Indá
Soares Casanva e publicado na revista do Instituto Histórico e Geográfico do
Espírito Santo em 1997.
O depoimento é maravilhoso e cativante, foi
fácil passar para Márcio a minha emoção. O depoimento começa no Líbano, um
convite a imaginar a vida do imigrante. Viajei até as montanhas de Zgharta e
imaginei meu avô, que também veio de Zgharta.
Márcio ficou interessado e solicitou uma cópia.
Fiz uma dedicatória falando do orgulho que ele deveria ter tio avô, que era da
mesma cidade do meu avô, Francisco Marolino Mansur, que chegou aqui em 1883.
Dois dias depois Márcio retorna a ligação dizendo que daria o depoimento para sua
mãe, que estava completando 90 anos.
Os anos passaram e esporadicamente
conversávamos ao telefone. Em maio Marcio solicita uma segunda cópia. Eu e meu
filho Augusto fomos a sua casa e conversamos sobre histórias familiares e o
orgulho do sangue libanês. Num momento inesquecível, Marcio disse: “estamos nos
vendo pela primeira vez, mas parece que nos conhecemos há anos”. Verdade. Uma
parte de nós veio de Zgharta, de lá vieram nossos avós. Fui com uma camisa com
a frase: LÍBANO, MINHA ALMA VEIO DE LÁ. Está camisa me foi dada
pela brima publicitária Monica Debbane, entrei com a frase e ela
com a arte e a camisa.
Assim que cheguei em casa, no celular, uma
mensagem:
Meu prezado amigo. A sua presença, acompanhada
do seu filho na minha casa encheu-me de alegria e reforçou a convicção que
sempre tive: que privilégio temos em comum, ao constatar que nossas almas
nasceram no Líbano. Obrigado por tudo, abraços. Márcio.
Eu carrego cópias do depoimento de Pedro José
Aboudib, sou seu mascate. Marcio,
LÍBANO. MINHA ALMA VEIO DE LÁ. Aliás, as nossas. Assim vamos
construindo nossa identidade fenícia no Brasil.
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