terça-feira, 5 de janeiro de 2016

2015 – Mais um ano de naturalização da violência policial


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Agressão a professores em Curitiba (Foto: José Gabriel Tramontin / Lente Quente)
Tortura, chacinas, grupos de extermínio, execução de crianças, repressão a protestos; show de horrores da PM ganha noticiário, mas de forma dispersa, sem coesão
Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
As chacinas ainda ganham algum destaque na imprensa – em ciclos. Em 2015, a matança em Osasco em Barueri foi uma das principais notícias de segurança publica, ao lado da tradicional truculência em manifestações de estudantes, professores e movimentos sociais. Esta, disfarçada em “confronto”. De um modo geral, porém, a sociedade brasileira segue assimilando a violência policial. Sem que ela apareça – apesar da ampla escala – nas retrospectivas televisivas ou impressas de fim de ano.
Esta sequência diz muito sobre o que aconteceu em Osasco:
Detalhe: as balas de Osasco eram públicas: Balas da chacina foram compradas pela PM, PF e Exército.
Nem todas as chacinas pelo Brasil tiveram a mesma repercussão:
Este é o país dos grupos de extermínio. Distribuídos em todas as Unidades da Federação, são formados por policiais e configuram uma peça-chave para se entender as chacinas. Em Salvador, promotores e parentes dos mortos na chacina do Cabula estavam ameaçados, como mostra esta notícia: Memorial instalado no Cabula lembra os 12 mortos em ação da PM na Bahia.
Como desbaratar esses grupos e enfrentar esse massacre? A imprensa pouco se pergunta. O canadense Graham Willis esclarece: Policial que denuncia colega matador arrisca o pescoço, diz pesquisador. E Osasco confirma sua tese: Apuração de chacina em SP expõe testemunhas que delataram PMs.
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Homenagem aos mortos na chacina de Osasco e Barueri (SP)
PELO PAÍS, EXECUÇÕES
As execuções de poucas pessoas por vez não motivam, de um modo geral, notícias em sequência no noticiário. É feito o registro (mesmo que o motivo seja fútil, que o crime policial seja bárbaro) e não se fala mais nisso. Vejamos alguns casos:
Observem as próximas vítimas. Um esquizofrênico, um morador de rua, um frentista (e não um empresário, um fazendeiro, uma socialite):
O corpo do frentista ainda não foi encontrado. É um caso similar ao do pedreiro Amarildo, que entrou em uma viatura no Rio, em 2013, e não foi mais visto. Mas não teve a mesma repercussão na imprensa – nem a grande nem a alternativa.  #OndeEstáJoãoPaulo?
No Amazonas, um comandante não se constrange em admitir uma orientação inconstitucional, como se o país tivesse aprovado a pena de morte, e sem julgamento: (As mortes por policiais são de direita?)
Em agosto teve morte de sem-teto no Maranhão, administrado pelo PCdoB: (Mas não se trata de um governo de esquerda?)
PROFESSORES? ‘BALA DE BORRACHA’
O vídeo do Porta dos Fundos em que o comediante Fábio Porchat encarna um policial com uma solução pronta para manifestações – “bala de borracha” – apenas imita a realidade. O caso mais emblemático do ano foi a repressão aos professores no Paraná.
Mas já no dia 10 de janeiro a escritora Eliane Brum retratava a ação da polícia paulista:Meu ‘confronto’ com a polícia de Alckmin. O mesmo fez Vanessa Barbara, no mesmo dia:Colunista do Estadão relata repressão policial durante protesto contra aumento da tarifa do transporte público em SP.
Era a senha para um ano violento contra estudantes e professores em São Paulo:
Mas também contra moradores de rua, sem-teto e até foliões:
As balas de borracha fizeram mais um cego em São Paulo, em outubro. Um adolescente de 15 anos. Durante os protestos de 2013, o fotógrafo Sérgio Andrade Silva foi atingido por uma bala de borracha e também ficou cego.
IMPRENSA E LINGUAGEM
A violência contra professores em Curitiba, em abril, ganhou diferentes abordagens da imprensa. O espanhol El País foi direto ao ponto:
E não é que um coronel tinha alertado sobre os abusos no Paraná, um dia antes? Foi demitido: Coronel alertou sobre ‘abuso’ antes de ação policial no Paraná.
Em novembro foi a vez dos professores de Brasília. A notícia do G1 também fala em “confronto” com os policiais, estes movidos a bala de borracha e golpe de mata-leão. Um dos policiais falou: “Alguém mais aí vai chamar a polícia de bandido?”
“MÃOS NA CABEÇA”
A polícia da capital federal ainda encontrou um tempinho para revistar estudantes em uma escola. Pública, claro. Durante a revista, estudantes com as mãos na cabeça (foto abaixo):
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As mulheres não foram poupadas, em manifestações diversas:
Movimentos sociais, tampouco:
Afinal, a polícia não poupa nem quem tenha furtado repelente:
E O FUTURO…
É essa polícia em pleno estado de guerra que muita gente quer ver comandando escolas. A retrospectiva de 2015, portanto, é também um aceno para tempos complicados em outros domínios. Parte do país opta pelo retrocesso puro e simples:

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