segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Brasileira busca recursos para ajudar refugiados



A jornalista Talita Ribeiro visitou campos de refugiados na Jordânia, no Iraque e na Turquia e recorre ao financiamento coletivo para publicar um livro e arrecadar dinheiro para grupos que ajudam as vítimas do conflito.



São Paulo - A realidade das mulheres, suas lutas e desafios sempre atraíram a jornalista brasileira Talita Ribeiro, de 28 anos. Mas foi em novembro deste ano que a causa delas a levou para o meio do conflito no Oriente Médio e da realidade dos países que sofrem com a guerra. Agora, após visitar refugiados na Jordânia, no Iraque e na Turquia (país que não é árabe), Talita prepara o livro "Turismo de empatia: refugiados no Oriente Médio" sobre o que viu e até com dicas de passeios e da gastronomia local. Para publicar o livro e arrecadar fundos para projetos que apoiam refugiados, ela busca apoio por meio do crowdfunding, ou financiamento coletivo na internet.

A jornalista visitou Israel e a Palestina em 2014. Em 2015 conheceu de perto a realidade das mulheres curdas, uma etnia que vive em territórios do Iraque, Turquia e Síria e é uma das mais atingidas pelo conflito entre o Estado Islâmico e as potências globais e regionais. A maior parte dos curdos vive no Curdistão, região autônoma do Iraque próxima à fronteira com a Turquia.
“Decidi ir quando vi a foto de uma mulher tirando o niqab (vestimenta preta que cobre o corpo e o rosto das muçulmanas) e que usava um vestido colorido lindo. Fiquei encantada porque ela estava fugindo do Estado Islâmico da Síria e buscando abrigo no Curdistão. Fui pesquisar e vi que as mulheres curdas, ao contrário do que poderíamos pensar, participam do exército e do PKK (partido político). Geralmente temos uma ideia de uma mulher passiva e oprimida no Oriente Médio”, conta Talita.

Ao conhecer de longe essa realidade, Talita quis entender de perto como essas mulheres enfrentavam guerra e opressão. Foi primeiro para Amã, na Jordânia. Lá, passou 15 dias e conviveu com refugiados que viviam em pequenas casas ao redor da capital Amã. Também conheceu cidades históricas, como Petra. Depois, embarcou para o Iraque. A realidade com que a jornalista se deparou era mais dura e não atingia apenas as mulheres.

“Quando acordava de madrugada, eu escrevia o que tinha vivido e isso me ajudava. A forma como os refugiados que estão na Jordânia vivem é precária, mas quando cheguei ao Iraque, vi que é ainda mais difícil. Eles vivem em barracas em campos de refugiados. Faz muito frio. Neva nesta época do ano. E eles estão em barracas”, diz.

“Outro caso que conheci foi o de uma menina de 12 anos, que foi comprada junto com a mãe das mãos do Estado Islâmico. O pai e o irmão dela sumiram. Quando foram compradas, a mãe foi devolvida à família e ela ficou mais quatro dias em poder do estado islâmico. Aos 12 anos”, recorda.
Cristãos são perseguidos por integrantes do Estado Islâmico. “As casas dos cristãos são marcadas com um “N” (em referência à palavra nazareno, que remete a Jesus Cristo). Os cristãos têm algumas opções: uma delas é se converter ao Islã. Outra opção é fugir ou morrer. Depende do momento”, recorda a jornalista, que é católica. Outro grupo perseguido é aquele formado pela minoria étnico-religiosa yazidi, um dos visitados por Talita.

Ao preparar a viagem, Talita queria ter uma experiência pessoal e conhecer a realidade, sobretudo, das mulheres que viviam naquela região conflituosa. Mas no Iraque, mudou de ideia. “Pensei em escrever o livro e com ele arrecadar dinheiro para, então, mandar para algumas das iniciativas de apoio aos refugiados”, afirma. Quando ela já estava no Iraque, seu marido, o fotógrafo Marco Gomes se juntou a ela na viagem. 
O projeto de crowdfunding prevê arrecadar R$ 30 mil até 06 de fevereiro. O dinheiro deverá ser utilizado para ajudar dois projetos: um se chama Família Aziz, formada por brasileiros e que ajuda refugiados com distribuição de alimentos, atendimento médico e ensino profissionalizante para as mulheres. O outro é o Top Brazilian Sport Academy, que fica no Iraque. Esta iniciativa oferece aulas de futebol a crianças e jovens refugiados.

Talita pretende utilizar o dinheiro para ajudar as iniciativas e publicar o livro “Turismo de empatia: refugiados no Oriente Médio”. As doações partem de R$ 10. Quem colaborar com este valor irá receber o livro em formato digital. Quem doar quantias maiores poderá receber o livro em formato físico, assim como camisetas, canecas e fotos.

Além das histórias que a jornalista viveu, a publicação irá mostrar um pouco da beleza e das opções de lazer dos locais que ela visitou. Erbil, a capital do Curdistão, “é uma cidade moderna que poderia estar em qualquer lugar do mundo”, diz Talita. A mesma cidade tem seu bairro antigo, que guarda marcas da história e da guerra.

Talita acredita que, quando este conflito terminar, assim como quando a Síria começar a ser reconstruída, uma nova realidade irá surgir, principalmente para as mulheres. “Os homens estão morrendo na guerra. Acho que haverá uma virada de comportamento na questão das mulheres. Elas terão que ir para o mercado de trabalho, vão ter que assumir um papel de liderança”, diz.

Serviço
Informações sobre o projeto no site https://www.catarse.me/turismodeempatia

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