quinta-feira, 19 de abril de 2012

ARTIGO - Modelo difusionista no agronegócio introduz ineficiências e desigualdades entre produtores - 18/4/2012


 

Não custa nada relembrar o passado, para evitar erros no presente com graves reflexos para o futuro. No agronegócio, em âmbito nacional, mas com particularidades regionais, o modelo difusionista das décadas de 60 e 70 trouxe consigo efeitos perversos relativos ao meio ambiente, ao desperdício de insumos, e à concentração de renda, para ficar apenas nesses impactos que consideramos mais danosos.
Embora o tema seja amplo, a forma mais simples de tratá-lo se relaciona às indicações de evidências histórias registradas ou identificadas na transformação do processo produtivo agropecuário.
Não há como negar, por exemplo, que o modelo difusionista levou à expansão da fronteira agrícola dos cerrados, com evidente crescimento da área explorada e da produção, naquele bioma, antes considerado inviável para a exploração agropecuária; mas também se registra o desmatamento descontrolado e a erosão intensa dos solos daquela região, afetando mananciais e cursos d’água, chegando atualmente a influenciar os movimentos das cheias e vazantes no bioma pantanal.
Outro registro marcante está relacionado ao desperdício de insumos químicos, cujas condicionantes de financiamento e os pesados subsídios da década de 70 forçavam a aquisição de quantidades excessivas desses insumos, proporcionalmente às necessidades dos cultivos e criações. Em várias regiões do País constatou-se que a quantidade de insumos utilizada foi mais de duas vezes superior ao recomendado nas indicações de pesquisas. Pior, as pesquisas, não raro, descobrem o problema depois do fato ocorrido, o que, quando muito, evitam problemas futuros e propõem soluções de elevado custo para recuperar danos passados.
Mas, no meu ponto de vista, o problema mais grave reside nas desigualdades de renda que o modelo difusionista, levado às últimas consequências, provoca. Neste particular, são notórios os estudos sobre a pobreza rural, ou sobre a agricultura de baixa renda, mais evidentes a partir da década de 70. A constatação central era de que os desequilíbrios de renda entre diferentes categorias de produtores, com consequências funestas para os pequenos, decorriam da desproporção dos fatores de produção - mais mão de obra do que terra e capital -  e de tecnologias não apropriadas - capital intensiva - à realidade desses produtores.
Nas últimas décadas, por conta dos diagnósticos passados e de uma maior sensibilidade às questões distributivas, avançou-se significativamente na geração de tecnologias mais consentâneas com a realidade dos agricultores familiares.
Mas, infelizmente, tem se constatado nos últimos anos uma retomada do difusionismo histórico, renunciando-se às pesquisas tecnológicas e socioeconômicas, e à assistência técnica e extensão rural, como meio de promoção dos pequenos produtores. Volta-se aos ganhos de escala, muito mais do que à sustentabilidade de longo prazo do negócio, como mecanismo de competição e eficiência de mercado.
O problema não é tanto de contratações e realização de gastos públicos, mas de metodologia e gestão, na atenção aos pequenos produtores. Estamos perdendo o foco dos processos tecnológicos e de extensão rural, e insistindo em que a solução estará nos meios. Veículos, máquinas e equipamentos, distribuídos para as associações dos pequenos produtores e patrol e retroescavadeiras para as prefeituras podem até ser necessários, mas não equaciona o problema de acumulação de conhecimentos, processos de produção e de renda desses produtores.  
No avanço deste modelo, não há como os pequenos competirem em escala. Somente sobreviverão aplicando tecnologias apropriadas, de baixo custo, e que estejam associadas a atividades do agronegócio que requeiram processos típicos da produção e agroindustrialização familiar associativa. Aí, sim, máquinas e equipamentos e veículos podem mesmo ajudar, mas é essencial que estejam qualificados para produzir, industrializar e vender seus produtos.

Wolmar Roque Loss
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Administração Rural




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