segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Começa agora, acaba em 2014


Relação entre PT e PSB se estremece, mas projetos políticos podem ficar mais claros
14/08/2012
Joana Tavares
de Belo Horizonte (MG)
   
   
Dilma e Marcio Lacerda durante campanha em 2010
Foto: Adriano Vizioni/Folhapress
As eleições municipais deste ano estão marcadas por alianças e rompimentos que parecem dizer mais sobre a sucessão presidencial de 2014 do que sobre disputas locais. Um caso emblemático foi a relação entre o Partidos dos Trabalhadores (PT) e o Partido Socialista Brasileiro (PSB). A aliança entre os dois partidos foi rompida em diversas cidades, e em três capitais, Recife, Belo Horizonte e Fortaleza, acendendo o debate sobre uma possível candidatura à presidência pelo PSB, alimentando o debate sobre a aliança nacional e o papel das disputas locais num quadro maior.
Muito se especula sobre uma suposta tentativa do PSB em se desvencilhar do PT para criar força para se lançar com candidato próprio na próxima eleição nacional. O presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a presidenta Dilma Rousseff e o presidente do PT, Rui Falcão, deixaram claro que a aliança nacional entre os dois partidos segue firme e forte, apesar de divergências regionais.
“No quadro de hoje, o partido apoiará a merecida reeleição de Dilma ou uma eventual candidatura Lula. Em face de qualquer outro nome a discussão fica em aberto. Mas não é bom para o país, não é bom para o governo e é desrespeitoso para a presidenta Dilma ficarmos, a dois anos das eleições, discutindo sua sucessão. O dever dos partidos de esquerda é estar juntos com a presidenta, ajudando-a a enfrentar a grave crise que nos envolve a todos. Se fracassarmos, ganhará a direita e as vítimas se contarão entre os pobres”, afirma Roberto Amaral, vice-presidente do PSB.
Amaral coloca que o projeto do PSB nessas eleições é “conquistar o maior número possível de prefeituras, conquistar o maior número possível de governos estaduais em 2014 e preparar-se para disputar a Presidência da República. Quando? As condições objetivas ditarão a oportunidade”.
Para avançar nesse projeto, o partido busca se fortalecer em cidades-chave, distanciando-se do PT para avançar sua visibilidade própria.

De Recife para o Brasil
O caso de Pernambuco, onde Eduardo Campos, o nome forte do PSB, tem um governo bem avaliado, revela as contradições da aliança PT-PSB. “O PSB aproveita as eleições para marcar uma postura em relação à política nacional. Eduardo Campos é um político de visibilidade e possibilidade de ascender nacionalmente. Jovem, pode chegar à presidência. O grande problema é ser contemporâneo de Lula e Dilma. O PT tem hegemonia no processo das eleições”, avalia Jaime Amorim, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de Pernambuco.
Jaime aponta que Eduardo Campos é herdeiro político de seu avô, Miguel Arraes, três vezes governador de Pernambuco. Conhecido por sua atuação populista junto aos pobres – especialmente do campo –, Arraes alimentou o sonho de ser presidente, mas não conseguiu se projetar na política nacional depois do golpe de 1964, apesar de seu prestígio no estado. Segundo Jaime Amorim, Campos é signatário desse processo de política de alianças iniciado por seu avô, da capacidade de forjar um consenso entre a direita e a esquerda, promovendo alianças com usineiros e com os camponeses.
Campos fez uma aposta ao se candidatar a governador no estado em 2006, concorrendo contra um candidato petista – Humberto Costa, atual candidato a prefeito na capital – e vencendo com o apoio do PT no segundo turno. Sua reeleição se decidiu ainda no primeiro turno, com 73% dos votos. Desde então, criou-se um impasse no estado: como quem leva a prefeitura tem grandes chances de cacifar para o governo, PT e PSB precisariam romper para ter força própria no estado.
Após confusões internas do PT – em que o atual prefeito, João da Costa, foi preterido da corrida à prefeitura – consolidou- se o racha. De um lado, Geraldo Julio entra na disputa pelo PSB, e do outro, Humberto Costa, com o ex-prefeito João Paulo como vice, com o apoio do PT nacional, lidera as pesquisas de intenção de voto.
O partido que vencer a disputa em Recife tem maior potencial para se candidatar ao governo do estado, e caso o PSB perca na capital e em Petrolina – onde há também disputa entre PT e PSB – perde força na disputa nacional.
Jaime Amorim avalia que o cenário do estado – e do Nordeste como um todo – melhorou para as forças progressistas. “Pela primeira vez, os trabalhadores vão poder escolher entre partidos de esquerda ou de centro-esquerda, contra as oligarquias históricas”, avalia. Ele aponta que está forte no Nordeste o modelo neodesenvolvimentista, apoiado em obras, construção de portos, duplicação d e estradas,apesar da contradição de que esse modelo gera empregos temporários, não está apoiado em um processo de desenvolvimento de longo prazo. Para ele, há um avanço porque são governos menos parasitais, mas as oligarquias atrasadas ainda encontram seu espaço na institucionalidade.
Ele afirma que a questão eleitoral não é prioridade para o MST, mas defende que o movimento deve se mobilizar para ocupar espaços de poder locais, em defesa da reforma agrária. “As forças estão se reposicionando, e isso é importante. Essa movimentação pode fortalecer os trabalhadores, na medida em que questiona a simples ocupação do Estado burguês e pode colocar em pauta o projeto político mais amplo, a defesa dos interesses populares, fortalecer e empoderar a luta dos trabalhadores”, acredita. Ele aponta que há bons quadros dentro do PT e do PSB e colocar a disputa em torno de projetos pode fortalecer a luta política.

De novo, PT x PSDB

   
   
Governador Eduardo Campos (PE) é cumprimentado por Roberto
Amaral - Foto: Marcello Casal
Duas cidades parecem simbolizar a polarização de projetos do PT e do PSDB. São Paulo, que costuma ser o balão de ensaio de disputas nacionais desde outras eleições, assiste à disputa entre José Serra, eterno presidenciável do PSDB, contra Fernando Haddad, ex-ministro da Educação do governo Lula e Dilma. Lula entra em cena a favor de seu candidato, e costura apoios controversos, como o de Paulo Maluf, do partido da base aliada, PP. Causou muita repercussão a saída da deputada federal do PSB Luiza Erundina como vice na chapa do petista, mas o partido mantém seu apoio ao PT na capital paulista.
O vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, afirma que a eleição da cidade de São Paulo é a única de significado realmente nacional. “Ali se trava a luta contra o castelo forte da resistência reacionária do neoliberalismo representada pela candidatura Serra. Derrotá-lo é uma exigência estratégica. E lá estamos juntos PT, PSB e PCdoB. Infelizmente, o PDT não compreendeu e corre em raia própria. Mas estará conosco, não duvido, no segundo turno”, pontua.
Ele coloca que as outras eleições são movidas por “futricas da pequena política”, e são feitas distorções em alianças. “É assim em São Luís, onde o PT é aliado da família Sarney, contra os partidos de esquerda; é assim em Manaus, onde todos os nossos partidos estão disputando isoladamente. É assim em Curitiba, onde o PT apoia a direita (representada pela candidatura Fruet) e o PCdoB apoia um candidato conhecido apenas como ‘o fi lho do Ratinho’. É assim em Porto Alegre. Apesar de integrarmos a base de governo do Tasso Genro, PSB-PCdoB têm uma candidatura, o PT outra e o PDT outra”, coloca. “Dei apenas uns poucos exemplos, mas essa é a característica do quadro nacional das disputas municipais, marcadas pelo interesse local, quase sempre pequeno”, avalia.
No entanto, há leituras de que outra disputa municipal ganha neste ano dimensões nacionais. Em Belo Horizonte, o atual prefeito, Márcio Lacerda, do PSB, ganhou um adversário de peso, Patrus Ananias, que esteve à frente do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome no governo Lula, responsável por políticas sociais bem sucedidas, como o Bolsa Família. Prefeito da capital de Minas Gerais de 1993 a 1996, deixou a prefeitura com aprovação de mais de 80% e elegeu seu vice, Célio de Castro. O PT esteve à frente da prefeitura da cidade até 2008, quando apoiou a eleição de Márcio Lacerda, ocupando o cargo de vice.
A aliança com o PSB foi rompida na capital mineira após o partido se recusar a formar com o PT uma coligação proporcional para eleição de vereadores. Após o racha, o PSB passou a ser aliado formal do PSDB no estado, que conta com o senador Aécio Neves como cabo eleitoral, e possível candidato a presidente em 2014.
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