terça-feira, 30 de julho de 2013

Escalada do racismo preocupa comunidade coreana no Japão

Shin-Okubo deveria ser um lugar de harmonia, mas virou território de confrontos. Alvo preferido de uma forma nova e agressiva do nacionalismo no Japão, o maior bairro coreano de Tóquio hoje está apavorado. "Estou com um pouco de medo", admite uma estudante que estava em uma apresentação de especialidades culinárias de seu país.

Philippe Mesmer
Pedestres em Tóquio
Com suas lojinhas de placas coloridas redigidas em hangul, o alfabeto coreano, Shin-Okubo é um mini-Gangnam, o famoso bairro descolado de Seul. Muitos jovens japoneses adoram passear por ali, para comer um bibimbap (tradicional prato coreano) ou para aprender a dançar K-pop.
No dia 7 de julho, a Zaitokukai --literalmente "associação de cidadãos contra os privilégios especiais dos coreanos no Japão"-- se reuniria ali. Ela desistiu em razão da campanha para as eleições senatoriais do dia 21 de julho, e foi por isso que o bairro escapou de seus discursos de ódio, do tipo "Matem os coreanos" ou "Coreanos, vão se enforcar. Tomem veneno. Morram".
Benefícios sociais
Segundo seu fundador Makoto Sakurai --um pseudônimo--, o grupo, que surgiu em 2006, teria exatamente 13.543 membros. O ex-funcionário do fisco, na faixa dos 40 anos, segundo rumores, nega o caráter racista do movimento que reúne cidadãos comuns, assalariados e mães de família, cujo modelo reivindicado seria o Tea Party americano.
Inicialmente ativa na internet, a organização vem desencadeando desde 2009 ações em todos os lugares onde residem os 600 mil coreanos do Japão, muitos deles há várias gerações.
A Zaitokukai os acusa de terem um acesso privilegiado a benefícios sociais e vantagens fiscais, pontos contestados por Yoshifu Arita, senador do Partido Democrata do Japão (PDJ, centro-esquerda), preocupado com o desenrolar desses discursos de ódio.
Até então limitados a publicações, esses discursos aos poucos vêm ganhando a esfera pública onde estão suscitando tensão. No dia 16 de junho, houve confrontos com militantes antirracistas em Shin-Okubo, seguidos de detenções. Até a extrema-direita tradicional está preocupada. "A bandeira japonesa se entristece em ser usada dessa forma", lamenta Kunio Suzuki, da organização nacionalista Issuikai.
"Frustrações"
A tendência, ainda que minoritária em um Japão ainda apegado ao pacifismo, tem ganhado a esfera política, mesmo que o ultranacionalista Nobuyuki Suzuki, hostil aos coreanos e aos chineses, só tenha obtido 1,4% dos votos nas eleições para senador.
Esses posicionamentos se alimentariam dos temores de um país que vem enfrentando dificuldades econômicas e políticas persistentes. "Há muita frustração, precariedade", analisa Arita. "Nesses movimentos", diz Suzuki, "as pessoas podem falar o que pensam, algo que não podem fazer na empresa". "Os insultos revelam a angústia daqueles que acham que não serão ouvidos caso se expressem com moderação", observa a jornalista Minori Kitahara, autora de um livro sobre a onda coreana cujo sucesso nos anos 2000 está relacionado com as manifestações observadas hoje.
As tensões diplomáticas com a Coreia do Sul e com a China alimentam essas frustrações, assim como a militância da extrema-direita na internet. A isso se soma uma ausência de reação política forte. Yoshifu Arita interpelou em maio o primeiro-ministro Shinzo Abe sobre os "discursos de ódio" que ele considerou "lamentáveis". Mas, quando a revista "Bungei Shunju" lhe perguntou em julho sobre o mesmo assunto, Abe foi evasivo: "Deixo a resposta para a consciência dos japoneses."
Nesse contexto, Yoshifu Arita começou a pleitear por uma legislação que condene as declarações mais violentas. Seus opositores retrucam que um texto como esse ameaçaria a liberdade de expressão, sem resolver o problema.
Tradutor: UOL

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