sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Parto normal fortalece a saúde do bebê

Posted: 29 Jan 2015 06:31 AM PST
O nascimento de um filho é certamente uma das etapas mais especiais da vida de uma mulher.
É o momento em que ela e a família direcionam todos os seus esforços para que tudo corra bem
com a mãe e com o bebê. Logo, o parto é um momento decisivo para a construção de um vínculo duradouro.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), dar à luz a um bebê é um ato natural. De acordo
     com a organização, se tudo estiver bem com mãe e com a criança, o parto é um processo fisiológico
que requer pouca intervenção médica. A cesárea – cirurgia de média porte – é recomendada em casos
de complicações reais para a mulher e para o bebê e necessita, portanto, de indicação médica. Conforme
a OMS, o índice aceitável de cesarianas fica em torno de 15%.
No entanto, atualmente, 55% dos partos realizados no Brasil são cesarianas. O índice – que é de 40% no
SUS – chega a 84% na rede privada. Para reduzir esses números, o Ministério da Saúde e a ANS
 anunciaram, em janeiro, uma série de medidas para estimular a realização de partos normais e
 o alto índice de cesáreas desnecessárias no País.
Para a dentista Andreia Barroca (33), que passou pelos dois tipos de parto – cesariana na primeira
gravidez e parto normal na segunda gestação – não existe comparação entre os dois procedimentos.
 Segundo ela, são inúmeras as vantagens do parto normal para a mãe e para o bebê, tanto física quanto
 emocionalmente. Andreia é mãe de Lucca (5) e de Cauã, de um mês.
A dentista Andreia Barroca ao lado do marido Plauto Martins, no nascimento do segundo filho do casal, Cauã. O sucesso da experiência de Andreia convenceu o próprio marido sobre as vantagens do parto normal. Foto: Arquivo pessoal.
A dentista Andreia Barroca ao lado do marido Plauto Martins, no nascimento do segundo filho do casal, Cauã. O sucesso da experiência de Andreia convenceu o próprio marido sobre as vantagens do parto normal. Foto: Arquivo pessoal.
“A recuperação do parto normal é muito melhor. É maravilhoso você estar bem e não ter a dor 
depois do parto, não ter aquela restrição de movimentos que a cesárea ocasiona. Você poder estar
 ali inteira para cuidar do bebê, para atender as necessidades do seu filho, sem as restrições que 
uma cirurgia gera. Na cesárea não, você quer fazer tudo aquilo que o bebê demanda, mas você 
tem dores, tem limitação de movimentos. No parto normal você está inteira para cuidar do seu 
filho e dar a atenção que ele precisa”, revela.
Além disso, Andreia, que em sua segunda gravidez fez um parto humanizado, destaca que o parto
natural estimula fortemente o vínculo entre mãe e bebê.
“A experiência que a gente teve com o parto normal e humanizado foi maravilhosa. O meu filho 
nasceu e veio direto para o meu colo. Ele ficou em contato, pele a pele comigo de uns 30 a 40 
minutos. Só então ele foi levado para fazer os exames. Ele nasceu bem, porque ele nasceu na 
hora dele. O próprio semblante de bebê que nasce de parto humanizado é diferente, porque ele 
é respeitado”, afirmou.
Segundo a obstetra Renata Reis, a cesariana é uma cirurgia extraordinária que sempre salvou
muitas vidas. Entretanto, a profissional alerta que é fundamental o procedimento ser realizado
de maneira necessária. De acordo com a médica, uma cesariana marcada representa uma chance
 três vezes maior de morte tanto para a mãe quando para o bebê. Além disso, há maiores chances
de hemorragia, infecção, trombose, além dos riscos relacionados à anestesia.
Para a criança, a principal consequência é a prematuridade e a imaturidade pulmonar. De acordo
 dados do Ministério da Saúde, as cesáreas agendadas também aumentam em 120 vezes a
 probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e se trata da principal causa
 do encaminhamento de bebês para UTIs neo-natais.
Renata também enfatiza que a única prova existente que um bebê está pronto para o nascimento
é o trabalho de parto. “Realizar uma cesariana marcada, ainda que seja em uma idade gestacional
 mais avançada, com 39 ou 40 semanas, não significa que o bebê está pronto para nascer. Talvez 
aquele bebê precisasse de mais tempo para estar completamente maduro. Quando não ocorre o 
trabalho de parto, o bebê não tem o seu tempo respeitado”, alerta.
A dentista Andreia Barroca grávida do segundo filho, Cauã, que nasceu em um parto normal humanizado. Foto: Arquivo pessoal.
A dentista Andreia Barroca grávida do segundo filho, Cauã, que nasceu em um parto normal humanizado. Foto: Arquivo pessoal.
A médica ainda destaca que o contato do bebê com as bactérias e os micro-organismos existentes
no canal vaginal estimula o sistema imunológico do recém-nascido, fazendo com que o parto normal
seja responsável por evitar doenças futuras como asma, obesidade e doenças autoimunes. Segundo
Renata, o trabalho de parto é uma experiência fortalecedora da saúde da criança.
É o que também argumenta a mãe de Lucca e Cauã. Para Andreia, depois que a mulher tem acesso real
à informação é muito difícil que ela escolha uma cesárea agendada. “No meu segundo parto, eu fui atrás 
do empoderamento, da informação, para que bem informada eu pudesse fazer a melhor escolha. 
Eu acho que uma mulher que tem acesso de fato à informação vai querer, pelo menos, entrar em 
trabalho de parto”, afirma.
Ela fala do medo que muitas mulheres alimentam em relação ao parto normal: “O parto natural é 
trabalhoso, é cansativo, mas a recuperação é maravilhosa. É evidente que o parto normal dói, 
mas não é uma dor de sofrimento, é uma dor que tem como objetivo trazer o seu filho bem ao mundo. 
A gente tem que estar preparada. O melhor remédio para a ansiedade é a informação”, defende.
Cultura 
Para a coordenadora da Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, Esther Vilela, a reversão do número
de cesáreas agendadas no Brasil passa por uma mudança cultural e comportamental no processo de
 atenção ao parto.
Segundo ela, os altos índices de cesáreas agendadas no País são resultado de fatores como a comodidade,
em virtude da compatibilização de agendas entre mães e médicos, a relativa praticidade do procedimento
 cirúrgico – que não dura mais de duas horas – além do receio que muitas mulheres cultivam em relação
 parto normal.
É por isso que, de acordo com a coordenadora, o Ministério da Saúde tem investido, nos últimos anos,
para instituir uma mudança no modelo de atenção ao parto de modo a melhorar e qualificar a assistência
obstétrica e neonatal no Brasil.
Nesse sentido, ela destaca a importância da presença das enfermeiras obstétricas ou obstetrizes na atenção
 às mulheres em partos de baixo risco, a reformulação dos centros de parto normal em ambientes mais
 acolhedores para as gestantes, além do respeito à privacidade e à liberdade da mulher no momento do parto.
Para a coordenadora do Ministério da Saúde, Esther Vilela, “não podemos desconsiderar a importância do trabalho de parto, do parto natural e do contato imediato entre mãe e bebê para a formação da saúde física, emocional e mental da criança, imediatamente e a longo prazo.” Foto: Arquivo pessoal.
Para a coordenadora do Ministério da Saúde, Esther Vilela, “não podemos desconsiderar a importância do trabalho de parto, do parto natural e do contato imediato entre mãe e bebê para a formação da saúde física, emocional e mental da criança, imediatamente e a longo prazo.” Foto: Divulgação – Gabinete Digital/PR.
Medidas
Uma das medidas anunciadas recentemente pelo Ministério da Saúde prevê que as usuárias de planos de
saúde tenham direito à informação sobre o percentual de partos normais e cesáreas realizados por médico,
 hospital e por operadora. Os planos de saúde terão prazo máximo de 15 dias para prestar as informações.
Para Esther Vilela, essa é uma medida fundamental para um processo de transparência e empoderamento
das mulheres em relação ao parto e ao nascimento. “A partir de agora elas vão poder saber melhor o que 
estão contratando”, afirma.
Além disso, os planos de saúde precisarão fornecer às mulheres o cartão da gestante; um registro de todo
 o pré-natal. De posse desse cartão, qualquer profissional de saúde tem conhecimento sobre a gestação
daquela mulher, facilitando o atendimento quando ela entrar em trabalho de parto.
Outra novidade é que os médicos e hospitais precisarão apresentar às operadoras de planos de saúde o
chamado partograma; registro gráfico da evolução do trabalho de parto. O objetivo da medida é reduzir
as cesarianas agendadas e ocorridas sem as mulheres entrarem em trabalho de parto. O documento será
considerado parte integrante do processo para pagamento do parto.
De acordo com a obstetra Renata Reis, é por meio desse registro gráfico que o profissional consegue avaliar
se aquele trabalho de parto evolui de maneira satisfatória. “Se não existir trabalho de parto, evidentemente 
não há partograma”, destaca.
A realização de um parto humanizado inclui um acompanhamento antes, durante e no pós-parto. Na foto, mulheres praticam ioga como preparação física e mental para o nascimento dos filhos. Foto: Divulgação - Gabinete Digital/PR.
A realização de um parto humanizado inclui um acompanhamento antes, durante e no pós-parto. Na foto, mulheres praticam ioga como preparação física e mental para o nascimento dos filhos. Foto: Divulgação – Gabinete Digital/PR.
Humanização 
Para a educadora física, Carmen Palet, que trabalha como doula há 12 anos, o parto é um processo tão
 natural como a concepção, a gestação e a amamentação.
Nesse sentido, Carmen esclarece a diferença entre a função da doula e da parteira em um parto natural.
Segundo ela, o papel é prover a mulher de conforto e de apoio físico e psicológico, enquanto a técnica e o
trabalho clínico ficam por conta da enfermeira, do médico ou da parteira.
Nesse processo, ela destaca a criação de um vínculo de confiança entre a mãe e a doula consolidado antes,
 durante e depois do nascimento do bebê como o primeiro passo para o sucesso de um parto humanizado.
Ela ainda relata que nestes casos, as crianças são acolhidas de forma tranquila e respeitosa, que em muitos
casos, sequer choram.
Sobre o receio das mulheres em relação às dores do parto, Carmen enfatiza que há várias técnicas não
farmacológicas para alívio da dor, como massagens, água quente e mudanças de posições. Além disso,
ela destaca que há sempre um plano B para casos de complicações, que são sempre detectadas precocemente.
“Quando uma mulher consegue vivenciar seu próprio parto ela geralmente se sente muito completa 
e realizada. Dificilmente elas se arrependem. As coisas valorosas e importantes na vida não vêm 
de forma fácil. O filho, por ser uma conquista muito especial, vem dentro de um movimento de 
empenho e dedicação, onde o amor e a entrega dessa mulher só constrói e fortalece o vínculo entre 
mãe e filho”, conclui.

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