quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Criatividade ajuda a eliminar o desperdício e conquista alunos da rede pública


    • Quarta, 13 de janeiro de 2016, 18h41
    Melhores receitas da alimentação escolarEra sempre a mesma coisa: no prato das crianças do Centro de Educação Infantil Municipal Restinga, na cidade catarinense de Mafra, o quibebe sobrava. A receita, que tem como carro-chefe o purê de abóbora, definitivamente, não fazia sucesso. “Um dia, tinha sobrado muito, e eu não gosto de jogar comida fora. Pensei: ‘Não vou estragar’!”, conta Jucélia Alves Boneta, merendeira há 13 anos, que não se conformava com a recusa dos alunos. Daí, um novo prato: o nhoque de abóbora. “Elas adoraram, mas eu não disse que era de abóbora”, diz Jucélia, ao revelar o segredo do sucesso.
    A novidade foi tão bem aceita que, nos dias seguintes, os alunos só queriam o prato inventado pela “tia Ju”. Diretora e professores também aprovaram. Faltava a nutricionista do município, que levou a receita para a capacitação anual das merendeiras de Mafra e a testou com as outras profissionais. Resultado: aprovação com louvor. Desde então, cerca de três anos atrás, o nhoque de abóbora criado para não desperdiçar comida entrou no cardápio da merenda escolar da cidade. “Aqui, todo mundo gosta”, garante Jucélia.
    Quando surgiu a notícia do concurso Melhores Receitas da Alimentação Escolar, promovido pelo Ministério da Educação e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), os parceiros de trabalho incentivaram Jucélia a inscrever a receita do nhoque de abóbora, que agora está entre as 15 finalistas da competição nacional, que teve mais de duas mil candidatas. “Às vezes, eu nem acredito que é verdade, que estou classificada”, diz, como se lembrasse a si mesma.
    A merendeira Jucélia fez tanto sucesso entre alunos e professores da escola Restinga, que seu nhoque de abóbora foi adotado nas outras escolas de Mafra (Foto: Divulgação) Jucélia conta que, antes de chegar à escola, não tinha muito talento para a cozinha. “Eu era boa em queimar feijão”, diz, entre risos. “Na verdade, aprendi a cozinhar no colégio; adoro trabalhar ali, é a minha segunda casa. Amo o que eu faço.”
    Evolução — Dos 13 anos de experiência na merenda escolar, uma década no CEIM Restinga, ela conta que viu a alimentação servida nas escolas evoluir nesse período. Segundo Jucélia, o acompanhamento de nutricionistas sempre existiu, mas hoje é cada vez mais próximo e lúdico. Além de passar o cardápio do que deve ser servido na escola, os profissionais de nutrição do município promovem ao menos uma formação por ano, durante as férias de julho, para todas as merendeiras de Mafra. Uma ação realizada na própria escola foi o teatrinho. Com uma adaptação da clássica história de Chapeuzinho Vermelho, em que a merendeira atuou como a mãe da menina, as crianças foram incentivadas não apenas a comer, mas a comer bem, com legumes e verduras.
    Além disso, e essa é a grande diferença na opinião de Jucélia, parte dos alimentos é comprada dos agricultores locais, o que garante mais qualidade. “As verduras que a gente recebia antes vinham do mercado, chegavam amassadas, velhas”, diz. “Agora, elas vêm da agricultura familiar, os próprios agricultores vêm deixar na escola. Eles cortam de manhã e já trazem tudo fresquinho.”
    A Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, determina que o mínimo de 30% do valor repassado a estados, municípios e Distrito Federal para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) seja usado na compra de alimentos vindos diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural, bem como suas organizações. Têm prioridade os assentamentos da reforma agrária, comunidades tradicionais indígenas e quilombolas.
    Assim, com orientação nutricional e alimentos de qualidade, inventar receitas e deixar saborosas as quatro refeições servidas diariamente aos pequenos de 2 a 6 anos da CEIM Restinga fica mais fácil, garante Jucélia. “Quando a gente vê o pratinho deles limpo, eles dizendo: ‘Tia Ju, sua comida estava muito gostosa’, não tem dinheiro que pague”, diz a merendeira. Para ela, que nem acreditava que pudesse ir tão longe, o concurso é só mais um incentivo para continuar aperfeiçoando o trabalho. “Num primeiro momento, eu fiquei meio assim: será que vai dar certo? Mas se chegamos até aqui, vamos botar pra quebrar”, afirma.  
    A receita de  nhoque de abóbora de Jucélia Boneta pode ser conferida na página do prêmio na internet.
    Assessoria de Comunicação Social

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