terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Indústrias de lingerie e agricultores de Nova Friburgo superam tragédia de 2011

Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Cinco anos após a tragédia na região serrana do Rio de Janeiro, o setor de moda íntima da cidade de Nova Friburgo, uma das mais afetadas, dá sinais de que conseguiu se recuperar. Empresários relatam que tiveram de mudar o modelo de negócio e buscar clientes fora do município para se reerguer depois da enchente e dos deslizamentos de terra que destruíram prédios, casas, fábricas e deixaram mais de 900 mortos na região.
A Feira de Moda Íntima, Praia, Fitness e Matéria-Prima (Fevest), considerada a mais importante de lingerie do Brasil, mostra a superação das confecções de Nova Friburgo. No ano passado, as vendas das empresas do polo da cidade movimentaram R$ 53 milhões, acima da previsão inicial de R$ 50 milhões. A edição de 2015 do evento recebeu mais de 9,7 mil visitantes e compradores de 21 estados e de países como os Estados Unidos, a Itália, Portugal, a Suíça, o Chile, a Colômbia e as Bahamas. A próxima edição está programada para julho deste ano.
“Não posso dizer que o polo se restabeleceu completamente, porque teve empresas que perderam tudo e não conseguiram se reerguer. Outras empresas perderam tudo, começaram do zero e hoje são um sucesso como antes”, disse a secretária executiva do Sindicato das Indústrias de Vestuário de Nova Friburgo e Região (Sindvest), Isabela Sancho. A entidade representa cerca de 1.480 empresas, a maioria de micro e pequeno porte.
Alternativas
O empresário e ex-presidente do Conselho de Moda do polo Paulo Chelles diz que algumas alternativas foram encontradas para superar os impactos da tragédia. A saída para sua empresa, a De Chelles, foi abrir lojas em outras cidades turísticas do estado, como Cabo Frio, na Região dos Lagos, e ampliar as exportações destinadas aos mercados dos Estados Unidos, de alguns países da Europa, África e para quase toda a América do Sul.
“O sonho é exportar para o Japão”, disse Paulo Chelles. Ele lembra, no entanto, que as pequenas indústrias perderam equipamentos, o prédio onde funcionavam e funcionários. “Essas pessoas não se mantiveram no mercado em consequência do desastre que sofreram”.
Em relação à recuperação da cidade, Chelles diz que “tem muita coisa por fazer”. Para ele, houve uma “maquiagem” no centro do município, enquanto outras áreas em que prédios inteiros desabaram continuam da mesma forma, trazendo uma lembrança triste para quem perdeu um ente na tragédia. “A lembrança é muito ruim”, disse.
A Lucitex Lingerie, de médio porte, colocou o foco nos grandes compradores (as redes de magazines). Com isso, pôde manter os 300 funcionários. “Acho que a gente tem que correr atrás do nosso mercado. Quem, depois da tragédia, continuou esperando que os compradores viessem até Nova Friburgo, está com mais dificuldade de conseguir se manter”, avaliou a diretora da empresa, Nelci Layola.
A diretora conta que a maior parte das vendas é para fora do município. “O que fizemos foi isso. A gente não se prostrou diante do que tinha ocorrido, nem das perdas que tivemos. A gente começou a procurar mais mercados e expansão, e conseguiu ter uma história diferente”.
Crise
Depois da tragédia, o setor enfrenta agora a atual crise econômica. A sócia-gerente da Tardene Lingerie, Rita Tardin, diz que a queixa geral é a queda das vendas. Ela destaca que lingerie não é um gênero de primeira necessidade e embora o polo tenha venha experimentando expansão, sofreu com a concorrência dos produtos da China. “Com a alta do dólar, a gente percebe que o olhar se voltou para o produto interno. Mas aí, veio a crise. A grande queixa é a falta de vendas”.
“Não estão deixando totalmente de comprar, mas reduziram entre 50% e 60% as compras. A queda foi muito grande”, conta a empresária. Para Rita Tardin, as grandes e médias empresas que vendem para os magazines sentem menos os efeitos da crise, ao contrário de pequenas indústrias, como a dela.
Agricultura
O setor agrícola também teve recuperação após a tragédia. A produção atual é maior do que a de 2011, segundo o secretário estadual de Agricultura, Christino Áureo. De acordo com ele, até 2014, o setor vinha crescendo a uma média entre 4% e 5% ao ano, em termos de valor e volume de produção. “É muito bom para uma região que sofreu um trauma como esse”. Os dados referentes a 2015 não estão fechados.
Foram afetados os municípios de Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto e Bom Jardim, além de Areal, no centro-sul do estado. “O que foi feito [na região] recuperou com sobra a questão produtiva. O que foi feito lá, mais o esforço dos produtores, fizeram a produção da região conseguir se reestruturar e até crescer no período”, disse o secretário.
Dentro do Programa Rio Rural Emergencial, com recursos não reembolsáveis do Banco Mundial (Bird) de R$ 14 milhões, foram atendidos 1.895 pequenos produtores de 124 comunidades rurais. Os recursos foram usados para a cessão de equipamentos de irrigação, microtratores, mudas, sementes e estufas. 
Com o Programa Estradas da Produção, foram recuperadas as estradas vicinais em áreas de plantio. Desde a tragédia, 1.213 quilômetros de estradas vicinais foram recuperadas, beneficiando 13.479 pequenos produtores e a restauração de 1.677 hectares produtivos. De acordo com o secretário, R$ 4,5 milhões serão investidos para pavimentação das estradas, com serviços de drenagem e colocação de revestimento. Os recurso são provenientes do Bird e repassados pelo Programa Rio Rural.
“A gente viu a região se recuperar de maneira muito significativa, fora outras ações”, disse.
Outra medida foi crédito emergencial concedido pelo governo federal, via Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), no valor de R$ 4,3 milhões, para mais de 2 mil produtores. 
A Associação dos Agricultores Familiares Produtores de Morango de Nova Friburgo (Amorango) foi uma das entidades atendidas pelo Programa Rio Rural, da Secretaria de Estado de Agricultura. O produtor Dacir da Silveira Condack ressaltou que “o agricultor é uma classe que só pode parar [de trabalhar] se morrer. Muita gente perdeu tudo, mas a gente tem que tentar se reerguer de todas as formas”.
 “A gente precisa de capital de giro. Se não tivesse uma ajuda financeira como tivemos, ficaria difícil”, argumentou. Atualmente, em Nova Friburgo, existem cerca de 70 produtores de morango.
Para o agricultor João Gallo, coordenador técnico de produção da Associação Agroecológica de Teresópolis, além da ajuda financeira, os pequenos produtores conseguiram se recuperar da catástrofe “trabalhando muito”. A associação reúne 50 pequenos agricultores de Teresópolis, Sumidouro, São José do Rio Preto, Guapimirim e Sapucaia, com foco na produção de hortaliças orgânicas.
Duas vezes por semana, a associação promove a feira agroecológica em Teresópolis. Alguns associados participam das feiras do Circuito Carioca, que ocorre na capital fluminense, e vendem hortaliças também para outros municípios do estado. 
Edição: Carolina Pimentel

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