O número de domicílios com carros no Brasil quase dobrou nas duas últimas décadas. Saltou de 23% para 40% do total de moradias, ou seja, de cada mil residências, 400 têm um ou mais veículos nas garagens, de acordo com estatísticas tabuladas pelo Estadão Dados com base no último Censo.
Cleide Silva
Cleide Silva

As áreas rurais e cidades menores são as que mais devem ampliar o volume de carros em circulação, acrescenta o consultor sênior da A.T. Kearney, David Wong. Em metrópoles como São Paulo, a paridade habitantes/veículo já se aproxima dos índices americano e europeu.
Letícia ressalta que, nos países desenvolvidos, há hoje maior consciência ambiental, principalmente na Europa. Além disso, a qualidade do transporte público e o surgimento de alternativas de transporte (como o compartilhamento) fazem com que algumas pessoas prefiram não ter carros.
Nos EUA, há também outro fenômeno, lembra Wong. "Jovens de 18 a 35 anos estão menos dispostos a ter automóveis." O país é o segundo maior mercado mundial de veículos – cerca de 15 milhões de unidades ao ano –, atrás da China, que ocupa o topo desse ranking nos últimos cinco anos. A crise de 2008 também levou a uma postergação de compra nos EUA.
Wong concorda que, para o brasileiro, ter carro "é uma demonstração social, é uma questão de status", somado aos significativos problemas no transporte urbano. Na semana passada, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pediu ao governo federal R$ 10,8 bilhões para expansão do metrô e construção de dois corredores de ônibus. O prefeito Fernando Haddad, por sua vez, solicitou R$ 6,5 bilhões para corredores de ônibus.
Inimigo
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, acredita que o número de domicílios com carros deve dobrar nas próximas décadas no Brasil. Além de EUA e Europa, ele cita que a vizinha Argentina tem 3,7 habitantes por veículo.
Ele diz que o transporte coletivo "não é nosso inimigo, ao contrário, os associados da Anfavea também produzem ônibus e defendemos a integração entre as várias modalidade de transporte". O que não é correto, na visão do executivo, "é impedir as pessoas de ter carro".
Em 1995, o País tinha 9,7 habitantes por veículo, paridade que está em 5,5, segundo o último estudo sobre a frota brasileira publicado pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças).
A frota atual em circulação no País é de cerca de 38 milhões de veículos, descontada a "taxa de mortalidade" – veículos que deixam de circular por vários motivos, como acidente com perda total e desmanche. Há 20 anos, a frota era de 15 milhões, incluindo caminhões e ônibus.
O brasileiro passou a ter mais acesso ao carro novo a partir das duas últimas décadas com a melhora da renda, queda no desemprego e expansão do crédito. Em 1990, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita no Brasil era de US$ 5,3 mil. Em 2010, estava em US$ 11,2 mil. Em igual período, a população aumentou de 147,6 milhões para 190,7 milhões, segundo o Censo.
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