Poder, Geopolítica e Desenvolvimento

José Luís Fiori
Barack Obama e Xi Jinping
“Em última instancia, os processos de desenvolvimento econômico também são lutas de dominação”Max Weber, Escritos Politicos
ii. Num segundo grupo, situam-se os países que questionam a hierarquia internacional e adotam estratégias de mudança do status quo e de crescimento acelerado, com o objetivo de mudar sua participação nadistribuição internacional do poder e da riqueza. São projetos nacionais que podem ser bloqueados, e podem não conseguir superar as “barreiras à entrada” do “núcleo central”, impostas pelas grandes potências. Mas que também podem ter sucesso e dar origem a uma nova potência regional ou global, como foi o caso dos EUA, na primeira metade do século XX, e da China, neste início do XXI.
Na outra ponta do sistema, o pequeno grupo das grandes potencias “ganhadoras” também é hierarquizado e reproduz internamente – num outro patamar de poder — a mesma dinâmica competitiva de todo este universo. Mas mesmo assim, é possível identificar duas grandes regularidades na sua trajetória “vitoriosa”:
1º. Todos enfrentaram, em algum momento, invasões externas, guerras civis ou rebeliões sociais, e estes acontecimentos contribuíram, de uma forma ou outra, para o fortalecimento de suas identidades nacionais e para a mobilização de suas sociedades em torno de grandes projetos de defesa e/ou de projeção internacional. Por estarem situados dentro de tabuleiros geopolíticos altamente competitivos, estes países também compartiram um sentimento constante de “cerco” e de ameaça externa, que explica a centralidade dos seus sistemas de defesa na definição de suas politicas de desenvolvimento e industrialização, e sua permanente preocupação com a conquista e o controle monopólico das “tecnologias sensíveis” que foram decisivas para o seu sucesso de toda a sua economia nacional.
2º. Todos seus estados e seus grandes capitais privados “desrespeitaram” sistematicamente as regras e instituições competitivas de mercado que devem ser obedecidas obrigatoriamente pelos que estão situados nos degraus inferiores do sistema. Neste ponto, pode-se formular uma lei quase universal: quem liderou a expansão vitoriosa do capitalismo foram sempre os estados e os capitais que souberam navegar com sucesso na contramão das “leis do mercado”, ou seja, os “grandes predadores” que conseguem manter e renovar permanentemente o seu controle monopólico das “inovações”, e dos “lucros extraordinários”.
Este caminho dos “ganhadores” está aberto para todos os países? Não, porque a energia que move este sistema vem exatamente desta luta contínua, entre estados, economias nacionais e capitais privados, pela conquista de posições e de monopólios que são desiguais, por definição. Mesmo assim, alguns estados podem modificar sua posição relativa dentro deste sistema, dependendo do seu território, dos seus recursos e da sua coesão social. E da existência de uma elite política capaz de assumir as grandes pressões sociais e o aumento dos desafios e provocações externas, como sinal de amadurecimento de um país que já está preparado para sustentar uma estratégia de longo prazo, de questionamento do status quo internacional, e de desenvolvimento com mobilidade social generalizada.
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